Imagem: TingTing Huang
"Me dá a mão",
eu peço.
Mas você não pode. Suas mãos estão cheias, ocupadas, sujas de sangue e memórias arrancadas às pressas.
Eu preciso de você. Hoje, agora.
Mas você não pode ficar. Está tarde.
Muito, muito tarde.
Tarde demais.
Eu só preciso de mais tempo.
Um pouco de tempo, pra melhorar, pra ficar bem.
Pra ficarmos bem.
Mas você não pode esperar.
Seu trem chegou e tem outros lugares pra onde você quer ir.
Lugares onde eu não posso ir.
Eu quero te pedir pra ficar,
eu te peço pra ficar,
mas você não pode dizer nada.
É segredo, uma das coisas que eu nunca devo entender.
Viajo o mundo,
fujo de casa,
fujo de mim,
pra ir atrás de nós,
no meio de um deserto de concreto.
Mas você não pode me beijar com os lábios colados aos de outras pessoas.
E agora eu vejo, não entendo completamente, mas percebo:
tudo o que você tinha que fazer era ficar.
Mas você não podia, você não podia mais.
E eu entendo que você tinha seu próprio sangue pra purificar,
mas eu não posso mais achar desculpas pra você.
Preciso achar desculpas pra mim.
E me perdoar por não ter sido perfeita.
Por não ser perfeita.
Eu te pedi pra ficar,
e você foi embora.
Tudo bem,
continue.
Continue andando,
não olhe pra trás.
Não tem nada lá.
44x07 Living easy and learning how to say goodbye
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Ninguém me ensinou a dizer adeus. A encerrar capítulos, a dar grandes finais às histórias.
Meus cadernos são cheios de começos, meios. De quase fins.
Meus romances,
meus cadernos da escola,
minhas redações,
meus pensamentos.
Meus mortos.
Não conheço despedidas.
Não me ensinaram a dizer adeus.
Nem até breve.
Nem até logo, continuemos, vamos melhorar, vamos crescer.
Não me ensinaram a dar longos abraços que dizem "te amo, volte logo, venha mais vezes". Me ensinaram a acenar.
Não me ensinaram a dizer o que sinto quando você vai embora. Me ensinaram a te esperar voltar.
Não me ensinaram a dizer que te amo, que te quero bem, que tudo bem, me ensinaram a ficar em silêncio e esperar sua partida.
Estou melhor. Estou aprendendo a dizer agora não.
Até breve, se tanto.
Aprendi a dizer: quem sabe um dia.
Aprendi a respirar fundo e deixar passar um pouco a raiva e a dor. E a deitar na cama e dormir.
Ainda não aprendi a dizer adeus. Ainda não aprendi a dar aquele abraço gostoso de boa viagem, até breve, eu te amo, volte logo, estarei te esperando, cresça feliz, seja feliz, fique bem.
Mas, quem sabe, um dia eu aprenda.
Quem sabe, alguém me ensina.
E aí eu te ensino.
Talvez.
Ninguém me ensinou a dizer adeus. A encerrar capítulos, a dar grandes finais às histórias.
Meus cadernos são cheios de começos, meios. De quase fins.
Meus romances,
meus cadernos da escola,
minhas redações,
meus pensamentos.
Meus mortos.
Não conheço despedidas.
Não me ensinaram a dizer adeus.
Nem até breve.
Nem até logo, continuemos, vamos melhorar, vamos crescer.
Não me ensinaram a dar longos abraços que dizem "te amo, volte logo, venha mais vezes". Me ensinaram a acenar.
Não me ensinaram a dizer o que sinto quando você vai embora. Me ensinaram a te esperar voltar.
Não me ensinaram a dizer que te amo, que te quero bem, que tudo bem, me ensinaram a ficar em silêncio e esperar sua partida.
Estou melhor. Estou aprendendo a dizer agora não.
Até breve, se tanto.
Aprendi a dizer: quem sabe um dia.
Aprendi a respirar fundo e deixar passar um pouco a raiva e a dor. E a deitar na cama e dormir.
