Imagem: TingTing Huang
Just wish.
Você disse que podia consertar. Eu confiei em você.
Mas eu ainda tenho dificuldade em escolher entre esquerda e direita.
Eu acordo todos os dias e calço os chinelos na mesma ordem. Eu como a mesma coisa no mesmo lugar.
Eu tranco as portas duas vezes.
Você disse que consertaria,
mas eu ainda não consigo dizer não.
Disse que consertaria, mas a cada mês que passa eu revivo todo o pânico e a dor de conviver comigo mesma.
Era só pedir, mas eu pedi e continuo indo e vindo nos momentos mais inoportunos.
Eu estou me afastando das pessoas. E me aproximando e sufocando e fugindo e
Estou perdendo o controle.
Você disse que podia consertar,
ao invés disso, adquiri um pavor doentio de atrasos.
Eu não consigo me consertar sozinha de novo.
Você disse que podia consertar.
Então conserte.
25x03 Fix Me
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25x02 Wonderland (An Interlude)
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Imagem: TingTing Huang
Penumbra, cheiro de chuva, meu cabelo molhado causa arrepios. Me enrolo nas cobertas com Gainsbourg passando na tela do computador, magra e pálida.
Você dorme na sua casa e a ansiedade quase me corrói os ossos. Ela tem feito muito isso ultimamente.
Aí já é tarde, seu cheiro ainda é seu cheiro, sua voz ainda é sua.
Meço e peso a quantidade de você que perdi, que vou perder, que estou perdendo.
Não quero te assustar, não pense nada. É só que senti falta do calor, dos dentes. Senti falta dos seus olhos, da sua pele.
Não sei mais quem eu sou. Andei aflita e perdida. Preciso de ajuda. Preciso de solidez.
Você me ouve, me traz de volta e eu me esqueço de onde estive antes.
E eu confio em você. Não me lembro da ansiedade, do peso. Eu confio em você, te dou minhas palavras - o que tenho de mais precioso, de meu, de eu - gota a gota.
E você entende, me mostra, me impede de ir embora, de derreter, com todas as suas armas e subterfúgios.
The XX toca alto e eu digo a mim mesma, eu ordeno a mim mesma pra ficar com você "I can't give it up", mas eu vou ruindo aos pouquinhos, derretendo, sem saber o que fazer.
Eu amo aqui, amo agora.
É lindo, poético.
Eu só preciso ser forte.
Penumbra, cheiro de chuva, meu cabelo molhado causa arrepios. Me enrolo nas cobertas com Gainsbourg passando na tela do computador, magra e pálida.
Você dorme na sua casa e a ansiedade quase me corrói os ossos. Ela tem feito muito isso ultimamente.
Aí já é tarde, seu cheiro ainda é seu cheiro, sua voz ainda é sua.
Meço e peso a quantidade de você que perdi, que vou perder, que estou perdendo.
Não quero te assustar, não pense nada. É só que senti falta do calor, dos dentes. Senti falta dos seus olhos, da sua pele.
Não sei mais quem eu sou. Andei aflita e perdida. Preciso de ajuda. Preciso de solidez.
Você me ouve, me traz de volta e eu me esqueço de onde estive antes.
E eu confio em você. Não me lembro da ansiedade, do peso. Eu confio em você, te dou minhas palavras - o que tenho de mais precioso, de meu, de eu - gota a gota.
E você entende, me mostra, me impede de ir embora, de derreter, com todas as suas armas e subterfúgios.
The XX toca alto e eu digo a mim mesma, eu ordeno a mim mesma pra ficar com você "I can't give it up", mas eu vou ruindo aos pouquinhos, derretendo, sem saber o que fazer.
Eu amo aqui, amo agora.
É lindo, poético.
Eu só preciso ser forte.
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25x01 Cuckoo
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A menina é a mãe da mulher.
Fico de joelhos, rosto à altura do rosto dela: conversamos.
- Ele não vem.
- Não, eu disse, você não sabe do que está falando. Ele sempre vem.
- Sempre vem, em seu cavalo, salvar a donzela de si mesma, como nos velhos tempos... Você nunca cresce?
Engraçado ouvir isso dessa criaturinha miúda e morena, de cabelos enrolados de molinha, com a cara mais séria do mundo. Engraçado e triste também.
- Não é assim. Eu não preciso ser salva. -digo.
- De que é que você precisa?
Eu sei o que ela está tentando fazer. Não vou cair dessa vez.
- Não é sobre isso.
- Eu fiz uma pergunta. De que você precisa? - Ela passa a mão no meu rosto e pergunta, de novo. - Me diga. É alguma coisa que eu não posso te dar? Você tem tudo o que precisa. Por que esperar mais? Por que insistir? Temos os lugares que você quer, os heróis, romance, pessoas, histórias...
- Mas nada disso é real, B.! Eu não quero mais isso, quero me sentir viva. Ver coisas, falar com as pessoas. Quero viver fora de mim.
Ela arregala os olhões de jabuticaba e sinto que está prestes a chorar.
- Você quer que eu morra.
- Se for preciso.
O interfone toca.
- É ele - digo, sem necessidade, me levantando para sair.
- Ele pode ter vindo hoje. Talvez venha amanhã e depois e depois. Mas, um dia, ele não virá mais. E eu virei. Você não é nada sem mim. Eu não sou nada sem você. Você pode negar, agora. Mas eu sei. Você sabe.
Destranco a porta.
- Por favor, não esteja aqui quando eu voltar.
Ouço-a soluçar um pouco, um soluço estranho, bem típico de mim até hoje.
- As you wish,
A menina é a mãe da mulher.
Fico de joelhos, rosto à altura do rosto dela: conversamos.
- Ele não vem.
- Não, eu disse, você não sabe do que está falando. Ele sempre vem.
- Sempre vem, em seu cavalo, salvar a donzela de si mesma, como nos velhos tempos... Você nunca cresce?
Engraçado ouvir isso dessa criaturinha miúda e morena, de cabelos enrolados de molinha, com a cara mais séria do mundo. Engraçado e triste também.
- Não é assim. Eu não preciso ser salva. -digo.
- De que é que você precisa?
Eu sei o que ela está tentando fazer. Não vou cair dessa vez.
- Não é sobre isso.
- Eu fiz uma pergunta. De que você precisa? - Ela passa a mão no meu rosto e pergunta, de novo. - Me diga. É alguma coisa que eu não posso te dar? Você tem tudo o que precisa. Por que esperar mais? Por que insistir? Temos os lugares que você quer, os heróis, romance, pessoas, histórias...
- Mas nada disso é real, B.! Eu não quero mais isso, quero me sentir viva. Ver coisas, falar com as pessoas. Quero viver fora de mim.
Ela arregala os olhões de jabuticaba e sinto que está prestes a chorar.
- Você quer que eu morra.
- Se for preciso.
O interfone toca.
- É ele - digo, sem necessidade, me levantando para sair.
- Ele pode ter vindo hoje. Talvez venha amanhã e depois e depois. Mas, um dia, ele não virá mais. E eu virei. Você não é nada sem mim. Eu não sou nada sem você. Você pode negar, agora. Mas eu sei. Você sabe.
Destranco a porta.
- Por favor, não esteja aqui quando eu voltar.
Ouço-a soluçar um pouco, um soluço estranho, bem típico de mim até hoje.
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24x21 Coward Lion and Doctor Oz (Season Finale)
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- O que posso fazer por você dessa vez?
- Não quero sentir.
Não quero saber como é. Leve tudo embora. Abra um buraco, um espaço em branco, queime as pontes. Eu quero a saída mais fácil.
Quero acordar um dia, sedenta, e beber água direto da torneira. Quero voltar para a cama, em silêncio, e sufocar no meu próprio espaço.
Quero procurar registros de mim e não encontrar. Quero espaços vazios no meu guarda-roupa, que eu possa encher de memórias inofensivas.
Eu quero me descobrir acordada na cama, apertando as mãos com força, até que as articulações fiquem brancas. Quero acordar de manhã e saber que vou terminar o dia do mesmo jeito que comecei.
E que o dia seguinte não trará surpresas. Nem o outro, depois dele.
Quero me sentir sozinha, presa e embotada.
Quero sangrar sozinha e curar meus cortes sem ajuda.
Quero a estabilidade e a segurança de nunca ser boa o bastante.
É o que eu quero.
- Quem é você agora? Há alguns anos, você veio até mim. Queria cores, sentir o gosto das ameixas, medo de sangue. Você queria sorrir de verdade, raciocinar e gostar. Você conseguiu?
- Muito mais do que eu pude aguentar, mais do que eu sonhei que poderia conseguir.
- E foi tão ruim assim?
- Não. Não. Foi lindo. Incrível. Eu vi os lugares onde a pele muda de tom, senti cheiro de tapete, eu senti o gosto dos morangos. Eu caminhei pelas ruas e o vento cortou meus braços. Eu ri. Meu coração bateu tão rápido que senti que meu corpo todo batia.
- E então? Por que deixar isso? Por que voltar a não sentir? Você não gosta mais? Você se machucou muito?
- Muito. Incontáveis vezes. Mas sobrevivi. Sentir foi incrível. É incrível. É poesia pura e viva. Mas eu não quero mais. Se eu me machuquei, tudo bem, eu sobrevivi.
Mas eu não quero mais machucar ninguém. Não quero mais tomar decisões, pensar obsessivamente, nem gostar do meu jeito torto. Não me deixe mais machucar ninguém.
Você pode fazer isso?
É o que eu quero.
Eu acho.
- O que posso fazer por você dessa vez?
- Não quero sentir.
Não quero saber como é. Leve tudo embora. Abra um buraco, um espaço em branco, queime as pontes. Eu quero a saída mais fácil.
Quero acordar um dia, sedenta, e beber água direto da torneira. Quero voltar para a cama, em silêncio, e sufocar no meu próprio espaço.
Quero procurar registros de mim e não encontrar. Quero espaços vazios no meu guarda-roupa, que eu possa encher de memórias inofensivas.
Eu quero me descobrir acordada na cama, apertando as mãos com força, até que as articulações fiquem brancas. Quero acordar de manhã e saber que vou terminar o dia do mesmo jeito que comecei.
E que o dia seguinte não trará surpresas. Nem o outro, depois dele.
Quero me sentir sozinha, presa e embotada.
Quero sangrar sozinha e curar meus cortes sem ajuda.
Quero a estabilidade e a segurança de nunca ser boa o bastante.
É o que eu quero.
- Quem é você agora? Há alguns anos, você veio até mim. Queria cores, sentir o gosto das ameixas, medo de sangue. Você queria sorrir de verdade, raciocinar e gostar. Você conseguiu?
- Muito mais do que eu pude aguentar, mais do que eu sonhei que poderia conseguir.
- E foi tão ruim assim?
- Não. Não. Foi lindo. Incrível. Eu vi os lugares onde a pele muda de tom, senti cheiro de tapete, eu senti o gosto dos morangos. Eu caminhei pelas ruas e o vento cortou meus braços. Eu ri. Meu coração bateu tão rápido que senti que meu corpo todo batia.
- E então? Por que deixar isso? Por que voltar a não sentir? Você não gosta mais? Você se machucou muito?
- Muito. Incontáveis vezes. Mas sobrevivi. Sentir foi incrível. É incrível. É poesia pura e viva. Mas eu não quero mais. Se eu me machuquei, tudo bem, eu sobrevivi.
Mas eu não quero mais machucar ninguém. Não quero mais tomar decisões, pensar obsessivamente, nem gostar do meu jeito torto. Não me deixe mais machucar ninguém.
Você pode fazer isso?
É o que eu quero.
Eu acho.
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REDRUM
24x20 Atlas
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Imagem: TingTing Huang
Ossos fracos, achatados. Eu não sou a mesma.
Me olho no espelho, me vejo derreter um pouco a cada manhã.
Estou perdendo estabilidade.
Desenho números. Mãos, pés, pernas, braços, abdome.
Não funciona.
Continuo derretendo.
Deixei de ser sólida. Envelheço, me dissocio.
Às vezes, sinto que sou capaz de me sentir espalhar pelo vento, me misturar às partículas dos livros, das cadeiras, às roupas.
Estou me tornando algo. Desconhecido e conhecido, ao mesmo tempo.
Estou me tornando.
Não há nada que eu possa fazer pra parar.
Ossos fracos, achatados. Eu não sou a mesma.
Me olho no espelho, me vejo derreter um pouco a cada manhã.
Estou perdendo estabilidade.
Desenho números. Mãos, pés, pernas, braços, abdome.
Não funciona.
Continuo derretendo.
Deixei de ser sólida. Envelheço, me dissocio.
Às vezes, sinto que sou capaz de me sentir espalhar pelo vento, me misturar às partículas dos livros, das cadeiras, às roupas.
Estou me tornando algo. Desconhecido e conhecido, ao mesmo tempo.
Estou me tornando.
Não há nada que eu possa fazer pra parar.
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24x19 Damaged Goods
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Imagem: TingTing Huang
Nos conhecemos na fila.
Eu olhei pra ele, escondida pelas pernas enormes da minha Hulder.
- Oi - ele disse, e me olhou como se eu fosse alguém.
Não respondi.
- Também vieram trocar você.
Não era uma pergunta, mas acenei com a cabeça.
- Você fala?
- Não parece ter nada de errado com você, eu disse.
Ele sorriu.
- Não parece ter nada de errado com nenhum de nós. Está tudo aqui dentro. - ele apontou para a própria cabeça.
- O que acontece? Eles vão nos consertar?
- Não. Eles não consertam.
- E então? Vão nos jogar fora?
- Talvez. Ou, talvez, só nos coloquem em uma embalagem nova e mandem pra outro lugar. Você está com medo?
- Por que você está aqui? - mudei de assunto, com medo de estar com medo.
Ele não respondeu de imediato. Acho que ficou avaliando a pergunta, a mudança repentina de assunto, qualquer coisa do tipo.
- Um dia, eu te conto, quando a gente se encontrar de novo. Aí você me responde se teve medo ou não.
Tudo o que eu tenho é medo.
Você me contou, eu respondi.
Estamos quites.
Nos conhecemos na fila.
Eu olhei pra ele, escondida pelas pernas enormes da minha Hulder.
- Oi - ele disse, e me olhou como se eu fosse alguém.
Não respondi.
- Também vieram trocar você.
Não era uma pergunta, mas acenei com a cabeça.
- Você fala?
- Não parece ter nada de errado com você, eu disse.
Ele sorriu.
- Não parece ter nada de errado com nenhum de nós. Está tudo aqui dentro. - ele apontou para a própria cabeça.
- O que acontece? Eles vão nos consertar?
- Não. Eles não consertam.
- E então? Vão nos jogar fora?
- Talvez. Ou, talvez, só nos coloquem em uma embalagem nova e mandem pra outro lugar. Você está com medo?
- Por que você está aqui? - mudei de assunto, com medo de estar com medo.
Ele não respondeu de imediato. Acho que ficou avaliando a pergunta, a mudança repentina de assunto, qualquer coisa do tipo.
- Um dia, eu te conto, quando a gente se encontrar de novo. Aí você me responde se teve medo ou não.
Tudo o que eu tenho é medo.
Você me contou, eu respondi.
Estamos quites.
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24x18 Let it bleed
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Imagem: TingTing Huang
- Deixe sangrar - disse uma mulher, um dos fantasmas azuis, debruçando-se sobre o meu corpo.
- Por que deixar sangrar se eu posso fazer parar com um estalar de dedos? - disse o outro.
- Deixe sangrar, já disse.
Eu podia sentir meu corpo inchar feito um balão sendo enchido de água.
- Deixe-me abrí-la. - ele disse
- Espere.
- Ela está sangrando por dentro há bastante tempo. Deixe-me abrir.
- Ela vai sobreviver. Ela sempre sobrevive.
- Eu posso ajudar. Eu posso consertar. Posso drenar o sangue e curar os cortes. Posso fechar as feridas e ela nunca vai saber o que houve.
A mulher, o fantasma azul que, durante o diálogo havia estado debruçado sobre mim, se levantou de uma vez.
- Quem você pensa que é? Com seu conhecimento de corte e costura, de sangue e dor. Você acha que pode consertar tudo? Você não é o Deus de que ela precisa. Você não sabe de nada.
- Deus não existe.
Ela puxou-o pelos cabelos e empurrou o rosto dele de encontro ao meu,vulto azul cheirando a travesseiro.
Os olhos dele eram estranhamente sólidos, tão sólidos. Muros enormes.
- Eu posso ajudar, ele disse, eu sei que posso.
E eu tirei minha voz de algum lugar obscuro, juntei as sílabas aos poucos, com calma, e deixei que tudo escorregasse pra fora da goela:
- Deixe sangrar.
- Deixe sangrar - disse uma mulher, um dos fantasmas azuis, debruçando-se sobre o meu corpo.
- Por que deixar sangrar se eu posso fazer parar com um estalar de dedos? - disse o outro.
- Deixe sangrar, já disse.
Eu podia sentir meu corpo inchar feito um balão sendo enchido de água.
- Deixe-me abrí-la. - ele disse
- Espere.
- Ela está sangrando por dentro há bastante tempo. Deixe-me abrir.
- Ela vai sobreviver. Ela sempre sobrevive.
- Eu posso ajudar. Eu posso consertar. Posso drenar o sangue e curar os cortes. Posso fechar as feridas e ela nunca vai saber o que houve.
A mulher, o fantasma azul que, durante o diálogo havia estado debruçado sobre mim, se levantou de uma vez.
- Quem você pensa que é? Com seu conhecimento de corte e costura, de sangue e dor. Você acha que pode consertar tudo? Você não é o Deus de que ela precisa. Você não sabe de nada.
- Deus não existe.
Ela puxou-o pelos cabelos e empurrou o rosto dele de encontro ao meu,vulto azul cheirando a travesseiro.
Os olhos dele eram estranhamente sólidos, tão sólidos. Muros enormes.
- Eu posso ajudar, ele disse, eu sei que posso.
E eu tirei minha voz de algum lugar obscuro, juntei as sílabas aos poucos, com calma, e deixei que tudo escorregasse pra fora da goela:
- Deixe sangrar.
24x17 Defcon-1
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Ai não, ainda não aprendi a te dividir.
Abri a boca pra dizer:
Não vai, que eu não quero ficar só. Mas também não quero ir.
'Cê não tá vendo que eu quero ficar junto?
Cola aqui, cola em mim. Quer sair pra quê?
Vai pra onde? Vai com quem? Volta quando?
Por que?
Eu te levo, mesmo com esse tanto de coisa pra fazer.
Não, não tem problema.
Eu só quero ficar com você.
Você não quer ficar comigo? Não me ama mais?
Por que parece que você prefere ficar com qualquer outra pessoa a ficar comigo?
Deita aqui.
Fala comigo. Em que você está pensando?
Por que você não diz?
Quer me deixar? Vai me deixar?
E o que é que eu vou fazer sem você?
Vai sair?
Quer que eu te espere acordada?
Não quer que eu vá junto? Eu fico quietinha, prometo não atrapalhar.
Aí pensei melhor, fechei a boca e fui ler um livro, assisti um seriado, comi geleia, falei mal de você (várias vezes), fiz tutorial e a vida seguiu.
Tô aprendendo.
Um dia, você vai ver, vou só dizer "Então vai, mande lembranças minhas, e volte, só volte."
Ai não, ainda não aprendi a te dividir.
Abri a boca pra dizer:
Não vai, que eu não quero ficar só. Mas também não quero ir.
'Cê não tá vendo que eu quero ficar junto?
Cola aqui, cola em mim. Quer sair pra quê?
Vai pra onde? Vai com quem? Volta quando?
Por que?
Eu te levo, mesmo com esse tanto de coisa pra fazer.
Não, não tem problema.
Eu só quero ficar com você.
Você não quer ficar comigo? Não me ama mais?
Por que parece que você prefere ficar com qualquer outra pessoa a ficar comigo?
Deita aqui.
Fala comigo. Em que você está pensando?
Por que você não diz?
Quer me deixar? Vai me deixar?
E o que é que eu vou fazer sem você?
Vai sair?
Quer que eu te espere acordada?
Não quer que eu vá junto? Eu fico quietinha, prometo não atrapalhar.
Aí pensei melhor, fechei a boca e fui ler um livro, assisti um seriado, comi geleia, falei mal de você (várias vezes), fiz tutorial e a vida seguiu.
Tô aprendendo.
Um dia, você vai ver, vou só dizer "Então vai, mande lembranças minhas, e volte, só volte."
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24x16 Mansion Song
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Imagem: TingTing Huang
Fui criada pra não acreditar em promessas, não fomos todas?
Pra duvidar de Eu te amos, de palavras bonitas e de pessoas.
Esperava-se que eu crescesse sozinha, que aprendesse sozinha, que amasse sozinha e que nunca sentisse falta do que não conheci.
Mas eu senti falta, eu sinto.
Sinto falta daquele orgulho que Elizabeth sentia, daquele olhar do Mr. Darcy, inexpressivo.
Sinto falta de beijos na chuva sem guarda-chuva.
Sinto falta de ficar presa no elevador com a pessoa certa.
De esperar por um estranho com uma rosa dentro de um livro.
Sinto falta do momento em que Meg Ryan descobre que todo o temo tinha sido o Tom Hanks do outro lado da tela.
Sinto falta da vista de cima do Empire State, das vozes de desconhecidos no rádio, de me sentir conectada com alguém, sem saber quem.
Sinto falta de escrever cartas pra um estranho num passado próximo.
De dar passeios pela cidade com alguém que nunca conheci.
Sinto falta de desencontros e destino.
Sinto falta de declarações de amor explícitas e de que me queiram.
Sinto falta de lutas de espada e duelos.
De danças lentas e de olhares que dizem tudo.
Sinto falta do beijo que faz com que a mocinha levante a perna e da confissão de amor do vilão.
Eu tentei ser quem deveria, uma mulher independente do século XXI, mas não deu.
Gosto mesmo é do felizes pra sempre.
Desculpe, não pude evitar.
Fui criada pra não acreditar em promessas, não fomos todas?
Pra duvidar de Eu te amos, de palavras bonitas e de pessoas.
Esperava-se que eu crescesse sozinha, que aprendesse sozinha, que amasse sozinha e que nunca sentisse falta do que não conheci.
Mas eu senti falta, eu sinto.
Sinto falta daquele orgulho que Elizabeth sentia, daquele olhar do Mr. Darcy, inexpressivo.
Sinto falta de beijos na chuva sem guarda-chuva.
Sinto falta de ficar presa no elevador com a pessoa certa.
De esperar por um estranho com uma rosa dentro de um livro.
Sinto falta do momento em que Meg Ryan descobre que todo o temo tinha sido o Tom Hanks do outro lado da tela.
Sinto falta da vista de cima do Empire State, das vozes de desconhecidos no rádio, de me sentir conectada com alguém, sem saber quem.
Sinto falta de escrever cartas pra um estranho num passado próximo.
De dar passeios pela cidade com alguém que nunca conheci.
Sinto falta de desencontros e destino.
Sinto falta de declarações de amor explícitas e de que me queiram.
Sinto falta de lutas de espada e duelos.
De danças lentas e de olhares que dizem tudo.
Sinto falta do beijo que faz com que a mocinha levante a perna e da confissão de amor do vilão.
Eu tentei ser quem deveria, uma mulher independente do século XXI, mas não deu.
Gosto mesmo é do felizes pra sempre.
Desculpe, não pude evitar.
24X15 Beloved Deirdre
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Imagem: TingTing Huang
Quem está lá pra você, querida? Você se sente segura? O mundo é um lugar seguro?
Quem vai te amar quando você não se lembrar mais como é que se levanta dessa cadeira?
Ninguém vai amar sua loucura e decrepitude, as rugas e a degeneração, o murchar dos seus neurônios. Ninguém além de mim.
Quando o seu nome deixar de ser conhecido, quando só a morte souber seu verdadeiro nome, eu vou te reconhecer e te chamar pra conversar.
Quando sua boca secar e a vida se tornar insossa, quem vai te descrever o gosto das maçãs?
E quando o cansaço chegar, a fraqueza e o peso, quem vai te admirar por entre as grades da prisão do seu corpo?
Quem vai levar adiante a sujeira dos seus genes, quem vai velar pelo seu sangue e sua carne?
E quem vai te tocar mais forte até que você sinta, quem vai gritar seu nome no meio do dia?
Quem vai enxergar em você aquela que você foi? Quem vai saber sobre os seus cabelos rebeldes, sobre a firmeza da sua pele e a cor dos seus olhos por inteiro?
Quando a sua luz se apagar, quando você não souber mais quem é, quando não tiver mais nenhum interesse em ser, quando seu mundo se tornar mais real do que todos os outros.
Eu vou estar lá. Pode ir sem medo. Quando a hora chegar, estarei lá.
Não vou me atrasar.
Quem está lá pra você, querida? Você se sente segura? O mundo é um lugar seguro?
Quem vai te amar quando você não se lembrar mais como é que se levanta dessa cadeira?
Ninguém vai amar sua loucura e decrepitude, as rugas e a degeneração, o murchar dos seus neurônios. Ninguém além de mim.
Quando o seu nome deixar de ser conhecido, quando só a morte souber seu verdadeiro nome, eu vou te reconhecer e te chamar pra conversar.
Quando sua boca secar e a vida se tornar insossa, quem vai te descrever o gosto das maçãs?
E quando o cansaço chegar, a fraqueza e o peso, quem vai te admirar por entre as grades da prisão do seu corpo?
Quem vai levar adiante a sujeira dos seus genes, quem vai velar pelo seu sangue e sua carne?
E quem vai te tocar mais forte até que você sinta, quem vai gritar seu nome no meio do dia?
Quem vai enxergar em você aquela que você foi? Quem vai saber sobre os seus cabelos rebeldes, sobre a firmeza da sua pele e a cor dos seus olhos por inteiro?
Quando a sua luz se apagar, quando você não souber mais quem é, quando não tiver mais nenhum interesse em ser, quando seu mundo se tornar mais real do que todos os outros.
Eu vou estar lá. Pode ir sem medo. Quando a hora chegar, estarei lá.
Não vou me atrasar.
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24x14 Lost in Translation
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Imagem: TingTing Huang
- Eu preciso de ajuda.
Minha boca tem gosto de sono e leite, meu estômago está embrulhado e eu tenho medo de dormir e acordar do mesmo jeito.
Meu braço dói, eu também tô cansada, eu só preciso de mais tempo.
Eu só preciso do seu tempo.
Eu não tenho forças pra escrever números, pra sentir o roçar da caneta na pele da mão, pra me sujar de tinta, pro raciocínio familiar da colocação de números.
Eu estou me dissolvendo.
Tem uma mulher na janela em frente à minha. Ela está lá há horas, desde que me sentei aqui.
Ela é real?
Eu sou?
Eu peguei livros e eles não tinham cheiro. Tinham ordem, mas não tinham cheiro.
Eu não sei nada sobre memória.
O doce que comi não tinha gosto.
Não me lembro qual é o cheiro de cabelo queimado e nem sei como cheguei ao outro lado da rua.
Eu não te vi o dia inteiro e não me preocupei com isso.
Meu braço dói, mas não deveria.
O bebê tinha cabelos escuros e sua mãe era ruiva.
A mulher da triagem não devolveu meu cartão, os calcanhares de uma outra mulher tinham uma cor amarela. Sífilis é uma palavra estranha.
Por que não ouvem quando bato à porta?
O que eu fiz antes de dormir? Por que não vi razão pra me demorar? Por que hoje de manhã estava tudo bem, mas ontem não estava?
Fica comigo. Não me deixe dormir, por favor.
Fica comigo. Fica comigo. Fica comigo. Só alguns minutos, eu tô com medo, tanto medo. Eu preciso de você, preciso que você seja real.
Termino de falar, no meu próprio idioma, e você já dormiu, ou já quase dorme, e é tarde demais, eu já te perdi.
Agora sou só eu contra o que quer que seja.
- Boa noite, até amanhã :)
(Por favor, fique. Por favor, volte)
- Até.
- Eu preciso de ajuda.
Minha boca tem gosto de sono e leite, meu estômago está embrulhado e eu tenho medo de dormir e acordar do mesmo jeito.
Meu braço dói, eu também tô cansada, eu só preciso de mais tempo.
Eu só preciso do seu tempo.
Eu não tenho forças pra escrever números, pra sentir o roçar da caneta na pele da mão, pra me sujar de tinta, pro raciocínio familiar da colocação de números.
Eu estou me dissolvendo.
Tem uma mulher na janela em frente à minha. Ela está lá há horas, desde que me sentei aqui.
Ela é real?
Eu sou?
Eu peguei livros e eles não tinham cheiro. Tinham ordem, mas não tinham cheiro.
Eu não sei nada sobre memória.
O doce que comi não tinha gosto.
Não me lembro qual é o cheiro de cabelo queimado e nem sei como cheguei ao outro lado da rua.
Eu não te vi o dia inteiro e não me preocupei com isso.
Meu braço dói, mas não deveria.
O bebê tinha cabelos escuros e sua mãe era ruiva.
A mulher da triagem não devolveu meu cartão, os calcanhares de uma outra mulher tinham uma cor amarela. Sífilis é uma palavra estranha.
Por que não ouvem quando bato à porta?
O que eu fiz antes de dormir? Por que não vi razão pra me demorar? Por que hoje de manhã estava tudo bem, mas ontem não estava?
Fica comigo. Não me deixe dormir, por favor.
Fica comigo. Fica comigo. Fica comigo. Só alguns minutos, eu tô com medo, tanto medo. Eu preciso de você, preciso que você seja real.
Termino de falar, no meu próprio idioma, e você já dormiu, ou já quase dorme, e é tarde demais, eu já te perdi.
Agora sou só eu contra o que quer que seja.
- Boa noite, até amanhã :)
(Por favor, fique. Por favor, volte)
- Até.
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Ele me abraçou, sentado no banco do passageiro do meu carro, vindo de um futuro distante ou de um passado que nunca aconteceu.
Limpou minha boca, suja de sangue, meu próprio sangue, com as costas da mão.
- O que aconteceu?
Ele tocou meu rosto, tirando meus cabelos dos olhos.
Eu não me lembrava de ter chegado ali, de ter me ferido.
E ele não dizia nada, me abraçava enquanto eu tremia e me contorcia.
As lembranças chegaram em flashes curtos, luz e salas e pessoas e ele, seus olhos e dentes e mãos.
- Me diz o que tá acontecendo, por favor
E ele me contou.
Uma história sobre loucura, sobre devaneios e pesadelos, sonhos. Sobre números e uma vida que não era minha.
Sobre gritos e nomes, sobre ser chamado por um nome que não era o dele, sobre o chão xadrez de uma casa em que nunca vivi.
- Foi só um sonho, ok? Só um sonho.
Ele me ajudou a descer, a me limpar. Me fez o jantar.
Conversamos sobre amenidades, sobre casamento e sucessão. Sobre computadores e livros. Sobre o fato de que ele se recusava a comer o lado esquerdo do sanduíche primeiro, superstição ou costume.
- Sabe de uma coisa engraçada? Já ouviu falar sobre estereognosia?, eu disse, encarando a taça de vinho, como se, lá dentro, tivesse visto alguma coisa estranha.
Levantei os olhos e ele se dissolvia, a mesa, a sala, a sujeira nas minhas unhas.
Acordei e era hoje, o sangue todo dentro do corpo.
Sem saber se o hoje é hoje, se vai se dissolver assim que eu mencionar aquela outra realidade que talvez seja sonho.
Tô com medo de falar demais. Medo do que é real e do que não é.
Não me deixe acordar. Ou não me deixe dormir.
Eu não sei mais.
Ele me abraçou, sentado no banco do passageiro do meu carro, vindo de um futuro distante ou de um passado que nunca aconteceu.
Limpou minha boca, suja de sangue, meu próprio sangue, com as costas da mão.
- O que aconteceu?
Ele tocou meu rosto, tirando meus cabelos dos olhos.
Eu não me lembrava de ter chegado ali, de ter me ferido.
E ele não dizia nada, me abraçava enquanto eu tremia e me contorcia.
As lembranças chegaram em flashes curtos, luz e salas e pessoas e ele, seus olhos e dentes e mãos.
- Me diz o que tá acontecendo, por favor
E ele me contou.
Uma história sobre loucura, sobre devaneios e pesadelos, sonhos. Sobre números e uma vida que não era minha.
Sobre gritos e nomes, sobre ser chamado por um nome que não era o dele, sobre o chão xadrez de uma casa em que nunca vivi.
- Foi só um sonho, ok? Só um sonho.
Ele me ajudou a descer, a me limpar. Me fez o jantar.
Conversamos sobre amenidades, sobre casamento e sucessão. Sobre computadores e livros. Sobre o fato de que ele se recusava a comer o lado esquerdo do sanduíche primeiro, superstição ou costume.
- Sabe de uma coisa engraçada? Já ouviu falar sobre estereognosia?, eu disse, encarando a taça de vinho, como se, lá dentro, tivesse visto alguma coisa estranha.
Levantei os olhos e ele se dissolvia, a mesa, a sala, a sujeira nas minhas unhas.
Acordei e era hoje, o sangue todo dentro do corpo.