Ainda não aprendi a dizer adeus. Ainda não aprendi a dar aquele abraço gostoso de boa viagem, até breve, eu te amo, volte logo, estarei te esperando, cresça feliz, seja feliz, fique bem.
Mas, quem sabe, um dia eu aprenda.
Quem sabe, alguém me ensina.
E aí eu te ensino.
Talvez.
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44x06 Birthplace
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Acordo.
Mas não sou a mesma.
Não quero me levantar.
Quero dormir, quero fechar as cortinas, cobrir a cabeça.
Quero ficar.
Só hoje, quero ficar.
Mas vou.
Saio da cama, piso no chão gelado, está escuro lá fora.
Eu vou.
Tomo banho quente, derreto,
escovo os dentes.
Visto a roupa,
jeans escuros,
olheiras enormes,
e tênis
que eu possa sujar de sangue.
Por que é que eu me levanto?
Por que dirijo tanto, por que como tão pouco, por que estudo até a cabeça doer?
Acho que entendi.
Amo isso.
Amo tudo isso.
Amo ser isso.
Amo estar aqui.
Amo o homem cujos pulmões guardavam um segredo,
e a mulher que não tinha mais segredos guardados pelo sangue,
cada coração que tem medo de parar.
Amo cada batimento acelerado de bebê,
e gritos de mulher parindo.
E sou boa.
Finalmente, Deus,
sou boa.
Eu enxergo as pessoas.
Eu não sei de tudo, eu não sei de nada,
mas eu sei sobre o momento certo pra tocar minhas mãos nas suas,
e a entonação da minha voz,
e sobre aquele sorriso que só uma mãe pode ter.
Estou exausta.
Não aguento,
não aguento mais fazer força.
Mas eu aguento.
Eu consigo.
Digo a elas, todos os dias,
"Você consegue"
"A pior parte já passou"
"Você vai ficar tão orgulhosa depois"
"Eu estou aqui pra te ajudar".
Estou dizendo pra mim também.
E eu consigo.
No meio de todo esse caos,
tantas batalhas perdidas,
tanto pra ganhar e tanto pra perder:
só preciso fazer força.
Prender a respiração e empurrar, com força, força que nem sei de onde sai.
Mas dá.
É o suficiente, aquele tantinho que serve pra gente chegar lá,
se conhecer,
se reconhecer.
- Não sei se te contaram, mas eu vou contar: vai doer. Vai doer. Não é como nos filmes. Você vai sentir muita dor, vai achar que não tem mais forças, que vai desmaiar a qualquer instante, que não vai conseguir. Mas você consegue. Você consegue fazer qualquer coisa. Preciso que você se lembre disso, ok? Você consegue fazer qualquer coisa.
Preciso que se lembre disso.
Ok?
Acordo.
Mas não sou a mesma.
Não quero me levantar.
Quero dormir, quero fechar as cortinas, cobrir a cabeça.
Quero ficar.
Só hoje, quero ficar.
Mas vou.
Saio da cama, piso no chão gelado, está escuro lá fora.
Eu vou.
Tomo banho quente, derreto,
escovo os dentes.
Visto a roupa,
jeans escuros,
olheiras enormes,
e tênis
que eu possa sujar de sangue.
Por que é que eu me levanto?
Por que dirijo tanto, por que como tão pouco, por que estudo até a cabeça doer?
Acho que entendi.
Amo isso.
Amo tudo isso.
Amo ser isso.
Amo estar aqui.
Amo o homem cujos pulmões guardavam um segredo,
e a mulher que não tinha mais segredos guardados pelo sangue,
cada coração que tem medo de parar.
Amo cada batimento acelerado de bebê,
e gritos de mulher parindo.
E sou boa.
Finalmente, Deus,
sou boa.
Eu enxergo as pessoas.
Eu não sei de tudo, eu não sei de nada,
mas eu sei sobre o momento certo pra tocar minhas mãos nas suas,
e a entonação da minha voz,
e sobre aquele sorriso que só uma mãe pode ter.
Estou exausta.