Sem saber se o hoje é hoje, se vai se dissolver assim que eu mencionar aquela outra realidade que talvez seja sonho.
Tô com medo de falar demais. Medo do que é real e do que não é.
Não me deixe acordar. Ou não me deixe dormir.
Eu não sei mais.
24x12 Blindness
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Se você não fosse um rosto, seria o cheiro da sua pele ou do seu perfume, da combinação única dos dois.
Ou. talvez, fosse o gosto de ptialina, água e mucina. O gosto que meus neurônios sentem.
Talvez fosse toque, dedos na pele, o contato das roupas e dos ossos. Aferências.
Talvez fosse luz e sombra. Som.
Uma voz, vibrações, ar, ossos e membranas.
Você entende, agora?
Não é só o seu rosto. É você inteiro, as interações das quais você é capaz.
E meus genes, meus neurônios.
Você me diz que não tenho coração, que não sou capaz de amar ninguém.
Mas, amor, eu te amo com meu cérebro. Minto, com meu sistema nervoso central. E periférico. E autônomo. Definitivamente.
Coração não tem nada a ver com isso.
Ou quase nada, pelo menos.
Se você não fosse um rosto, seria o cheiro da sua pele ou do seu perfume, da combinação única dos dois.
Ou. talvez, fosse o gosto de ptialina, água e mucina. O gosto que meus neurônios sentem.
Talvez fosse toque, dedos na pele, o contato das roupas e dos ossos. Aferências.
Talvez fosse luz e sombra. Som.
Uma voz, vibrações, ar, ossos e membranas.
Você entende, agora?
Não é só o seu rosto. É você inteiro, as interações das quais você é capaz.
E meus genes, meus neurônios.
Você me diz que não tenho coração, que não sou capaz de amar ninguém.
Mas, amor, eu te amo com meu cérebro. Minto, com meu sistema nervoso central. E periférico. E autônomo. Definitivamente.
Coração não tem nada a ver com isso.
Ou quase nada, pelo menos.
Early Cuts: Skinny Love
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Aviso: Baseei esse texto numa história antiga que ouvi, numa canção que não era o que parecia. Não se assuste. Não se ofenda, não confunda: Eu sempre fui o Sid.
Observo as coisas e as pessoas caminharem pra longe, correndo na direção contrária à nossa e me pergunto se sabem sobre nós, sobre nossa existência, sobre qualquer coisa. Me pergunto como é possível que possamos existir sem nunca nos cruzarmos de novo.
O motorista do táxi freia, um pouco bruscamente, e eu me agarro no cinto de segurança, cheia de medo.
Você nem parece notar, ocupado que está em roer as unhas e a carne em volta delas.
Estendo a mão pra te impedir de fazer isso, mas você se afasta e rói com mais fúria, como uma criança zangada faria.
Parece até um daqueles filmes em que as pessoas parecem estar em táxis diferentes, mas, quando a câmera se afasta, estão no mesmo carro.
(De repente, me pergunto como seria se eu estivesse te olhando pela janela. De repente, queria não te conhecer.
Eu quero de volta a primeira vez em que nos vimos, o seu sorriso galanteador e o jeito como desviávamos o olhar sempre que um pegava o outro olhando.
Eu quero de volta a primeira vez em que toquei seus lábios e a frieza do seu nariz contra a minha pele. Pra quê? Não sei, mas quero.)
O táxi chega em casa rápido demais. Quando o motorista se vira para entregar seu troco, os olhos dele se dirigem à minha manga rasgada, meus pulsos vermelhos, minha maquiagem borrada.
- Você está bem, moça?
Eu sinto vontade de tocar o rosto dele e agradecer por perguntar, por se importar, mas sinto sua ansiedade de maneira palpável.
Digo que sim, estou bem e sorrio. Ele me olha torto enquanto desço, mas não diz nada, vai embora.
Você pega a chave e tenta, sem sucesso, abrir a porta, suas mãos tremem.
Quando, finalmente, a porta se abre, você entra correndo e, então, para pra me observar trancar a porta. Subimos as escadas, em silêncio. Em casa, nenhum de nós fala, nenhum de nós se atreve a falar, cada um em um canto da sala.
Nós só estamos esperando a deixa, já sabemos o que vai acontecer, já vimos isso antes.
O abraço primeiro, depois os beijos delicados nos pulsos e você dirá "me desculpe, é que você me deixa louco". Vou olhar suas unhas roídas e seu rosto vermelho, "Como sou horrível... A maneira como faço dele um monstro".
Finjo que esqueço, você finge que esquece, fingimos.
E amanhã fica tudo bem.
Amanhã vivemos felizes pra sempre, desde que você não me deixe.
Aviso: Baseei esse texto numa história antiga que ouvi, numa canção que não era o que parecia. Não se assuste. Não se ofenda, não confunda: Eu sempre fui o Sid.
Observo as coisas e as pessoas caminharem pra longe, correndo na direção contrária à nossa e me pergunto se sabem sobre nós, sobre nossa existência, sobre qualquer coisa. Me pergunto como é possível que possamos existir sem nunca nos cruzarmos de novo.
O motorista do táxi freia, um pouco bruscamente, e eu me agarro no cinto de segurança, cheia de medo.
Você nem parece notar, ocupado que está em roer as unhas e a carne em volta delas.
Estendo a mão pra te impedir de fazer isso, mas você se afasta e rói com mais fúria, como uma criança zangada faria.
Parece até um daqueles filmes em que as pessoas parecem estar em táxis diferentes, mas, quando a câmera se afasta, estão no mesmo carro.
(De repente, me pergunto como seria se eu estivesse te olhando pela janela. De repente, queria não te conhecer.
Eu quero de volta a primeira vez em que nos vimos, o seu sorriso galanteador e o jeito como desviávamos o olhar sempre que um pegava o outro olhando.
Eu quero de volta a primeira vez em que toquei seus lábios e a frieza do seu nariz contra a minha pele. Pra quê? Não sei, mas quero.)
O táxi chega em casa rápido demais. Quando o motorista se vira para entregar seu troco, os olhos dele se dirigem à minha manga rasgada, meus pulsos vermelhos, minha maquiagem borrada.
- Você está bem, moça?
Eu sinto vontade de tocar o rosto dele e agradecer por perguntar, por se importar, mas sinto sua ansiedade de maneira palpável.
Digo que sim, estou bem e sorrio. Ele me olha torto enquanto desço, mas não diz nada, vai embora.
Você pega a chave e tenta, sem sucesso, abrir a porta, suas mãos tremem.
Quando, finalmente, a porta se abre, você entra correndo e, então, para pra me observar trancar a porta. Subimos as escadas, em silêncio. Em casa, nenhum de nós fala, nenhum de nós se atreve a falar, cada um em um canto da sala.
Nós só estamos esperando a deixa, já sabemos o que vai acontecer, já vimos isso antes.
O abraço primeiro, depois os beijos delicados nos pulsos e você dirá "me desculpe, é que você me deixa louco". Vou olhar suas unhas roídas e seu rosto vermelho, "Como sou horrível... A maneira como faço dele um monstro".
Finjo que esqueço, você finge que esquece, fingimos.
E amanhã fica tudo bem.
Amanhã vivemos felizes pra sempre, desde que você não me deixe.
24x11 Wings
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Imagem: TingTing Huang
- Só to com sono e vontade de dormir. E vontade de voar. Vai saber o que isso quer dizer.
Eu não sei se entendo. Entendo de gravidade, de asas cortadas e amarradas, asas de morcego frágeis e feridas.
Queria ser assim, Claire, fazer asas, te dar asas gigantescas, de penas brancas, pra você voar pra longe, bem longe. E voltar, se quiser.
Queria ser Dédalo, te fazer asas de cera e penas pra que você voasse pra longe desse labirinto, dessa torre. Mas fique longe do sol, por favor.
Se eu pudesse, te faria adormecer e te colaria asas gigantes de filhote de pássaro roca nas costas.
Voa, amor.
Mas volte e me conte histórias, se puder.
Se quiser.
- Só to com sono e vontade de dormir. E vontade de voar. Vai saber o que isso quer dizer.
Eu não sei se entendo. Entendo de gravidade, de asas cortadas e amarradas, asas de morcego frágeis e feridas.
Queria ser assim, Claire, fazer asas, te dar asas gigantescas, de penas brancas, pra você voar pra longe, bem longe. E voltar, se quiser.
Queria ser Dédalo, te fazer asas de cera e penas pra que você voasse pra longe desse labirinto, dessa torre. Mas fique longe do sol, por favor.
Se eu pudesse, te faria adormecer e te colaria asas gigantes de filhote de pássaro roca nas costas.
Voa, amor.
Mas volte e me conte histórias, se puder.
Se quiser.
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this guy I love
Early Cuts: Kika ainda vai voar
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Imagem: TingTing Huang
Sempre quis ser um pássaro. Não sei, talvez Kika, com todas aquelas ideias loucas, tenha me influenciado.
Eu gostaria de saber o que fui pra saber quem sou, mas tenho certeza de que não sou e nunca serei um pássaro com penas e ossos ocos. Luís me mostrou isso, segurou minha cintura, estendeu meus braços e me disse que, pra voar, eu teria que aprender a correr.
Eu voei. Caí. Lambi minhas feridas e estou pronta para recolher minhas asas de pele e unhas.
Estou à espera, juro que estou.
Mas elas se inquietam, me arrastam: minhas asas são puro instinto.
Eu as corto, amarro os cotos.
Estou à espera e gosto disso.
Sempre quis ser um pássaro. Não sei, talvez Kika, com todas aquelas ideias loucas, tenha me influenciado.
Eu gostaria de saber o que fui pra saber quem sou, mas tenho certeza de que não sou e nunca serei um pássaro com penas e ossos ocos. Luís me mostrou isso, segurou minha cintura, estendeu meus braços e me disse que, pra voar, eu teria que aprender a correr.
Eu voei. Caí. Lambi minhas feridas e estou pronta para recolher minhas asas de pele e unhas.
Estou à espera, juro que estou.
Mas elas se inquietam, me arrastam: minhas asas são puro instinto.
Eu as corto, amarro os cotos.
Estou à espera e gosto disso.
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books influence,
coldplay,
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muito pertinente,
wings
24x10 Politik
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Imagem: TingTing Huang
Ei, não tenha medo. Eu sou o melhor pra você.
Sei exatamente o que você quer, do que precisa. Vou cuidar de você.
Vou te dar comida, o que você quiser comer. Vou matar sua sede, vou te dar o futuro que você quer ter.
Quando você sentir medo, eu vou te proteger.
Estou dizendo a verdade, eu sou o único em quem você pode confiar.
Pode sair de casa sem olhar pros lados, pode não se preocupar com as pessoas que ama.
Fique no carro madrugada afora, chorando ou rindo ou embaçando os vidros com a sua respiração. Ninguém mais vai te fazer mal.
Se você se ferir, alguém vai cuidar de você, eu me encarrego de encontrar alguém que seja gentil, que saiba o que fazer,
Nunca vou deixar que nada falte pra você, nunca.
Acredite em mim, eu sei quem você é. Quero o melhor pra você, só quero que você seja feliz. Que realize todo o seu potencial.
Você entende o que eu estou dizendo?
É só confiar em mim e eu vou te dar tudo o que você quiser. Tudo o que você precisa.
Agora vá.
Não se esqueça de confirmar.
Eu estou contando com você.
Ei, não tenha medo. Eu sou o melhor pra você.
Sei exatamente o que você quer, do que precisa. Vou cuidar de você.
Vou te dar comida, o que você quiser comer. Vou matar sua sede, vou te dar o futuro que você quer ter.
Quando você sentir medo, eu vou te proteger.
Estou dizendo a verdade, eu sou o único em quem você pode confiar.
Pode sair de casa sem olhar pros lados, pode não se preocupar com as pessoas que ama.
Fique no carro madrugada afora, chorando ou rindo ou embaçando os vidros com a sua respiração. Ninguém mais vai te fazer mal.
Se você se ferir, alguém vai cuidar de você, eu me encarrego de encontrar alguém que seja gentil, que saiba o que fazer,
Nunca vou deixar que nada falte pra você, nunca.
Acredite em mim, eu sei quem você é. Quero o melhor pra você, só quero que você seja feliz. Que realize todo o seu potencial.
Você entende o que eu estou dizendo?
É só confiar em mim e eu vou te dar tudo o que você quiser. Tudo o que você precisa.
Agora vá.
Não se esqueça de confirmar.
Eu estou contando com você.
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Ellie Goulding,
feeling,
Hope,
insegurança,
life,
Mosca Azul
Early Cuts: The list
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Imagem: TingTing Huang
Coisas para fazer antes dos20 22
1. Conhecer alguém da internet pessoalmente. (17)
"Tocava Kings and Queens, 30 seconds to mars. Você usava sua blusa listrada, certo? E ficou apoiado no metal gelado do que quer que seja aquilo, divisória ou apoio, numa pose tão James Dean-like que até hoje acho que você ficou ensaiando aquilo antes de finalmente me avisar que tinha chegado".
2. Acabar com um amor platônico (21)
"E como é que se acaba com isso, quem é que acaba? Fui eu, com meus planos e teoremas, com minha tristeza, minha raiva, minha frustração? Foi a vida, o tempo? Foi você, sua frieza, seus sumiços? Foi ele, sua entrada repentina, seus livros do Neil Gaiman e sua playlist? Acabou, mas não sei de quem foi a culpa. Obrigada."
3. Passar 1 semana a base de sorvete e chocolate. (17)
"Fossa. Mas teve amendoim, bacon e ruffles. Muito salgadinho de churrasco. E MUITOS filmes com o Hugh Jackman"
4. Tomar banho de praia a noite.
Not yet.
5. Ter umpeixe cacto e conversar com ele.
Foi divertido. Mas eu regava demais :(
6. Viajar sozinho. (21)
Cento e poucos quilômetros contam? Porque então eu posso riscar essa. Acho que não, porque já viajei tanto de ônibus nessa vida, pra esse mesmo lugar. Mas viajar sozinha, de carro, tem seu valor. Ninguém nunca cantou "Hey Jude" tão alto dentro de um carro com os vidros fechados :D
7. Plantar uma árvore.
Not yet.
8. Publicar um livro.
Not YET. (Calma, Clarice, eu chego lá)
9. Ir à academia.
-.- Not gonna happen.
10. Ter um site. (14)
Dã.
11. Mandar flores.
Nunca mandei flores. Acho triste, mas acho lindo. Incrível. Eu recebi flores de uma amiga, durante um momento ruim. E achei lindo, incrível. Costumava pensar que era tolice, "como se flores resolvessem algo". Mas é o gesto. É lindo, é puro. Quero fazer isso por alguém.
12. Fazer terapia.
De verdade. Sentar e ouvir. Melhorar. Sem rebeldia, sem gritos, sem remédios. Sentar e ouvir. E falar a verdade, pra variar. Um dia, eu vou.
13. Ver um show da banda preferida.
Já perdi a Florence duas vezes, Não vai ter terceira.
14. Organizar uma festa a fantasia.
Ou uma festa, qualquer coisa. Tenho uma ambição secreta de ser uma dessas Martha Stewarts da vida. Um dia.
15. Ver o sol de pôr.
Quase. Cheguei atrasada demais.
16. Ver o sol nascer.
Isso sim me interessa. Eu queria muito só sentar e ver o sol nascer, me espreguiçar toda e pensar "Uau, ainda tenho um dia todo pela frente". Ainda não aconteceu. Ainda.
17. Ler todos os livros que tenho.
Tenho minhas dúvidas se vai acontecer algum dia. Mas tô tentando. Juro que tô. :x
18. Fazer um curso pela internet.
Fracasso total. Comecei um sobre contos de fadas, mas não deu em nada. Muitos livros pra ler. Vocês sabem quantas histórias dos irmãos grimm existem? ARGH.
19. Sair com os amigos para um lugar diferente.
Defina diferente. Eu vi Jesus tirar um pão da cueca. Que ele me ofereceu - e eu recusei, que fique bem claro. Judas tomou energético em uma garrafa em forma de pênis. E Maria Madalena estava usando um vestido de oncinha. E uma menina de braço quebrado dançava num palco.
Sério, defina diferente.
20. Aprender a tocar um instrumento.
Ukulele!Ukulele!
E gaita, pros momentos dramáticos.
21. Nadar nua.
Eca. Not gonna happen.
22. Acampar.
De verdade? Fora de casa? Sem energia elétrica?
Not gonna happen.
23. Jogar verdade ou desafio.
Por que adultos não fazem isso?? É simplesmente a brincadeira mais legal-anos90 da vida. E eu nunca brinquei EFETIVAMENTE disso. Falhei na vida.
24. Suba num palco.
Uau. Acho que existem pouquíssimas chances de que isso aconteça.