Não aguento,
não aguento mais fazer força.
Mas eu aguento.
Eu consigo.
Digo a elas, todos os dias,
"Você consegue"
"A pior parte já passou"
"Você vai ficar tão orgulhosa depois"
"Eu estou aqui pra te ajudar".
Estou dizendo pra mim também.
E eu consigo.
No meio de todo esse caos,
tantas batalhas perdidas,
tanto pra ganhar e tanto pra perder:
só preciso fazer força.
Prender a respiração e empurrar, com força, força que nem sei de onde sai.
Mas dá.
É o suficiente, aquele tantinho que serve pra gente chegar lá,
se conhecer,
se reconhecer.
- Não sei se te contaram, mas eu vou contar: vai doer. Vai doer. Não é como nos filmes. Você vai sentir muita dor, vai achar que não tem mais forças, que vai desmaiar a qualquer instante, que não vai conseguir. Mas você consegue. Você consegue fazer qualquer coisa. Preciso que você se lembre disso, ok? Você consegue fazer qualquer coisa.
Preciso que se lembre disso.
Ok?
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44x05 Piano man
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Imagem: TingTing Huang
- B., não tenha filhos.
Ela diz, de forma pausada, séria. Assim, usando meu primeiro nome.
Me causa arrepios.
Toque.
Toque.
Toque.
E ele o fez.
Até sangrarem os dedos, sujando todo o piano de sangue.
Toque.
Toque.
Toque.
Ele precisava tocar.
E precisava dela pra tocar.
Energia vital correndo nas veias, ele me diz que tocou as melhores músicas de sua vida.
Todo mundo usa,
mas só eu sou doente.
Toque.
Toque.
Toque.
Mais
Mais alto
Mais forte
Melhor
E ele o fez.
Tocou.
Tocou.
Tocou.
O que mais?
O que mais existe?
Pra que mais serve o dinheiro,
e o sexo,
e estar vivo,
e ser?
Senão pra tocar, mais e melhor,
mais.
E a música
a música
ele só queria viver de música.
Por que fazer diferente?
Estava tudo bem.
- Não tenha filhos
As noites desaparecido,
mulheres sem rosto que somem,
e o cheiro de estar vivo,
a dor de acordar no próprio corpo,
quanto
onde
como
o gosto de sangue
e o gosto amargo de remédios pra todas as coisas ruins que a vida traz.
- Não tenha filhos.
Mas
Ele tira da mochila tantos comprimidos, tantos
- Ela não me quer em casa, acha que vou morrer
Ela olha pra mim,
mea culpa,
the sins of the mother
como se o tivesse amamentado com música, dor, ketamina e loucura.
- Não tenha filhos,
ela diz.
Não tenha filhos.
- B., não tenha filhos.
Ela diz, de forma pausada, séria. Assim, usando meu primeiro nome.
Me causa arrepios.
Toque.
Toque.
Toque.
E ele o fez.
Até sangrarem os dedos, sujando todo o piano de sangue.
Toque.
Toque.
Toque.
Ele precisava tocar.
E precisava dela pra tocar.
Energia vital correndo nas veias, ele me diz que tocou as melhores músicas de sua vida.
Todo mundo usa,
mas só eu sou doente.
Toque.
Toque.
Toque.
Mais
Mais alto
Mais forte
Melhor
E ele o fez.
Tocou.
Tocou.
Tocou.
O que mais?
O que mais existe?
Pra que mais serve o dinheiro,
e o sexo,
e estar vivo,
e ser?
Senão pra tocar, mais e melhor,
mais.
E a música
a música
ele só queria viver de música.
Por que fazer diferente?
Estava tudo bem.
- Não tenha filhos
As noites desaparecido,
mulheres sem rosto que somem,
e o cheiro de estar vivo,
a dor de acordar no próprio corpo,
quanto
onde
como
o gosto de sangue
e o gosto amargo de remédios pra todas as coisas ruins que a vida traz.
- Não tenha filhos.