25. Fique com um amor de infância (16)
E nunca fale sobre isso.
(Não que tenha sido ruim, foi bonito, poético. E triste. Porque ele era meu amor de infância, e só eu sentia que aquilo era uma conclusão do que tinha sido, uma espécie de "Agora que sabemos como é, vamos seguir em frente")
26. Perceba que crença e religião são coisas distintas. (19)
Perceba que fé, às vezes, é suficiente.
27. Aprenda a fazer algo estranhamente exclusivo.
E o que é que a gente faz nessa vida que não é, de uma maneira ou de outra?
28. Comece um diário. (17)
E escreva todas as burrices que quiser, não seja profunda, nem se preocupe com quem vai ler. Escreva para você, no futuro. Pra rir ou pra chorar.
29. Preste vestibular (16)
30. E passe. (20)
Coisas para fazer antes dos
1. Conhecer alguém da internet pessoalmente. (17)
"Tocava Kings and Queens, 30 seconds to mars. Você usava sua blusa listrada, certo? E ficou apoiado no metal gelado do que quer que seja aquilo, divisória ou apoio, numa pose tão James Dean-like que até hoje acho que você ficou ensaiando aquilo antes de finalmente me avisar que tinha chegado".
2. Acabar com um amor platônico (21)
"E como é que se acaba com isso, quem é que acaba? Fui eu, com meus planos e teoremas, com minha tristeza, minha raiva, minha frustração? Foi a vida, o tempo? Foi você, sua frieza, seus sumiços? Foi ele, sua entrada repentina, seus livros do Neil Gaiman e sua playlist? Acabou, mas não sei de quem foi a culpa. Obrigada."
3. Passar 1 semana a base de sorvete e chocolate. (17)
"Fossa. Mas teve amendoim, bacon e ruffles. Muito salgadinho de churrasco. E MUITOS filmes com o Hugh Jackman"
4. Tomar banho de praia a noite.
Not yet.
5. Ter um
Foi divertido. Mas eu regava demais :(
6. Viajar sozinho. (21)
Cento e poucos quilômetros contam? Porque então eu posso riscar essa. Acho que não, porque já viajei tanto de ônibus nessa vida, pra esse mesmo lugar. Mas viajar sozinha, de carro, tem seu valor. Ninguém nunca cantou "Hey Jude" tão alto dentro de um carro com os vidros fechados :D
7. Plantar uma árvore.
Not yet.
8. Publicar um livro.
Not YET. (Calma, Clarice, eu chego lá)
9. Ir à academia.
-.- Not gonna happen.
10. Ter um site. (14)
Dã.
11. Mandar flores.
Nunca mandei flores. Acho triste, mas acho lindo. Incrível. Eu recebi flores de uma amiga, durante um momento ruim. E achei lindo, incrível. Costumava pensar que era tolice, "como se flores resolvessem algo". Mas é o gesto. É lindo, é puro. Quero fazer isso por alguém.
12. Fazer terapia.
De verdade. Sentar e ouvir. Melhorar. Sem rebeldia, sem gritos, sem remédios. Sentar e ouvir. E falar a verdade, pra variar. Um dia, eu vou.
13. Ver um show da banda preferida.
Já perdi a Florence duas vezes, Não vai ter terceira.
14. Organizar uma festa a fantasia.
Ou uma festa, qualquer coisa. Tenho uma ambição secreta de ser uma dessas Martha Stewarts da vida. Um dia.
15. Ver o sol de pôr.
Quase. Cheguei atrasada demais.
16. Ver o sol nascer.
Isso sim me interessa. Eu queria muito só sentar e ver o sol nascer, me espreguiçar toda e pensar "Uau, ainda tenho um dia todo pela frente". Ainda não aconteceu. Ainda.
17. Ler todos os livros que tenho.
Tenho minhas dúvidas se vai acontecer algum dia. Mas tô tentando. Juro que tô. :x
18. Fazer um curso pela internet.
Fracasso total. Comecei um sobre contos de fadas, mas não deu em nada. Muitos livros pra ler. Vocês sabem quantas histórias dos irmãos grimm existem? ARGH.
19. Sair com os amigos para um lugar diferente.
Defina diferente. Eu vi Jesus tirar um pão da cueca. Que ele me ofereceu - e eu recusei, que fique bem claro. Judas tomou energético em uma garrafa em forma de pênis. E Maria Madalena estava usando um vestido de oncinha. E uma menina de braço quebrado dançava num palco.
Sério, defina diferente.
20. Aprender a tocar um instrumento.
Ukulele!Ukulele!
E gaita, pros momentos dramáticos.
21. Nadar nua.
Eca. Not gonna happen.
22. Acampar.
De verdade? Fora de casa? Sem energia elétrica?
Not gonna happen.
23. Jogar verdade ou desafio.
Por que adultos não fazem isso?? É simplesmente a brincadeira mais legal-anos90 da vida. E eu nunca brinquei EFETIVAMENTE disso. Falhei na vida.
24. Suba num palco.
Uau. Acho que existem pouquíssimas chances de que isso aconteça.
25. Fique com um amor de infância (16)
E nunca fale sobre isso.
(Não que tenha sido ruim, foi bonito, poético. E triste. Porque ele era meu amor de infância, e só eu sentia que aquilo era uma conclusão do que tinha sido, uma espécie de "Agora que sabemos como é, vamos seguir em frente")
26. Perceba que crença e religião são coisas distintas. (19)
Perceba que fé, às vezes, é suficiente.
27. Aprenda a fazer algo estranhamente exclusivo.
E o que é que a gente faz nessa vida que não é, de uma maneira ou de outra?
28. Comece um diário. (17)
E escreva todas as burrices que quiser, não seja profunda, nem se preocupe com quem vai ler. Escreva para você, no futuro. Pra rir ou pra chorar.
29. Preste vestibular (16)
30. E passe. (20)
Early Cuts: M.A.P.
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Imagem: TingTing Huang
Um dia, a garota que nunca chorava quis vomitar suco de uva, falou em público
E chorou em público, sentada no corredor sujo de uma universidade estranha.
Chorou de medo, de dor, de vergonha.
Chorou tudo o que levava dentro de si, cada freio, cada susto, cada dor, toda a fúria, toda a vergonha, toda a frustração.
Tentou falar, mas ele não falava sua língua.
Não se entenderam, ele sussurrava e ela soluçava, nem abraços nem tristeza nos olhos conseguiram traduzir ou responder às perguntas.
Cada um foi pro seu lado, sem entender o outro, sem saber se estariam juntos na manhã seguinte.
Ela acordou sozinha, sem Deus, sufocada pelo silêncio dos próprios pensamentos.
Emudeceu.
E a solidão ao redor dela cresceu e a engolfou, e onde ele estava ? Ela quis saber, mas não quis perguntar.
O celular tocou, a campainha tocou e ela veio, trazendo flores e doces e um pouco de sol e conversas amenas, guardando a solidão num saco bem amarrado.
Mas ela não era ele. Ela queria colo, estava com medo do mundo e do futuro e do sangue.
Surtou. Uma, duas, dez vezes.
Um dia, a garota que nunca chorava quis vomitar suco de uva, falou em público
E chorou em público, sentada no corredor sujo de uma universidade estranha.
Chorou de medo, de dor, de vergonha.
Chorou tudo o que levava dentro de si, cada freio, cada susto, cada dor, toda a fúria, toda a vergonha, toda a frustração.
Tentou falar, mas ele não falava sua língua.
Não se entenderam, ele sussurrava e ela soluçava, nem abraços nem tristeza nos olhos conseguiram traduzir ou responder às perguntas.
Cada um foi pro seu lado, sem entender o outro, sem saber se estariam juntos na manhã seguinte.
Ela acordou sozinha, sem Deus, sufocada pelo silêncio dos próprios pensamentos.
Emudeceu.
E a solidão ao redor dela cresceu e a engolfou, e onde ele estava ? Ela quis saber, mas não quis perguntar.
O celular tocou, a campainha tocou e ela veio, trazendo flores e doces e um pouco de sol e conversas amenas, guardando a solidão num saco bem amarrado.
Mas ela não era ele. Ela queria colo, estava com medo do mundo e do futuro e do sangue.
Surtou. Uma, duas, dez vezes.
24x09 Babel
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu queria poder escrever sobre a poesia das mãos se tocando.
Queria poder escrever sobre a poesia no forro cinza do sofá da sua casa, sobre o assovio engraçado do seu celular.
Queria poder escrever sobre a pressa e a urgência de chegar até à garagem. Sobre metal, sobre quão apertado pode ser um corredor.
Queria poder escrever sobre a suavidade das mãos e dos dedos.
Queria poder escrever sobre jeans. Queria poder escrever sobre as cores da minha bolsa, o preto e o prata.
Queria poder escrever sobre escadas em espiral, sobre a hora e as chamadas não atendidas. Sobre passos e o barulho que fazem nas casas vazias.
Queria poder escrever sobre espelhos, sofás e ornamentos. Sobre andares.
Queria poder escrever sobre a poesia nas venezianas, sobre o segundo andar das casas que você pode ver da sua janela.
Queria poder escrever sobre as sombras nos lugares que você já conhece, que não são sua casa, mas que te trazem a sensação de casa.
Queria poder escrever sobre o cinza e o branco e listras cinzas e brancas. Sobre guarda-roupas.
Queria poder escrever sobre xadrez e pequenos bonecos coloridos, dvd's e Angelina Jolie. Sobre roupas.
Queria poder escrever sobre medo, urgência, força, coragem, amor, certeza. Queria poder escrever sobre as cores que já esqueci - amarelo -, sobre elefantes pretos, rosas e brancos. Sobre pontos pretos no meu sapato, laços azuis e escamas.
Queria poder escrever sobre a simplicidade dos movimentos das vértebras.
Queria poder escrever sobre a rapidez dos movimentos que o olho não consegue captar, que não se consegue descrever perfeitamente. Sobre os seus olhos e sobre as coisas que eles conseguem dizer.
Queria poder escrever sobre seus sapatos.
Queria poder escrever sobre a composição da respiração. Sobre trocas gasosas.
Queria escrever sobre insegurança e "setbacks". Queria escrever sobre gentileza, no sentido mais puro e simples da palavra. Sobre minha necessidade de ser quem quero ser, e não quem eu sou.
Queria poder escrever sobre suor.
Queria poder escrever sobre lisura e sobre ver o mundo sob uma perspectiva nova, sobre o inverso das coisas. Queria escrever sobre dor e sobre essa necessidade de se ficar desconfortável para se sentir confortável.
Sobre essa necessidade biológica que temos de derreter e nos misturar, sobre nenhum homem ser uma ilha. Sobre essas imperfeições na nossa pele, sobre a dor de viver e a dor de deixar de ser.
Queria poder escrever sobre ruídos, sobre cada ruído. Sobre a sua testa.
Queria poder escrever sobre os movimentos que os olhos captam.
Sobre tetos.
Queria poder escrever sobre o momento em que se percebe que as coisas não serão mais as mesmas.
Queria poder escrever sobre a insegurança de se ter meleca no nariz. Sobre as paredes que nosso corpo constrói sem que desejemos, mas com o consentimento do nosso subconsciente.
Queria poder escrever sobre sangue. Não o sangue que se teme, mas um outro tipo, mais puro e triste.
Queria poder escrever sobre suas preocupações e sobre minhas preocupações. Sobre a poesia de ficar de pé, de se levantar sabendo que não precisa ir embora, que você não vai embora.
Queria poder escrever sobre abraços e a certeza de que as coisas não duram pra sempre.
Queria poder escrever sobre voltas pra casa, sobre o alaranjado das luzes artificiais, os outros carros na estrada. Sobre flores de pedra gigantescas e pontes que não vi.
Sobre multas e pactos quebrados.
Sobre a proximidade gerada por estar próximo.
Queria poder escrever sobre espera e horas derradeiras. Sobre escolhas.
Queria poder escrever sobre chocolates, Capitu e rosas de tecido e cereja.
Sinto muito, eu simplesmente não tenho a habilidade necessária para escrever sobre coisas tão bonitas quanto essas: não consigo extrair a quantidade de poesia que vejo e transformá-la em palavras.
Um dia, quem sabe.
Até lá, sinto muito. Perdão.
Eu queria poder escrever sobre a poesia das mãos se tocando.
Queria poder escrever sobre a poesia no forro cinza do sofá da sua casa, sobre o assovio engraçado do seu celular.
Queria poder escrever sobre a pressa e a urgência de chegar até à garagem. Sobre metal, sobre quão apertado pode ser um corredor.
Queria poder escrever sobre a suavidade das mãos e dos dedos.
Queria poder escrever sobre jeans. Queria poder escrever sobre as cores da minha bolsa, o preto e o prata.
Queria poder escrever sobre escadas em espiral, sobre a hora e as chamadas não atendidas. Sobre passos e o barulho que fazem nas casas vazias.
Queria poder escrever sobre espelhos, sofás e ornamentos. Sobre andares.
Queria poder escrever sobre a poesia nas venezianas, sobre o segundo andar das casas que você pode ver da sua janela.
Queria poder escrever sobre as sombras nos lugares que você já conhece, que não são sua casa, mas que te trazem a sensação de casa.
Queria poder escrever sobre o cinza e o branco e listras cinzas e brancas. Sobre guarda-roupas.
Queria poder escrever sobre xadrez e pequenos bonecos coloridos, dvd's e Angelina Jolie. Sobre roupas.
Queria poder escrever sobre medo, urgência, força, coragem, amor, certeza. Queria poder escrever sobre as cores que já esqueci - amarelo -, sobre elefantes pretos, rosas e brancos. Sobre pontos pretos no meu sapato, laços azuis e escamas.
Queria poder escrever sobre a simplicidade dos movimentos das vértebras.
Queria poder escrever sobre a rapidez dos movimentos que o olho não consegue captar, que não se consegue descrever perfeitamente. Sobre os seus olhos e sobre as coisas que eles conseguem dizer.
Queria poder escrever sobre seus sapatos.
Queria poder escrever sobre a composição da respiração. Sobre trocas gasosas.
Queria escrever sobre insegurança e "setbacks". Queria escrever sobre gentileza, no sentido mais puro e simples da palavra. Sobre minha necessidade de ser quem quero ser, e não quem eu sou.
Queria poder escrever sobre suor.
Queria poder escrever sobre lisura e sobre ver o mundo sob uma perspectiva nova, sobre o inverso das coisas. Queria escrever sobre dor e sobre essa necessidade de se ficar desconfortável para se sentir confortável.
Sobre essa necessidade biológica que temos de derreter e nos misturar, sobre nenhum homem ser uma ilha. Sobre essas imperfeições na nossa pele, sobre a dor de viver e a dor de deixar de ser.
Queria poder escrever sobre ruídos, sobre cada ruído. Sobre a sua testa.
Queria poder escrever sobre os movimentos que os olhos captam.
Sobre tetos.
Queria poder escrever sobre o momento em que se percebe que as coisas não serão mais as mesmas.
Queria poder escrever sobre a insegurança de se ter meleca no nariz. Sobre as paredes que nosso corpo constrói sem que desejemos, mas com o consentimento do nosso subconsciente.
Queria poder escrever sobre sangue. Não o sangue que se teme, mas um outro tipo, mais puro e triste.
Queria poder escrever sobre suas preocupações e sobre minhas preocupações. Sobre a poesia de ficar de pé, de se levantar sabendo que não precisa ir embora, que você não vai embora.
Queria poder escrever sobre abraços e a certeza de que as coisas não duram pra sempre.
Queria poder escrever sobre voltas pra casa, sobre o alaranjado das luzes artificiais, os outros carros na estrada. Sobre flores de pedra gigantescas e pontes que não vi.
Sobre multas e pactos quebrados.
Sobre a proximidade gerada por estar próximo.
Queria poder escrever sobre espera e horas derradeiras. Sobre escolhas.
Queria poder escrever sobre chocolates, Capitu e rosas de tecido e cereja.
Sinto muito, eu simplesmente não tenho a habilidade necessária para escrever sobre coisas tão bonitas quanto essas: não consigo extrair a quantidade de poesia que vejo e transformá-la em palavras.
Um dia, quem sabe.
Até lá, sinto muito. Perdão.
24x08 Strangers on a train
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Então, eu matei alguém. De novo.
Era Julho, e eu não me orgulho disso.
Acalme-se, eu não matei alguém, propriamente dizendo. Mas não matamos pessoas o tempo todo?
Não é o mesmo que matar quando você esquece alguém? Não é o mesmo que desrespeitar a memória de alguém? Não é matar quando se deseja muito a morte de alguém?
Bom, eu estava em um trem que viajava de volta a Dublin, ou em um carro que voltava de uma casa onde pensei que não pisaria mais.
Ou talvez, eu estivesse em um trem, sentada ao lado de um estranho que eu talvez tenha amado, que eu talvez ame. E estávamos conspirando a morte de alguém que nem mesmo conhecíamos. Porque os assassinatos mais fáceis são aqueles onde não se conhece a vítima. Sai-se impune. Quem poderia suspeitar de você se você não conhece a vítima, certo?
Então, nos sentamos nesse trem, ou nesse carro, onde quer que estivéssemos e conspiramos.
Nós falamos em línguas diferentes e não nos entendemos. Ao final, cada um tinha uma vítima diferente a quem achava que deveria matar. Nós pensávamos de maneiras diferentes porque éramos estranhos, porque somos estranhos que não são capazes de se entender, que nunca vão entender um ao outro.
Temos pensamentos completamente opostos.
Então, naquele dia, quando decidimos envenenar nossa vítima, afogá-la em sangue, afogá-la antes mesmo que ela pudesse tomar consciência do afogamento e da morte, eu decidi que o mataria, ele decidiu que a mataria.
Apertamos as mãos e nos separamos.
Ele me deu o veneno, eu o envenenei e nós observamos, esperamos, eu rezei, enquanto ele morria, lentamente, sem nunca ter me levantado a voz, sem nunca ter sabido meu nome ou sugado meu sangue.
E eu sinto muito, diariamente. Mas não saí impune, juro que não.
Não sou a mesma.
Nunca mais vou ser.
Então, eu matei alguém. De novo.
Era Julho, e eu não me orgulho disso.
Acalme-se, eu não matei alguém, propriamente dizendo. Mas não matamos pessoas o tempo todo?
Não é o mesmo que matar quando você esquece alguém? Não é o mesmo que desrespeitar a memória de alguém? Não é matar quando se deseja muito a morte de alguém?
Bom, eu estava em um trem que viajava de volta a Dublin, ou em um carro que voltava de uma casa onde pensei que não pisaria mais.
Ou talvez, eu estivesse em um trem, sentada ao lado de um estranho que eu talvez tenha amado, que eu talvez ame. E estávamos conspirando a morte de alguém que nem mesmo conhecíamos. Porque os assassinatos mais fáceis são aqueles onde não se conhece a vítima. Sai-se impune. Quem poderia suspeitar de você se você não conhece a vítima, certo?
Então, nos sentamos nesse trem, ou nesse carro, onde quer que estivéssemos e conspiramos.
Nós falamos em línguas diferentes e não nos entendemos. Ao final, cada um tinha uma vítima diferente a quem achava que deveria matar. Nós pensávamos de maneiras diferentes porque éramos estranhos, porque somos estranhos que não são capazes de se entender, que nunca vão entender um ao outro.
Temos pensamentos completamente opostos.
Então, naquele dia, quando decidimos envenenar nossa vítima, afogá-la em sangue, afogá-la antes mesmo que ela pudesse tomar consciência do afogamento e da morte, eu decidi que o mataria, ele decidiu que a mataria.
Apertamos as mãos e nos separamos.
Ele me deu o veneno, eu o envenenei e nós observamos, esperamos, eu rezei, enquanto ele morria, lentamente, sem nunca ter me levantado a voz, sem nunca ter sabido meu nome ou sugado meu sangue.
E eu sinto muito, diariamente. Mas não saí impune, juro que não.
Não sou a mesma.
Nunca mais vou ser.
24x07 Ameixa
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Me beija, sem medo do meu gosto, sem medo do meu rosto e do que acontece amanhã.
Esqueço os donos dos colchões, todos os freios e medos e a dor.
Só o que importa é seu gosto, seu rosto, o que acontece agora.
Minha pele e sua pele e a tarde escura e vazia, a curva sutil que as pontas dos seus dedos fazem, a cor das suas pálpebras.
Espero pelo momento em que seus dentes surgem, a respiração em suspenso.
Eles vêm e eu não fujo.
Eu fico, quero saber até onde podemos ir, quero saber quem somos, quero saber o que acontece no final do filme.
Eu quero, eu quero saber.
Mas aí vêm os freios e minha mania de ser um exemplo e meu medo e meu futuro brilhante e te empurram pra longe.
E não importa mais seu gosto, seu rosto, só meu medo e o que acontece amanhã.
Você molha meu rosto e o seu e eu tento derrubar os muros que acabei de construir entre nós.
Quero seu gosto, seu rosto, quero o amanhã impune.
Quero os azulejos frios, quero o cheiro de xampu, quero não desaparecer dentro de mim sempre que estivermos juntos.
Viro as costas e fecho os olhos, peço, imploro, pros deuses dos azulejos e das ameixas, da pele e das tardes ociosas pra que eu volte pra você, pra que eu fique.
Eu quero saber mais sobre nós dois e sobre a capacidade da nossa pele de trocar calor, sobre a sua respiração e a textura das suas costas.
Mas aí já é tarde.
É meu corpo, minha boca, meu gosto, meu rosto.
Mas eu já fui embora e você não consegue me alcançar.
E eu te deixei esperando de novo, atrás dos muros, atrás dos meus olhos. Sozinho com seu gosto e eu sozinha sem seu rosto.
Grito, do meu lado do muro - Não desista, não desista
E não sei se você ouve.
Mas não desista, eu quero.
Só não me acostumei ainda ao gosto, ao rosto.
A não saber o que acontece amanhã.
Me beija, sem medo do meu gosto, sem medo do meu rosto e do que acontece amanhã.
Esqueço os donos dos colchões, todos os freios e medos e a dor.
Só o que importa é seu gosto, seu rosto, o que acontece agora.
Minha pele e sua pele e a tarde escura e vazia, a curva sutil que as pontas dos seus dedos fazem, a cor das suas pálpebras.
Espero pelo momento em que seus dentes surgem, a respiração em suspenso.
Eles vêm e eu não fujo.
Eu fico, quero saber até onde podemos ir, quero saber quem somos, quero saber o que acontece no final do filme.
Eu quero, eu quero saber.
Mas aí vêm os freios e minha mania de ser um exemplo e meu medo e meu futuro brilhante e te empurram pra longe.
E não importa mais seu gosto, seu rosto, só meu medo e o que acontece amanhã.
Você molha meu rosto e o seu e eu tento derrubar os muros que acabei de construir entre nós.
Quero seu gosto, seu rosto, quero o amanhã impune.
Quero os azulejos frios, quero o cheiro de xampu, quero não desaparecer dentro de mim sempre que estivermos juntos.
Viro as costas e fecho os olhos, peço, imploro, pros deuses dos azulejos e das ameixas, da pele e das tardes ociosas pra que eu volte pra você, pra que eu fique.
Eu quero saber mais sobre nós dois e sobre a capacidade da nossa pele de trocar calor, sobre a sua respiração e a textura das suas costas.
Mas aí já é tarde.
É meu corpo, minha boca, meu gosto, meu rosto.
Mas eu já fui embora e você não consegue me alcançar.
E eu te deixei esperando de novo, atrás dos muros, atrás dos meus olhos. Sozinho com seu gosto e eu sozinha sem seu rosto.
Grito, do meu lado do muro - Não desista, não desista
E não sei se você ouve.
Mas não desista, eu quero.
Só não me acostumei ainda ao gosto, ao rosto.
A não saber o que acontece amanhã.
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24X06 Caleidoscópio
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Caro Otto,
uau. Os últimos dias, os últimos meses passaram rápido demais. Penso neles como um borrão colorido cheio de vozes, cheiros e sons,
Achei que nunca mais te escreveria. Não, minto. Eu sempre soube que te escreveria de novo.
Mas é diferente agora. Isso não é uma carta de amor. Eu não escrevo mais cartas de amor pra você, como sabíamos que aconteceria, como esperávamos que acontecesse.
Eu mudei. E você também deve ter mudado.
Eu me apaixonei. É, como quem tropeça. Pisei em falso, meu coração pisou em falso numa dessas noites quentes demais. Quando acordei, já era junho, já tinha corrido mundo e voltado cheia de histórias e roupas novas na mala pesada. Cheia de expectativas, também.
Expectativas sobre o escuro e a capacidade que a ponta das línguas tem de dizer tudo o que há para ser dito, só de se encostarem.
Eu voltei pra casa, pra você, pra essa cidade de concreto em chamas, só pra descobrir que quem voltou não fui eu.
Voltou uma outra, louca, que queria mais do que amores unilaterais e a amargura de esperar e de amar sozinha. Sem voz, sem v oto.
E ela conseguiu isso, conseguiu mais.
Conseguiu luz de postes e sombra de carros, vozes, "eu te amo" em forma de sussurros no meio da noite, ela conseguiu pele e ossos, clavículas e pintas. Muito mais do que já sonhamos ter.
Essa louca, eu, amou. Ama.
Nenhuma surpresa, certo?
Mas, adivinhe só: estou me deixando amar. É difícil, muito. Mas eu deixo, aos poucos. Tento erguer menos paredes ao meu redor, ter menos segredos. Eu tento.
Mas erro muito, não aprendi a fazer isso.
Estou tentando, engatinhando.
Às vezes, me saio bem, sabe? Ele olha pra mim e acredito no que ele diz. Acredito, quando ele me chama de Amor, quando a ponta do nariz dele toca minha testa e ele fecha os olhos e fica quieto, como se tivesse parado todo o zumbido do mundo, como se só existíssemos nós dois.
Acredito, quando o machuco com minha frieza, minha loucura, e ele me diz com os olhos que dói.
Nem tudo é sempre bom, tem muito a ser feito.
Tivemos dias difíceis, em que me abriguei num casaco cinza e quis que o mundo me esquecesse , em que quis desistir. Dias em que eu estava fraca demais pra tentar.
E ele me pegou no colo e disse, com aquele tom de brincadeira, que ia passar, que era besteira minha.
De vez em quando, corro pra minha caverna, me escondo do mundo. E ele vem, me puxa, abre as persianas e deixa a luz entrar.
E eu deixo.
Então, Otto, onde quer que você esteja, com quem quer que esteja:
Deixe.
Abaixe as defesas, destrua os muros, permita que te magoem, permita que se aproximem.
Eu descobri que não somos invisíveis. São as paredes que erguemos, entende?
Deixe que entrem, prepare-se.
Eu sei que não é fácil. Mas você tem que saber que é possível.
É só abrir as persianas. Por um segundo só.
Alguém vai estar olhando.
Alguém vai te ver.
Deixe.
Com amor, sempre,
B.
Caro Otto,
uau. Os últimos dias, os últimos meses passaram rápido demais. Penso neles como um borrão colorido cheio de vozes, cheiros e sons,
Achei que nunca mais te escreveria. Não, minto. Eu sempre soube que te escreveria de novo.
Mas é diferente agora. Isso não é uma carta de amor. Eu não escrevo mais cartas de amor pra você, como sabíamos que aconteceria, como esperávamos que acontecesse.
Eu mudei. E você também deve ter mudado.
Eu me apaixonei. É, como quem tropeça. Pisei em falso, meu coração pisou em falso numa dessas noites quentes demais. Quando acordei, já era junho, já tinha corrido mundo e voltado cheia de histórias e roupas novas na mala pesada. Cheia de expectativas, também.
Expectativas sobre o escuro e a capacidade que a ponta das línguas tem de dizer tudo o que há para ser dito, só de se encostarem.
Eu voltei pra casa, pra você, pra essa cidade de concreto em chamas, só pra descobrir que quem voltou não fui eu.
Voltou uma outra, louca, que queria mais do que amores unilaterais e a amargura de esperar e de amar sozinha. Sem voz, sem v oto.
E ela conseguiu isso, conseguiu mais.
Conseguiu luz de postes e sombra de carros, vozes, "eu te amo" em forma de sussurros no meio da noite, ela conseguiu pele e ossos, clavículas e pintas. Muito mais do que já sonhamos ter.
Essa louca, eu, amou. Ama.
Nenhuma surpresa, certo?
Mas, adivinhe só: estou me deixando amar. É difícil, muito. Mas eu deixo, aos poucos. Tento erguer menos paredes ao meu redor, ter menos segredos. Eu tento.
Mas erro muito, não aprendi a fazer isso.
Estou tentando, engatinhando.
Às vezes, me saio bem, sabe? Ele olha pra mim e acredito no que ele diz. Acredito, quando ele me chama de Amor, quando a ponta do nariz dele toca minha testa e ele fecha os olhos e fica quieto, como se tivesse parado todo o zumbido do mundo, como se só existíssemos nós dois.
Acredito, quando o machuco com minha frieza, minha loucura, e ele me diz com os olhos que dói.
Nem tudo é sempre bom, tem muito a ser feito.
Tivemos dias difíceis, em que me abriguei num casaco cinza e quis que o mundo me esquecesse , em que quis desistir. Dias em que eu estava fraca demais pra tentar.
E ele me pegou no colo e disse, com aquele tom de brincadeira, que ia passar, que era besteira minha.
De vez em quando, corro pra minha caverna, me escondo do mundo. E ele vem, me puxa, abre as persianas e deixa a luz entrar.
E eu deixo.
Então, Otto, onde quer que você esteja, com quem quer que esteja:
Deixe.
Abaixe as defesas, destrua os muros, permita que te magoem, permita que se aproximem.
Eu descobri que não somos invisíveis. São as paredes que erguemos, entende?
Deixe que entrem, prepare-se.
Eu sei que não é fácil. Mas você tem que saber que é possível.
É só abrir as persianas. Por um segundo só.
Alguém vai estar olhando.
Alguém vai te ver.
Deixe.
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Early Cuts: Never before
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Escrito em 2006. (Editado)
Procura-se
Um garoto de verdade
Que não seja um completo idiota (Só meio idiota)
Que assista TV e entre na internet às vezes, pelo menos
Que me faça sentir frio e calor quando sorri
Pra quem eu não queira mentir.
Um garoto que saiba pular
Que goste de sorvete e algodão doce
Que tenha um conhecimento de mundo parecido com o meu, pra que eu não me sinta A NERD CHATA perto dele.
Um garoto que não seja previsível, nem influenciável
Que não tenha namorada ainda, nem esteja apaixonado por outra
Que faça a ponta do meu nariz ficar gelada e as minhas mãos suarem
Que não gagueje, nem hesite
Que não dependa de mim
Que me faça rir e que brigue comigo quase todo dia
Que goste de fazer coisas toscas e olhar as nuvens
Que possa desenhar algo além de carros
Que não seja meu melhor amigo (isso nunca dá certo)
Que me ligue às vezes e não tente me mudar.
Um garoto que saiba o que dizer, mas que não tenha muito jeito com garotas como eu.
Que não tome "bomba"
Nem assista mais de 3 filmes adultos por dia haha
Que não me abrace toda hora (mas que o faça quando for preciso)
Que saiba ler e já tenha lido um livro de 400 páginas ou mais
Que me odeie às vezes
E que ria comigo.
Que me diga coisas que eu não sei
Que tenha coisas em comum comigo
Que tente ao menos saber quem sou eu, que demorei horas escrevendo isso.
Procura-se um garoto que não exagere às vezes
E que faça tarefa de vez em quando.
Que saiba mexer o nariz e que goste de perfumes doces.
Que não tenha só uma música preferida.
E que cruze os dedos.
Um garoto pra quem tudo dá errado às vezes
Que não seja perfeito, mas diferente.
Que sonhe acordado, que pense na vida, que fale do passado e escreva de lapiseira.
Que tenha mais de 13 anos e menos de 17 (2006) e goste de filmes de terror.
E que seja especial, ao menos pra mim.
8 anos.
Levei 8 anos pra encontrar você.
Eu não estou mais pronta do que estava pra isso do que estava quando desejei você nesse texto.
Você desejou alguém também. Me deixe ser essa pessoa. Eu posso ser essa pessoa.
Escrito em 2006. (Editado)
Procura-se
Um garoto de verdade
Que não seja um completo idiota (Só meio idiota)
Que assista TV e entre na internet às vezes, pelo menos
Que me faça sentir frio e calor quando sorri
Pra quem eu não queira mentir.
Um garoto que saiba pular
Que goste de sorvete e algodão doce
Que tenha um conhecimento de mundo parecido com o meu, pra que eu não me sinta A NERD CHATA perto dele.
Um garoto que não seja previsível, nem influenciável
Que não tenha namorada ainda, nem esteja apaixonado por outra
Que faça a ponta do meu nariz ficar gelada e as minhas mãos suarem
Que não gagueje, nem hesite
Que não dependa de mim
Que me faça rir e que brigue comigo quase todo dia
Que goste de fazer coisas toscas e olhar as nuvens
Que possa desenhar algo além de carros
Que não seja meu melhor amigo (isso nunca dá certo)
Que me ligue às vezes e não tente me mudar.