Mas
Ele tira da mochila tantos comprimidos, tantos
- Ela não me quer em casa, acha que vou morrer
Ela olha pra mim,
mea culpa,
the sins of the mother
como se o tivesse amamentado com música, dor, ketamina e loucura.
- Não tenha filhos,
ela diz.
Não tenha filhos.
44x04 It takes one
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Eu quero morrer. Eu só quero morrer - ela diz.
Conta uma história de ninar sobre viagens, idiomas, pais, filhos e o colchão.
Eu sei.
É a mesma história, de novo e de novo.
Eu quero morrer, mas nunca "me deixe morrer", por quê?
Por que você acha que tem escolha?
Nada aqui é real. Nada é seu. Nem mesmo você, sua vida, sua mente.
Nem as cores das cores ou o rosto das pessoas, seus olhos.
Ela caminha sobre a borda, quase cai, espero,
feito uma predadora.
"Venha"
E ele diz que me sente tocá-lo durante a noite, sente meu hálito queimar seu rosto e ouve a minha voz, minhas vozes.
Mas por que ele não vem?
Você não sabe quem sou?
Eu acordei ao seu lado e te dei o primeiro beijo do dia.
Fizemos amor, e você saiu pelas ruas, nu, gritando meu nome.
Eu decido se você pode ou não ser feliz.
E você está, não está?
Você é o dono do mundo. E eu sou sua dona.
Seus olhos pertencem a mim. E você sabe. Sempre soube. Antes mesmo de saber.
Eu estava lá quando você nasceu. Você não se lembra, mas eu te fiz dormir. Eu te fiz sonhar e sonhar até que você não soubesse mais acordar.
Eu te dei sede,
e a cura pra toda a dor.
Eu te dei amor e o calor necessário pra que você nunca mais queira ir embora.
Eu estou aqui.
Te dizendo que eles querem te ferir.
Eles querem te machucar,
mas eu não.
Tire suas roupas.
Corra, nu.
Livre.
Venha, venha comigo.
Você não é nada.
Você nunca será nada.
Você é lixo.
Doente, nojenta.
Você não serve pra nada.
Eu digo,
e te causo dor,
eu consigo sentir sua dor,
apertando,
roendo,
mas é o que eu faço.
Eu sinto muito, é o que eu faço.
Não tome seus remédios.
Você não precisa deles hoje.
Você está bem.
Você está curado.
Então eu escorro pela língua dela feito melado,
e ela se derrete,
está segura.
Todos estão seguros.
Você está segura.
A salvo do mundo
e das coisas ruins que ele pode fazer com você,
mas tem um preço,
pequeno,
você pode pagar,
é tão pequeno,
vá até o banheiro,
pegue gilete.
Eu não consigo dormir sem a minha mãe.
Existem monstros no escuro,
eu sou um monstro no escuro,
ela é.
Se eu acordar de manhã,
só não quero estar só.
Não pare de gritar,
ou elas vão te encontrar,
vão te encontrar onde quer que você esteja
e vão te fazer mal,
fuja
fuja
fuja
"me deixa ir embora
me deixa ir embora
me deixa ir embora, doutora
eu ja to bem. ", ela diz, enquanto eu acaricio seus cabelos brancos, com cheiro de suor , chuva e sabão e sussurro em seu ouvido cantigas de amor.
A médica levanta a cabeça, olha fundo nos olhos dela e diz
"Ainda não", e desvia o olhar
pra olhar pra mim.
Ela pode me ver.
Corre, prescreve pílulas e mais pílulas, tantas
pra que eu durma um pouco mais.
Mas aí ela vai pra casa, dirigindo,
fugindo de velhos fantasmas e medos absurdos de crianças,
e, quando chega,
eu estou lá esperando por ela,
feito uma predadora.
- Eu quero morrer. Eu só quero morrer - ela diz.
Conta uma história de ninar sobre viagens, idiomas, pais, filhos e o colchão.
Eu sei.
É a mesma história, de novo e de novo.
Eu quero morrer, mas nunca "me deixe morrer", por quê?
Por que você acha que tem escolha?