Um garoto que saiba o que dizer, mas que não tenha muito jeito com garotas como eu.
Que não tome "bomba"
Nem assista mais de 3 filmes adultos por dia haha
Que não me abrace toda hora (mas que o faça quando for preciso)
Que saiba ler e já tenha lido um livro de 400 páginas ou mais
Que me odeie às vezes
E que ria comigo.
Que me diga coisas que eu não sei
Que tenha coisas em comum comigo
Que tente ao menos saber quem sou eu, que demorei horas escrevendo isso.
Procura-se um garoto que não exagere às vezes
E que faça tarefa de vez em quando.
Que saiba mexer o nariz e que goste de perfumes doces.
Que não tenha só uma música preferida.
E que cruze os dedos.
Um garoto pra quem tudo dá errado às vezes
Que não seja perfeito, mas diferente.
Que sonhe acordado, que pense na vida, que fale do passado e escreva de lapiseira.
Que tenha mais de 13 anos e menos de 17 (2006) e goste de filmes de terror.
E que seja especial, ao menos pra mim.
8 anos.
Levei 8 anos pra encontrar você.
Eu não estou mais pronta do que estava pra isso do que estava quando desejei você nesse texto.
Você desejou alguém também. Me deixe ser essa pessoa. Eu posso ser essa pessoa.
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24x05 Galactus versus Oppenheimer
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu destruo o seu mundo, sua rotina perfeita, impecável.
De amigos, liberdade e paixões platônicas. Prendo você, te quebro as pernas, imobilizo, acorrento.
Eu sou tristeza, arreios, estribo e sela.
Você também me quebras as pernas, me dá asas. É terremoto, furacão, tempestade. É todas as lendas sussurradas ao redor das fogueiras da minha mente, tudo com que se deve tomar cuidado.
Você é vida, asas, chaves e vento. A promessa de dias claro-escuros, correria e rebeldia.
Eu sou só isso, gaiolas e muros, a promessa de labirintos.
Eu sou a ordem alfabética e dias da semana e gráficos estáveis.
Você é a formiga desencontrada, um mundo inteiro caótico e perfeitamente controlado. Uma explosão solar.
Eu sou o cheiro de gás, insidioso e sufocante.
Sou o zangão, a abelha operária.
Acordo assustada e me pergunto "Como é que isso vai dar certo?"
Eu olho sua boca, ouço sua respiração, toco sua pele. E você é tão mais real do que qualquer outra coisa. Isso é real, nós somos. Eu quase me percebo.
Tá dando certo. Eu não sei como, nem até quando. Mas tá. Contra todas as probabilidades, todas as impossibilidades, todos os estudos e textos e regras da natureza.
Tá dando certo. E isso é MUITO bom.
Em caixa alta mesmo.
Eu destruo o seu mundo, sua rotina perfeita, impecável.
De amigos, liberdade e paixões platônicas. Prendo você, te quebro as pernas, imobilizo, acorrento.
Eu sou tristeza, arreios, estribo e sela.
Você também me quebras as pernas, me dá asas. É terremoto, furacão, tempestade. É todas as lendas sussurradas ao redor das fogueiras da minha mente, tudo com que se deve tomar cuidado.
Você é vida, asas, chaves e vento. A promessa de dias claro-escuros, correria e rebeldia.
Eu sou só isso, gaiolas e muros, a promessa de labirintos.
Eu sou a ordem alfabética e dias da semana e gráficos estáveis.
Você é a formiga desencontrada, um mundo inteiro caótico e perfeitamente controlado. Uma explosão solar.
Eu sou o cheiro de gás, insidioso e sufocante.
Sou o zangão, a abelha operária.
Acordo assustada e me pergunto "Como é que isso vai dar certo?"
Eu olho sua boca, ouço sua respiração, toco sua pele. E você é tão mais real do que qualquer outra coisa. Isso é real, nós somos. Eu quase me percebo.
Tá dando certo. Eu não sei como, nem até quando. Mas tá. Contra todas as probabilidades, todas as impossibilidades, todos os estudos e textos e regras da natureza.
Tá dando certo. E isso é MUITO bom.
Em caixa alta mesmo.
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24x04 The fault in our cells
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"Eu quero ser uma menina de verdade. Quero ser normal"
Sempre soube que havia algo de errado, algo que eu não posso ver, que médicos e máquinas não foram capazes de encontrar.
Fechei meus olhos e desejei com toda a força.
Eu queria ser real, estar viva.
"Por favor, fada azul, me torne uma menina de verdade".
Eu pude sentir todo o meu corpo pausar e esperar. A substituição dos genes, a deleção de proteínas, a reversão das cargas.
Esperei que apagasse minha memória.
Nada aconteceu.
Mas eu espero.
Acredito.
"Eu quero ser uma menina de verdade. Quero ser normal"
Sempre soube que havia algo de errado, algo que eu não posso ver, que médicos e máquinas não foram capazes de encontrar.
Fechei meus olhos e desejei com toda a força.
Eu queria ser real, estar viva.
"Por favor, fada azul, me torne uma menina de verdade".
Eu pude sentir todo o meu corpo pausar e esperar. A substituição dos genes, a deleção de proteínas, a reversão das cargas.
Esperei que apagasse minha memória.
Nada aconteceu.
Mas eu espero.
Acredito.
24x03 Cain
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu sinto muito.
O mesmo veneno que corre nas minhas veias, corre nas suas. Queria poder evitar isso, te dessangrar.
Queria te proteger disso, que eles nunca te atingissem.
Você é mais forte do que eu, feita de metal e nuvens, de pequenas coisas que eu nunca vou compreender. Mas eles também são fortes, são muitos. Eu te protegi por tanto tempo, eu tentei.
Eu falhei com você. E agora tô cansada demais pra continuar.
Tô cansada de responsabilidade, de rotina e destino. Eu não quero mais ser isso.
Eu nunca vou me esquecer daquele dia em que você disse que eu nunca tinha feito nada de bom por você e de como, dali por diante, tentei compensar isso de todas as maneiras que pude.
Tô cansada. Não quero mais compensar nada, não quero passar minha vida consertando erros, pedindo desculpas. Eu fiz o que pude, o melhor que pude. Eu te amo, com todo o meu coração, desde que me lembro. Não fui perfeita, não sou perfeita.
Mas eu tentei ser.
Se estraguei tudo, sinto muito.
Agora, cansei de tentar.
Tô indo viver.
Você pode vir, se quiser.
Você quer?
Eu sinto muito.
O mesmo veneno que corre nas minhas veias, corre nas suas. Queria poder evitar isso, te dessangrar.
Queria te proteger disso, que eles nunca te atingissem.
Você é mais forte do que eu, feita de metal e nuvens, de pequenas coisas que eu nunca vou compreender. Mas eles também são fortes, são muitos. Eu te protegi por tanto tempo, eu tentei.
Eu falhei com você. E agora tô cansada demais pra continuar.
Tô cansada de responsabilidade, de rotina e destino. Eu não quero mais ser isso.
Eu nunca vou me esquecer daquele dia em que você disse que eu nunca tinha feito nada de bom por você e de como, dali por diante, tentei compensar isso de todas as maneiras que pude.
Tô cansada. Não quero mais compensar nada, não quero passar minha vida consertando erros, pedindo desculpas. Eu fiz o que pude, o melhor que pude. Eu te amo, com todo o meu coração, desde que me lembro. Não fui perfeita, não sou perfeita.
Mas eu tentei ser.
Se estraguei tudo, sinto muito.
Agora, cansei de tentar.
Tô indo viver.
Você pode vir, se quiser.
Você quer?
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Imagem: TingTing Huang
Ele me beijou, como eu já sabia, como eu queria, como esperava.
Não consegui.
Eu queria, mas não consegui.
Tenho medo de beijos, de trair a memória da única pessoa que nem sei se amei na vida, de não ser boa o bastante, de gostar demais, de fazer algo indigno, de estar estragada, de não ter conserto.
Gosto da sua boca. Gosto de você. Quero fazer as coisas direito, como se deve.
Só não sei se ainda consigo.
Ele me beijou, como eu já sabia, como eu queria, como esperava.
Não consegui.
Eu queria, mas não consegui.
Tenho medo de beijos, de trair a memória da única pessoa que nem sei se amei na vida, de não ser boa o bastante, de gostar demais, de fazer algo indigno, de estar estragada, de não ter conserto.
Gosto da sua boca. Gosto de você. Quero fazer as coisas direito, como se deve.
Só não sei se ainda consigo.
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24x01 The 28th
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Imagem: TingTing Huang
This is a story of girl meets boy.
Já li histórias que começavam assim. Como terminaram?
Passava das 7, eu tinha malas pra arrumar, tutorial pra começar, tinha responsabilidades.
Mas eu queria saber, queria ouvir.
Ele me chamou pra sair.
E eu disse não. A pessoa que devo ser, a pessoa que querem que eu seja, disse não.
A garota que vai criar os filhos mimados e passivo-agressivos do cara com quem vai se casar quando ele decidir que é a hora. Ela disse não.
Não só ela. Outras bocas disseram não, o som ecoou pelo meu corpo todo, causando calafrios.
"Ele vai te machucar"
"Você vai machucá-lo"
Foram centenas, milhares de nãos.
E um sim, só um sim.
Fico pensando, quem disse aquele sim? Porque esse sim moveu todo o meu corpo, toda a minha vontade.
Acho que fui eu quem disse. Quem quer que eu seja, onde quer que eu esteja.
Já me disseram muitas vezes quem eu sou. Já me definiram de zilhões de maneiras, já me catalogaram. E eu acreditei.
Nunca cheguei a me conhecer de verdade. Desde cedo, me amordaçaram, me prenderam, me botaram fraca e presa numa jaula no fundo do oceano de mim.
Quando eu fui com ele, quando decidi ir.
Mesmo sabendo tudo o que sei, mesmo contra todas as probabilidades
Eu fui porque quis.
Porque eu quis.
E aí reside toda a diferença do mundo.
This is a story of girl meets boy.
Já li histórias que começavam assim. Como terminaram?
Passava das 7, eu tinha malas pra arrumar, tutorial pra começar, tinha responsabilidades.
Mas eu queria saber, queria ouvir.
Ele me chamou pra sair.
E eu disse não. A pessoa que devo ser, a pessoa que querem que eu seja, disse não.
A garota que vai criar os filhos mimados e passivo-agressivos do cara com quem vai se casar quando ele decidir que é a hora. Ela disse não.
Não só ela. Outras bocas disseram não, o som ecoou pelo meu corpo todo, causando calafrios.
"Ele vai te machucar"
"Você vai machucá-lo"
Foram centenas, milhares de nãos.
E um sim, só um sim.
Fico pensando, quem disse aquele sim? Porque esse sim moveu todo o meu corpo, toda a minha vontade.
Acho que fui eu quem disse. Quem quer que eu seja, onde quer que eu esteja.
Já me disseram muitas vezes quem eu sou. Já me definiram de zilhões de maneiras, já me catalogaram. E eu acreditei.
Nunca cheguei a me conhecer de verdade. Desde cedo, me amordaçaram, me prenderam, me botaram fraca e presa numa jaula no fundo do oceano de mim.
Quando eu fui com ele, quando decidi ir.
Mesmo sabendo tudo o que sei, mesmo contra todas as probabilidades
Eu fui porque quis.
Porque eu quis.
E aí reside toda a diferença do mundo.
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23x25 Clérambault (Season Finale)
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Imagem: TingTing Huang
- Ele gosta de mim.
- Por que você acha isso?
- Eu não sei. Algo nos olhos dele, uma consoante sussurrada, o tom da voz, algumas coisas que ele diz. Ele gosta de mim, mas não sei como sei disso.
Ela me olhou com pena e eu pensei "está acontecendo de novo".
Não, não, não. Não me deixe acreditar nas coisas que não estão lá, arranque essa certeza de mim. É maio, são os ovócitos, não me deixe errar de novo.
Fecho os olhos e fazemos um ritual antigo em que eu assisto em silêncio aos erros que cometi.
- Arranque fora, L. Eu não quero mais sentir dor, não quero mais sentir isso. Esconda onde eu nunca possa encontrar.
Ela o arrancou fora com as unhas em garra, como já havíamos feito antes. Ele era pequeno, escuro e deformado. Meu. Entreguei-o a ela, sem me arrepender, sem hesitar.
O celular tocou, destruindo o clima solene.
- Vai, pode levar - eu disse.
Ela começou a embrulhá-lo e eu me sentei no chão e liguei o visor do celular, pra checar o que o mundo real exigia de mim naquela hora. Era ele.
"O que foi?"
"...Existem algumas coisas. Mas nada que você queira ouvir ou que eu veja necessidade de dizer".
"Eu quero que você fale"
L. já quase saia quando agarrei suas pernas.
- Não. Espere.
Ela me olhou, indecisa. Eu nem respirei durante aquele segundo. Por favor, por favor - eu pensava.
escrevendo...
21h46 Eu estou gostando de você.
Olhei pra L., olhamos para o embrulho nas mãos dela, que começava a se mover, devagarinho e depois pegava ritmo, se movia rápido, num compasso novo.
Ela sorriu.
Eu sorri, estendi as mãos
- Vou ficar com isso.
Por enquanto.
- Ele gosta de mim.
- Por que você acha isso?
- Eu não sei. Algo nos olhos dele, uma consoante sussurrada, o tom da voz, algumas coisas que ele diz. Ele gosta de mim, mas não sei como sei disso.
Ela me olhou com pena e eu pensei "está acontecendo de novo".
Não, não, não. Não me deixe acreditar nas coisas que não estão lá, arranque essa certeza de mim. É maio, são os ovócitos, não me deixe errar de novo.
Fecho os olhos e fazemos um ritual antigo em que eu assisto em silêncio aos erros que cometi.
- Arranque fora, L. Eu não quero mais sentir dor, não quero mais sentir isso. Esconda onde eu nunca possa encontrar.
Ela o arrancou fora com as unhas em garra, como já havíamos feito antes. Ele era pequeno, escuro e deformado. Meu. Entreguei-o a ela, sem me arrepender, sem hesitar.
O celular tocou, destruindo o clima solene.
- Vai, pode levar - eu disse.
Ela começou a embrulhá-lo e eu me sentei no chão e liguei o visor do celular, pra checar o que o mundo real exigia de mim naquela hora. Era ele.
"O que foi?"
"...Existem algumas coisas. Mas nada que você queira ouvir ou que eu veja necessidade de dizer".
"Eu quero que você fale"
L. já quase saia quando agarrei suas pernas.
- Não. Espere.
Ela me olhou, indecisa. Eu nem respirei durante aquele segundo. Por favor, por favor - eu pensava.
escrevendo...
21h46 Eu estou gostando de você.
Olhei pra L., olhamos para o embrulho nas mãos dela, que começava a se mover, devagarinho e depois pegava ritmo, se movia rápido, num compasso novo.
Ela sorriu.
Eu sorri, estendi as mãos
- Vou ficar com isso.
Por enquanto.
23x24 Hear the horses
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Imagem: TingTing Huang
- L., não me deixe passar por isso de novo.
Ela me olha, com pena e dor nos olhões azuis-verdes:
- É tarde demais.
E Otto, que não responde ao meu chamado. Deixo mensagens, escrevo cartas que retornam ao remetente.
- Eu te amo. Sempre. - digo pro fone mudo.
Holden me diz oi, sorri. Sinto vontade de tocar-lhe os cabelos como quem diz "acabou, mas nenhuma paixão é em vão, Holden. Você me ensinou tanto. Não só sobre o curso do sangue, toques inesperados e intensidade. Você me ensinou sobre mim, também".
Connor me trouxe de volta a vontade, mas nem considero dizer a ele mais do que um obrigada.
- L., não me deixe passar por isso de novo. Vamos fugir, vamos pra longe desse lugar. Ela está fazendo aquilo de novo, me mantendo aqui. Pegue suas roupas, eu pego os livros, vamos embora, vamos ficar quietas, vamos pensar em outras coisas, mais fúteis.
Ela passa a mão no meu rosto, no meu cabelo, cola os lábios no meu ouvido e sussurra:
- É tarde. Sei o que você quer fazer, sei que teme a vida e o destino, sei que tem medo de si mesma, do que pode fazer. Mas não pode fugir, não conseguiria. Você deve. Você quer.
- L., não me deixe passar por isso de novo.
Ela me olha, com pena e dor nos olhões azuis-verdes:
- É tarde demais.
E Otto, que não responde ao meu chamado. Deixo mensagens, escrevo cartas que retornam ao remetente.
- Eu te amo. Sempre. - digo pro fone mudo.
Holden me diz oi, sorri. Sinto vontade de tocar-lhe os cabelos como quem diz "acabou, mas nenhuma paixão é em vão, Holden. Você me ensinou tanto. Não só sobre o curso do sangue, toques inesperados e intensidade. Você me ensinou sobre mim, também".
Connor me trouxe de volta a vontade, mas nem considero dizer a ele mais do que um obrigada.
- L., não me deixe passar por isso de novo. Vamos fugir, vamos pra longe desse lugar. Ela está fazendo aquilo de novo, me mantendo aqui. Pegue suas roupas, eu pego os livros, vamos embora, vamos ficar quietas, vamos pensar em outras coisas, mais fúteis.
Ela passa a mão no meu rosto, no meu cabelo, cola os lábios no meu ouvido e sussurra:
- É tarde. Sei o que você quer fazer, sei que teme a vida e o destino, sei que tem medo de si mesma, do que pode fazer. Mas não pode fugir, não conseguiria. Você deve. Você quer.
23x23 Tempo de pipa
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Imagem: TingTing Huang
Dizem que dois só podem guardar um segredo se um deles estiver morto.
Estamos vivos, mesmo quem você acha que não está.
Está vivo, em algum lugar, em uma caixa de madeira, esperando que você venha querendo saber a verdade, querendo as respostas que eu me recusei a dar por tanto tempo.
Aquela carta que você diz que nunca leu dizia que, um dia, eu acordei e me vi em 30 anos, contando as mesmas mentiras.
Pensei nos meus filhos.
Pensei nos seus filhos.
No tipo de pessoa que queremos ser.
Você realmente queria ter vivido dessa maneira?
Eu cansei de mentir, acho que você cansou de acreditar.
Deixa assim como está, me deixa, deixe-o.
Eu também vou tentar te deixar em paz.
Dizem que dois só podem guardar um segredo se um deles estiver morto.
Estamos vivos, mesmo quem você acha que não está.
Está vivo, em algum lugar, em uma caixa de madeira, esperando que você venha querendo saber a verdade, querendo as respostas que eu me recusei a dar por tanto tempo.
Aquela carta que você diz que nunca leu dizia que, um dia, eu acordei e me vi em 30 anos, contando as mesmas mentiras.
Pensei nos meus filhos.
Pensei nos seus filhos.
No tipo de pessoa que queremos ser.
Você realmente queria ter vivido dessa maneira?
Eu cansei de mentir, acho que você cansou de acreditar.
Deixa assim como está, me deixa, deixe-o.
Eu também vou tentar te deixar em paz.
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Early Cuts: Som de tsz
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Imagem: TingTing Huang
Queria que fizessem você do meu tamanho, perfeitamente adequado.
A mesma história, as mesmas referências.
Queria que fizessem você do meu tamanho, perfeitamente adequado.
A mesma história, as mesmas referências.
23x22 Tesselate
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Imagem: TingTing Huang
Prometo ser delicada, sutil.
Gosto de cores.
A única pessoa que acho que amei na vida mal sabe que existo.
Escrevo histórias. Começos e meios, nunca finais (Embora, não raro, comece do fim)
Eu leio. Não é mais pelo prazer de ler, até isso eu perdi.
Frequento a faculdade. Gosto de rotina.
Eu estudo. Às vezes.
Não sei se gosto do que faço. Existem coisas sobre as quais não penso. São irrelevantes.
Gosto de amendoim japonês.
Quando eu era criança, bati a cabeça com força. Acho que nunca mais fui a mesma.
Tudo o que faço tem que ter uma razão. Quando não tem, invento uma. Acho uma aberração fazer as coisas sem motivo.
Às vezes, penso que sei quando e onde, aí alguém muda as perguntas.
Contei uma mentira de pernas longas que, tenho certeza, vai voltar pra me assombrar.
O fato de eu estar viva vai contra tudo em que acredito.
Gosto de refrigerante.
Tô sempre atrasada pra alguma coisa.
Odeio o meu corpo inteiro. Sinto que é recíproco, e isso me consola.
Existe algo muito errado comigo, mas ainda não é hora de saber o que é.
Parece que todo mundo que fica sabendo muito sobre mim vai embora.
Meus cabelos são mais rebeldes do que jovens revolucionários.
Decepciono as pessoas.
Disseram-me que deveria buscar paixões avassaladoras, fúria e tempestade. Mas eu só quero dormir sabendo que ele não vai embora depois que eu fechar os olhos.
Quero ter filhos.
Admito, lerei J.K. Rowling e C.S. Lewis pra eles.
Não quero mais salvar vidas.
Quero respostas.
Não gosto de tomar decisões.
Sinto saudade de quem nunca conheci.
Gosto de histórias e batata ruffles de cebola e salsa.
Nunca digo o que gostaria de dizer, acho que nem consigo.
Você entende, agora?
Quando isso acabar, quando passar, eu explico.
Nem antes, nem depois.
Não se atrase.
Prometo ser delicada, sutil.
Gosto de cores.
A única pessoa que acho que amei na vida mal sabe que existo.
Escrevo histórias. Começos e meios, nunca finais (Embora, não raro, comece do fim)
Eu leio. Não é mais pelo prazer de ler, até isso eu perdi.
Frequento a faculdade. Gosto de rotina.
Eu estudo. Às vezes.
Não sei se gosto do que faço. Existem coisas sobre as quais não penso. São irrelevantes.
Gosto de amendoim japonês.
Quando eu era criança, bati a cabeça com força. Acho que nunca mais fui a mesma.
Tudo o que faço tem que ter uma razão. Quando não tem, invento uma. Acho uma aberração fazer as coisas sem motivo.
Às vezes, penso que sei quando e onde, aí alguém muda as perguntas.
Contei uma mentira de pernas longas que, tenho certeza, vai voltar pra me assombrar.
O fato de eu estar viva vai contra tudo em que acredito.
Gosto de refrigerante.
Tô sempre atrasada pra alguma coisa.
Odeio o meu corpo inteiro. Sinto que é recíproco, e isso me consola.
Existe algo muito errado comigo, mas ainda não é hora de saber o que é.
Parece que todo mundo que fica sabendo muito sobre mim vai embora.
Meus cabelos são mais rebeldes do que jovens revolucionários.
Decepciono as pessoas.
Disseram-me que deveria buscar paixões avassaladoras, fúria e tempestade. Mas eu só quero dormir sabendo que ele não vai embora depois que eu fechar os olhos.
Quero ter filhos.
Admito, lerei J.K. Rowling e C.S. Lewis pra eles.
Não quero mais salvar vidas.
Quero respostas.
Não gosto de tomar decisões.
Sinto saudade de quem nunca conheci.
Gosto de histórias e batata ruffles de cebola e salsa.
Nunca digo o que gostaria de dizer, acho que nem consigo.
Você entende, agora?
Quando isso acabar, quando passar, eu explico.
Nem antes, nem depois.
Não se atrase.
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23x21 Análise
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Imagem: TingTing Huang
Maio, 2013
04- "even though she falls in love too easily"
13- "solid on mine, and strong, your hand contains summer thunder (...) the promise perhaps of tomorrow"
15- Um remédio indicado para órfãos e crianças abandonadas, com dificuldade pra se relacionar. (...) E se eu tomasse? Por acaso, me tornaria a Branca de Neve?
18- "And myself jealous of the bones you hold so well(...) Or would you want to know that I who sing so much of kin, grew alone and cold in places so quiet the dragonflies thunder"
"For a moment, we are together(...)I felt us there, felt myself and not myself there. We lived those promises ridiculed in solemn days We lived with a hunger only solitude can afford".
Sonhei que o mordia, sinto fome dele (...) Pra quê ter medo? Ele é gente, ele é um cara. (...)Pra quê esse medo, Bean? É de mim ou é dele?
28- MALDITO MAIO. Justo no finalzinho, quando eu já estava tipo, "vencendo".
Maio, 2013
04- "even though she falls in love too easily"
13- "solid on mine, and strong, your hand contains summer thunder (...) the promise perhaps of tomorrow"
15- Um remédio indicado para órfãos e crianças abandonadas, com dificuldade pra se relacionar. (...) E se eu tomasse? Por acaso, me tornaria a Branca de Neve?
18- "And myself jealous of the bones you hold so well(...) Or would you want to know that I who sing so much of kin, grew alone and cold in places so quiet the dragonflies thunder"
"For a moment, we are together(...)I felt us there, felt myself and not myself there. We lived those promises ridiculed in solemn days We lived with a hunger only solitude can afford".
Sonhei que o mordia, sinto fome dele (...) Pra quê ter medo? Ele é gente, ele é um cara. (...)Pra quê esse medo, Bean? É de mim ou é dele?
28- MALDITO MAIO. Justo no finalzinho, quando eu já estava tipo, "vencendo".
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23x20 Maio
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Imagem: TingTing Huang
Caro Otto,
eu odeio o mês de maio, você sabe.
Tudo muda no mês de maio, pra melhor ou pior.
No dia 1º desse mês, deitei no sofá e digitei furiosamente no celular, tentando explicar pra cinco amigas porque sentia que algo estava prestes a acontecer.
Senti aquele aperto no peito, saí pelas ruas escuras, rezando pra te ver. Onde é que você estava?
Eu estava sozinha naquela noite e faminta e disposta a me machucar.
Maio trouxe fúria, insanidade, mosh pit.
Falei com um cara, um desses meus John Doe's. Não tem nada de especial sobre ele, Otto. Mas teria. Eu ja devaneava sobre ele, ja me perguntava coisas, ate sentia vontade de ve-lo.
Então, tive coragem de perguntar o nome dele. Tive coragem porque tive medo. Medo de que ele tomasse o seu lugar.
Maio trouxe essa conclusão terrível e deprimente, Otto.
Eu não te amo mais.
Não é nem mesmo obsessão. É medo.
Medo de não conseguir gostar, de não ser o suficiente, de tocar em alguém, de não estar sempre sozinha. Medo de deixar de acreditar que, um dia, você vai saber que significou algo pra mim, medo de deixar de me importar.
Por favor, onde quer que você esteja,
me faça amar você de novo.
Caro Otto,
eu odeio o mês de maio, você sabe.
Tudo muda no mês de maio, pra melhor ou pior.
No dia 1º desse mês, deitei no sofá e digitei furiosamente no celular, tentando explicar pra cinco amigas porque sentia que algo estava prestes a acontecer.
Senti aquele aperto no peito, saí pelas ruas escuras, rezando pra te ver. Onde é que você estava?
Eu estava sozinha naquela noite e faminta e disposta a me machucar.
Maio trouxe fúria, insanidade, mosh pit.
Falei com um cara, um desses meus John Doe's. Não tem nada de especial sobre ele, Otto. Mas teria. Eu ja devaneava sobre ele, ja me perguntava coisas, ate sentia vontade de ve-lo.
Então, tive coragem de perguntar o nome dele. Tive coragem porque tive medo. Medo de que ele tomasse o seu lugar.
Maio trouxe essa conclusão terrível e deprimente, Otto.
Eu não te amo mais.
Não é nem mesmo obsessão. É medo.
Medo de não conseguir gostar, de não ser o suficiente, de tocar em alguém, de não estar sempre sozinha. Medo de deixar de acreditar que, um dia, você vai saber que significou algo pra mim, medo de deixar de me importar.
Por favor, onde quer que você esteja,
me faça amar você de novo.
23x19 Horse and I
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"Liberdade", a voz delas me sussurrou naquela noite.
Achei que era de Holden que falavam. Não acho mais. Nem acho que falavam de Connor.
Não sou livre, nem estou triste.
Mas algo mudou, é inegável.
Não está relacionado só à coragem. É vontade.
A vontade mudou.
Me pego olhando incansavelmente as linhas das mãos como se fosse vê-las em uma conformação diferente, como se a história agora fosse outra.
Não é vontade de Connor, embora a vontade tenha chegado com ele, é vontade de ser diferente.
Eu quero penumbra, quero sombras e o contato entre as pontas dos dedos e o couro cabeludo, quero sussurros, quero o contato dos lábios com a pele.
Quero calor humano, quero descobertas ao som de música lenta.
Eu quero nudez. De corpo e de alma.
Quero ser honesta, quero os dois lados da história parecidos.
Quero arrepios e quero calmaria.
Tem algo de errado comigo.
Ou talvez, eu nunca tenha estado tão
Normal.
"Liberdade", a voz delas me sussurrou naquela noite.
Achei que era de Holden que falavam. Não acho mais. Nem acho que falavam de Connor.
Não sou livre, nem estou triste.
Mas algo mudou, é inegável.
Não está relacionado só à coragem. É vontade.
A vontade mudou.
Me pego olhando incansavelmente as linhas das mãos como se fosse vê-las em uma conformação diferente, como se a história agora fosse outra.
Não é vontade de Connor, embora a vontade tenha chegado com ele, é vontade de ser diferente.
Eu quero penumbra, quero sombras e o contato entre as pontas dos dedos e o couro cabeludo, quero sussurros, quero o contato dos lábios com a pele.
Quero calor humano, quero descobertas ao som de música lenta.
Eu quero nudez. De corpo e de alma.
Quero ser honesta, quero os dois lados da história parecidos.
Quero arrepios e quero calmaria.
Tem algo de errado comigo.
Ou talvez, eu nunca tenha estado tão
Normal.
23x18 John Doe
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Imagem: TingTing Huang
- São os cabelos, digo a L.
Ela me diz que não é cabelo, é juízo.
Ontem, dizia que era Holden. Agora me diz pra jogar tudo fora, pra me jogar fora.
- É essa tal B. Sem sonhos, sem perspectivas. Só chão e futuro. Você não ama mais, não se machuca, você muda o futuro como se não fosse nada, não sangra, não vive, não questiona. Cadê a mágica, a poesia, o sangue e os átomos? Você não é uma descendente profissional, não é um robô. Você não é pura, nem tão suja. Seu sangue é verde e viscoso, você tem mais coragem do que uma leva de peões seminus vagando na noite escura. Você é a morte dos homens e o terremoto que acorda o Leviatã. É o sangue na pedra e o pulsar do coração nos ouvidos. Você não é o suéter roxo atrás do ponto, não é a menina atrás da tela.
Coloca o oi pra fora da boca, tá na hora de mostrar quem você é.
Isso, ninguém pode fazer por você.
- São os cabelos, digo a L.
Ela me diz que não é cabelo, é juízo.
Ontem, dizia que era Holden. Agora me diz pra jogar tudo fora, pra me jogar fora.
- É essa tal B. Sem sonhos, sem perspectivas. Só chão e futuro. Você não ama mais, não se machuca, você muda o futuro como se não fosse nada, não sangra, não vive, não questiona. Cadê a mágica, a poesia, o sangue e os átomos? Você não é uma descendente profissional, não é um robô. Você não é pura, nem tão suja. Seu sangue é verde e viscoso, você tem mais coragem do que uma leva de peões seminus vagando na noite escura. Você é a morte dos homens e o terremoto que acorda o Leviatã. É o sangue na pedra e o pulsar do coração nos ouvidos. Você não é o suéter roxo atrás do ponto, não é a menina atrás da tela.
Coloca o oi pra fora da boca, tá na hora de mostrar quem você é.
Isso, ninguém pode fazer por você.
23x17 Prescilla
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garota solteira procura,
Imagem: Ting Ting Huang
As histórias que coleciono são sempre as mesmas. Eu as coleciono justamente para ter a certeza de que são as mesmas.
É assim que descubro meus papéis, minhas falas.
Às vezes, queria que as regras não fossem tão rígidas, que minhas personagens não fossem tão planas, queria ter escolhas e ter poder sobre as histórias.
Se eu tivesse escolha, Holden, teríamos nos sentado juntos. Teríamos nos beijado em frente à seção de literatos ingleses, ido ao cinema. Eu conheceria seus pais, conheceria seus segredos e os sinais na sua pele.
Mas não depende de mim, ainda bem.
Eu queria amar você. Queria que você me amasse também. Não quero mais.
Você ama alguém, tem quem te ame, quem conheça seus segredos e os sinais na sua pele.
Vamos não ser amigos.
Por mim, tudo bem.
As histórias que coleciono são sempre as mesmas. Eu as coleciono justamente para ter a certeza de que são as mesmas.
É assim que descubro meus papéis, minhas falas.
Às vezes, queria que as regras não fossem tão rígidas, que minhas personagens não fossem tão planas, queria ter escolhas e ter poder sobre as histórias.
Se eu tivesse escolha, Holden, teríamos nos sentado juntos. Teríamos nos beijado em frente à seção de literatos ingleses, ido ao cinema. Eu conheceria seus pais, conheceria seus segredos e os sinais na sua pele.
Mas não depende de mim, ainda bem.
Eu queria amar você. Queria que você me amasse também. Não quero mais.
Você ama alguém, tem quem te ame, quem conheça seus segredos e os sinais na sua pele.
Vamos não ser amigos.
Por mim, tudo bem.
23x16 After the end
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eles se beijam, a tela escurece, as luzes se acendem.
Acabou, é hora dos créditos.
Mas, o que vem depois?
Fico sentada, Rosa Púrpura do Cairo, e espero, quase sem respirar.
O que vem depois?
Eles brigam?
Ela o trai? Ele fica entediado? Eles têm filhos?
Terminam? Ela conhece, talvez, alguém melhor, alguém mais seguro, mais bonito, mais compatível?
Ele morre cedo? Ele adoece, ele se sente sufocado e foge?
Se cansa dela e para de voltar pra casa?
Quem ela se torna? Quem ele se torna? O que a vida faz com eles? O que fazem com suas vidas?
Eu nunca vi o que vem depois dos créditos, nunca antes pensei que houvesse algo além de escuridão, de feliz pra sempre.
As luzes de apagam novamente e eu espero, tremendo, rezando.
O que quer que venha, por favor
Só venha.
Eles se beijam, a tela escurece, as luzes se acendem.
Acabou, é hora dos créditos.
Mas, o que vem depois?
Fico sentada, Rosa Púrpura do Cairo, e espero, quase sem respirar.
O que vem depois?
Eles brigam?
Ela o trai? Ele fica entediado? Eles têm filhos?
Terminam? Ela conhece, talvez, alguém melhor, alguém mais seguro, mais bonito, mais compatível?
Ele morre cedo? Ele adoece, ele se sente sufocado e foge?
Se cansa dela e para de voltar pra casa?
Quem ela se torna? Quem ele se torna? O que a vida faz com eles? O que fazem com suas vidas?
Eu nunca vi o que vem depois dos créditos, nunca antes pensei que houvesse algo além de escuridão, de feliz pra sempre.
As luzes de apagam novamente e eu espero, tremendo, rezando.
O que quer que venha, por favor
Só venha.
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23x15 Jack of Hearts
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Imagem: TingTing Huang
Que música tocava quando dançamos pela primeira vez?
Que horas eram quando voltei pra casa, depois do nosso primeiro encontro, do nosso último beijo?
Quais as palavras exatas que dissemos naquela noite?
Eu não me lembro, Jack, e eu deveria me lembrar, deveria me importar.
Você tem razão em não falar comigo, em me ignorar.
Eu já quebrei suas pernas tantas vezes, meu querido.
Não me dê mais oportunidades.
Eu faria tudo de novo.
Que música tocava quando dançamos pela primeira vez?
Que horas eram quando voltei pra casa, depois do nosso primeiro encontro, do nosso último beijo?
Quais as palavras exatas que dissemos naquela noite?
Eu não me lembro, Jack, e eu deveria me lembrar, deveria me importar.
Você tem razão em não falar comigo, em me ignorar.
Eu já quebrei suas pernas tantas vezes, meu querido.
Não me dê mais oportunidades.
Eu faria tudo de novo.
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23x14 100 escovadas antes de ir para a aula
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Imagem: TingTing Huang
Bruxa, espírito ruim.
Desde criança, me queimaram na fogueira das ideias, me chamaram de aberração, me internaram e doparam, jogaram no lixo quem eu era, me purgaram com fogo, perfurocortantes e castigos.
Me esfolaram a pele pra tirar a tinta, arrancaram-me as asas, lavaram meus cabelos, me deram espelhos.
Pro meu bem.
Pra que eu não fosse mais marginalizada, pra que eu não fosse mais tão julgada, fosse invisível.
Só precisou de um boato, umas poucas palavras.
Bruxa, espírito ruim, promíscua.
Acendam as fogueiras: preciso recuperar minha invisibilidade.
Bruxa, espírito ruim.
Desde criança, me queimaram na fogueira das ideias, me chamaram de aberração, me internaram e doparam, jogaram no lixo quem eu era, me purgaram com fogo, perfurocortantes e castigos.
Me esfolaram a pele pra tirar a tinta, arrancaram-me as asas, lavaram meus cabelos, me deram espelhos.
Pro meu bem.
Pra que eu não fosse mais marginalizada, pra que eu não fosse mais tão julgada, fosse invisível.
Só precisou de um boato, umas poucas palavras.
Bruxa, espírito ruim, promíscua.
Acendam as fogueiras: preciso recuperar minha invisibilidade.
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23x13 Gazela, parte 2
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Imagem: TingTing Huang
Eu disse que amaria.
Apesar dos defeitos, distância, tempo. Que amaria detalhes, que amaria tudo.
Não consigo.
Agora entendo parte da profundidade, da delicadeza de "Gazela".
Não se pode amar tudo.
Não se pode amar por inteiro.
É isso, ou nunca amei e nem sei o que é isso.
Eu disse que amaria.
Apesar dos defeitos, distância, tempo. Que amaria detalhes, que amaria tudo.
Não consigo.
Agora entendo parte da profundidade, da delicadeza de "Gazela".
Não se pode amar tudo.
Não se pode amar por inteiro.
É isso, ou nunca amei e nem sei o que é isso.
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Early Cuts: Gazela, parte 1
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Gosto de defeitos, de falhas, de histórias. Gosto de letras em lugares errados, gosto de passado, de tristeza.
Gosto da má-postura, da atitude pouco social.
Só não gosto é de mim.
Gosto da má-postura, da atitude pouco social.
Só não gosto é de mim.
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23x12 Menina pássaro
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Imagem: TingTing Huang
Mãe, voltei pra casa.
Me tranca de novo, me dê comida na boca.
Mãe, minhas asas estão feridas, meu bico está torto. Minhas penas caíram, eu mal enxergo os limites entre terra, céu e mar.
Me tranque no quarto escuro, me desensine a falar, a ver e ouvir.
Me faça esquecer tudo o que aprendi lá fora, o que vi, o que sofri.
Só não me obrigue a sair de novo.
Não me deixe sair de novo.
Mãe, voltei pra casa.
Me tranca de novo, me dê comida na boca.
Mãe, minhas asas estão feridas, meu bico está torto. Minhas penas caíram, eu mal enxergo os limites entre terra, céu e mar.
Me tranque no quarto escuro, me desensine a falar, a ver e ouvir.
Me faça esquecer tudo o que aprendi lá fora, o que vi, o que sofri.
Só não me obrigue a sair de novo.
Não me deixe sair de novo.
23x11 Bury the castle
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Da última vez que tentei, chorei de vergonha.
Respiro fundo, guardo tudo pro futuro.
Vai chegar, só tenho que esperar.
O difícil, em dias como esses, é ter a mesma paciência que eu teria se não soubesse de nada.
Da última vez que tentei, chorei de vergonha.
Respiro fundo, guardo tudo pro futuro.
Vai chegar, só tenho que esperar.
O difícil, em dias como esses, é ter a mesma paciência que eu teria se não soubesse de nada.
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23x10 Where the lives overlap
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Imagem: TingTing Huang
Sai de casa, pega um ônibus, isento de culpa. A culpa é de quem fez seus cabelos, a culpa é de quem me fez atrasada, preguiçosa.
A culpa é de um cara que você nunca viu, de uma menina, do Green Day.
Aí você vive os seus dias em completa ignorância, sem nunca se dar conta de que alguém ama você de que alguém amou você, sonhou e escreveu sobre você.
Saem de casa pela manhã, sempre juntos. A culpa é do pai, da cidade, do mistério, da vontade de alguém.
E as vidas vão se entrelaçando, se alinhando.
Aí eu entro, desarrumo, desamarro, levando Otto amarrado à minha vida.
A culpa é do próprio Otto, que some e reaparece quando quer. A culpa é minha e do sangue que me corre nas veias, da necessidade patológica de romance, da parte que me cabe representar.
A culpa é de Shakespeare, J.D. Salinger, da televisão, de Hollywood. Da Meg Ryan, do Tom Hanks.
Não é minha, Lena.
A culpa é da vida, do Renato russo, Juscelino Kubitschek, que nos amarraram juntos.
Tô tentando desafazer os nós e ficar livre, Lena, mas não tem pra onde ir: a mãe disse que algo aconteceria quando houvesse liberdade.
Se eu ficar, é ruim.
Se eu for, é ainda pior.
Sai de casa, pega um ônibus, isento de culpa. A culpa é de quem fez seus cabelos, a culpa é de quem me fez atrasada, preguiçosa.
A culpa é de um cara que você nunca viu, de uma menina, do Green Day.
Aí você vive os seus dias em completa ignorância, sem nunca se dar conta de que alguém ama você de que alguém amou você, sonhou e escreveu sobre você.
Saem de casa pela manhã, sempre juntos. A culpa é do pai, da cidade, do mistério, da vontade de alguém.
E as vidas vão se entrelaçando, se alinhando.
Aí eu entro, desarrumo, desamarro, levando Otto amarrado à minha vida.
A culpa é do próprio Otto, que some e reaparece quando quer. A culpa é minha e do sangue que me corre nas veias, da necessidade patológica de romance, da parte que me cabe representar.
A culpa é de Shakespeare, J.D. Salinger, da televisão, de Hollywood. Da Meg Ryan, do Tom Hanks.
Não é minha, Lena.
A culpa é da vida, do Renato russo, Juscelino Kubitschek, que nos amarraram juntos.
Tô tentando desafazer os nós e ficar livre, Lena, mas não tem pra onde ir: a mãe disse que algo aconteceria quando houvesse liberdade.
Se eu ficar, é ruim.
Se eu for, é ainda pior.
23x09 Eficácia simbólica
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No que é que você acredita?
Em corvos, gatos presos nas fundações com homens que gritam, pedindo amontillado.
Acredito que sonhava com coisas e pessoas que só viria a conhecer mais tarde na vida, que sonhos contêm verdades, que não existem coincidências, que o sangue carrega segredos, que estou aqui há bilhões de anos, que as estrelas, ou as pessoas nelas, olham de volta.
Acredito em ciclos, possibilidades, tapeçarias tecidas só pra serem cortadas por uma menina de um olho só, em apertar as mãos juntas pra sentir a presença de alguém que ainda não chegou.
Acredito em ordem, caos, mulheres que devoram gatos e homens, histórias de todos os tipos, meias verdades e mentiras, no aquecimento global, na existência do timing perfeito, anjos e vampiros.
Acredito em tudo, só pra não ter que acreditar em nada, nunca.
No que é que você acredita?
Em corvos, gatos presos nas fundações com homens que gritam, pedindo amontillado.
Acredito que sonhava com coisas e pessoas que só viria a conhecer mais tarde na vida, que sonhos contêm verdades, que não existem coincidências, que o sangue carrega segredos, que estou aqui há bilhões de anos, que as estrelas, ou as pessoas nelas, olham de volta.
Acredito em ciclos, possibilidades, tapeçarias tecidas só pra serem cortadas por uma menina de um olho só, em apertar as mãos juntas pra sentir a presença de alguém que ainda não chegou.
Acredito em ordem, caos, mulheres que devoram gatos e homens, histórias de todos os tipos, meias verdades e mentiras, no aquecimento global, na existência do timing perfeito, anjos e vampiros.
Acredito em tudo, só pra não ter que acreditar em nada, nunca.
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23x08 Desertora
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Imagem: TingTing Huang
Eu não quero lutar.
Eu quero esperar.
Pela batida na porta, pelo beijo repentino, pela declaração inesperada.
Eu não quero lutar.
Não quero mortos ou feridos, nem arcar com as consequências.
Eu não quero lutar.
Quero que você venha por vontade própria, que perceba que me quer também.
Eu não quero lutar.
Eu não quero, talvez - muito possivelmente -, perder.
Prefiro fugir e nunca saber se fiz a escolha certa.
Eu não quero lutar.
Eu quero esperar.
Pela batida na porta, pelo beijo repentino, pela declaração inesperada.
Eu não quero lutar.
Não quero mortos ou feridos, nem arcar com as consequências.
Eu não quero lutar.
Quero que você venha por vontade própria, que perceba que me quer também.
Eu não quero lutar.
Eu não quero, talvez - muito possivelmente -, perder.
Prefiro fugir e nunca saber se fiz a escolha certa.
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23x07 Locked in
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Imagem: TingTing Huang
Saí de casa.
Saio de casa diariamente, agora.
Não odeio mais as pessoas.
Mas ainda sou eu, não mudei.
Ainda guardo mais segredos do que posso conter, mais pessoas do que consigo lembrar.
E ainda tenho medo de deixar que me vejam.
Saio de casa, mas continuo trancada na minha própria cabeça.
Saí de casa.
Saio de casa diariamente, agora.
Não odeio mais as pessoas.
Mas ainda sou eu, não mudei.
Ainda guardo mais segredos do que posso conter, mais pessoas do que consigo lembrar.
E ainda tenho medo de deixar que me vejam.
Saio de casa, mas continuo trancada na minha própria cabeça.
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23x06 Plants vs. Zombies
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Em casa, um frio dos diabos mantém conservado meu cadáver favorito.
- Olá, eu digo.
Ele me responde com um beijo levemente fétido, gosto de limão e álcool, gosto de morte.
A cada dia que passa, ele morre um pouco mais, apodrece, sem que eu possa fazer nada.
Não quero que ele morra de vez, quero que ele fique, mesmo assim, meio vivo, meio morto.
- Você podou a planta hoje? - ele pergunta, olhando pela janela - Ela parece enorme, fica maior a cada dia. Vai acabar invadindo a casa, estragando a fundação. Quer que eu faça isso?
- Não, deixa. Eu vou.
Armada com a tesoura de poda, vou até o jardim de inverno.
A planta tem o tamanho de um homem, as formas de um homem. Maior do que eu, talvez maior do que ele. Não é o tamanho que assusta, é a quantidade de raízes que ela tem, a capacidade que ela tem de invadir as estruturas, de sugar todos os nutrientes do solo, a ponto de que mais nada cresça à sua volta.
Começo a cortar, lentamente, e o sangue começa a jorrar e a me sujar.
- Eu sinto muito, muito mesmo. - sussurro.
Corto dedos formados por um emaranhado de ramos, corto pernas, raízes fortes e firmes. Tudo sangra muito e eu paro, esperando ouvir um gemido, um grito, ao menos um "não faça isso". Não ouço nada, continuo. E ela continua lá, parada, silenciosa, sangrando. Corto braços.
E, quando estou prestes a cortar sua cabeça, não consigo.
Não entendo o porquê, apenas não consigo.
Não é medo de ficar só, estar com ela é estar só. Acho que é esperança. Espero que ela cresça normalmente, que pare de destruir minhas fundações, que pare de lançar ramos em todos os lugares.
Então a deixo assim, entro em casa, pro velho e aconchegante cheiro de podre e digo a ele, acreditando mesmo nisso: - Acabou.
E ele, ainda olhando pela janela, nem se vira pra responder:
- Será mesmo?
Em casa, um frio dos diabos mantém conservado meu cadáver favorito.
- Olá, eu digo.
Ele me responde com um beijo levemente fétido, gosto de limão e álcool, gosto de morte.
A cada dia que passa, ele morre um pouco mais, apodrece, sem que eu possa fazer nada.
Não quero que ele morra de vez, quero que ele fique, mesmo assim, meio vivo, meio morto.
- Você podou a planta hoje? - ele pergunta, olhando pela janela - Ela parece enorme, fica maior a cada dia. Vai acabar invadindo a casa, estragando a fundação. Quer que eu faça isso?
- Não, deixa. Eu vou.
Armada com a tesoura de poda, vou até o jardim de inverno.
A planta tem o tamanho de um homem, as formas de um homem. Maior do que eu, talvez maior do que ele. Não é o tamanho que assusta, é a quantidade de raízes que ela tem, a capacidade que ela tem de invadir as estruturas, de sugar todos os nutrientes do solo, a ponto de que mais nada cresça à sua volta.
Começo a cortar, lentamente, e o sangue começa a jorrar e a me sujar.
- Eu sinto muito, muito mesmo. - sussurro.
Corto dedos formados por um emaranhado de ramos, corto pernas, raízes fortes e firmes. Tudo sangra muito e eu paro, esperando ouvir um gemido, um grito, ao menos um "não faça isso". Não ouço nada, continuo. E ela continua lá, parada, silenciosa, sangrando. Corto braços.
E, quando estou prestes a cortar sua cabeça, não consigo.
Não entendo o porquê, apenas não consigo.
Não é medo de ficar só, estar com ela é estar só. Acho que é esperança. Espero que ela cresça normalmente, que pare de destruir minhas fundações, que pare de lançar ramos em todos os lugares.
Então a deixo assim, entro em casa, pro velho e aconchegante cheiro de podre e digo a ele, acreditando mesmo nisso: - Acabou.
E ele, ainda olhando pela janela, nem se vira pra responder:
- Será mesmo?
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