Nada aqui é real. Nada é seu. Nem mesmo você, sua vida, sua mente.
Nem as cores das cores ou o rosto das pessoas, seus olhos.
Ela caminha sobre a borda, quase cai, espero,
feito uma predadora.
"Venha"
E ele diz que me sente tocá-lo durante a noite, sente meu hálito queimar seu rosto e ouve a minha voz, minhas vozes.
Mas por que ele não vem?
Você não sabe quem sou?
Eu acordei ao seu lado e te dei o primeiro beijo do dia.
Fizemos amor, e você saiu pelas ruas, nu, gritando meu nome.
Eu decido se você pode ou não ser feliz.
E você está, não está?
Você é o dono do mundo. E eu sou sua dona.
Seus olhos pertencem a mim. E você sabe. Sempre soube. Antes mesmo de saber.
Eu estava lá quando você nasceu. Você não se lembra, mas eu te fiz dormir. Eu te fiz sonhar e sonhar até que você não soubesse mais acordar.
Eu te dei sede,
e a cura pra toda a dor.
Eu te dei amor e o calor necessário pra que você nunca mais queira ir embora.
Eu estou aqui.
Te dizendo que eles querem te ferir.
Eles querem te machucar,
mas eu não.
Tire suas roupas.
Corra, nu.
Livre.
Venha, venha comigo.
Você não é nada.
Você nunca será nada.
Você é lixo.
Doente, nojenta.
Você não serve pra nada.
Eu digo,
e te causo dor,
eu consigo sentir sua dor,
apertando,
roendo,
mas é o que eu faço.
Eu sinto muito, é o que eu faço.
Não tome seus remédios.
Você não precisa deles hoje.
Você está bem.
Você está curado.
Então eu escorro pela língua dela feito melado,
e ela se derrete,
está segura.
Todos estão seguros.
Você está segura.
A salvo do mundo
e das coisas ruins que ele pode fazer com você,
mas tem um preço,
pequeno,
você pode pagar,
é tão pequeno,
vá até o banheiro,
pegue gilete.
Eu não consigo dormir sem a minha mãe.
Existem monstros no escuro,
eu sou um monstro no escuro,
ela é.
Se eu acordar de manhã,
só não quero estar só.
Não pare de gritar,
ou elas vão te encontrar,
vão te encontrar onde quer que você esteja
e vão te fazer mal,
fuja
fuja
fuja
"me deixa ir embora
me deixa ir embora
me deixa ir embora, doutora
eu ja to bem. ", ela diz, enquanto eu acaricio seus cabelos brancos, com cheiro de suor , chuva e sabão e sussurro em seu ouvido cantigas de amor.
A médica levanta a cabeça, olha fundo nos olhos dela e diz
"Ainda não", e desvia o olhar
pra olhar pra mim.
Ela pode me ver.
Corre, prescreve pílulas e mais pílulas, tantas
pra que eu durma um pouco mais.
Mas aí ela vai pra casa, dirigindo,
fugindo de velhos fantasmas e medos absurdos de crianças,
e, quando chega,
eu estou lá esperando por ela,
feito uma predadora.
44x03 Entre os horizontes da ordem e do sonho
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Como é?
Como você chegou aqui?
- Eu não me lembro.
Só sei que foi assim.
Um homem me conta que foi dormir
e acordou outro
que nunca mais dormiu.
Como o menino que nunca dormia.
"É porque eu tomava muito café",
ele me justificou.
- Deus falou comigo sobre as tribulações.
Ele me mostrou a morte e o sofrimento.
Como alguém não ficaria louco ao ver isso?
Como eu sei que você não tá falando a verdade?
- Tem um chip na minha cabeça. Um dispositivo. Da china. Só quem tem um desses pode se comunicar comigo.
Ah.
- E tem clones meus. Em todos os lugares.
- Eu quero morrer.
- Por que?
- To cansado disso tudo. De vocês, de remédios. Eu quero morrer. Se você me der alta, eu vou me matar.
- Eu quero sair daqui e ser pastor. Estudar teologia. E psicologia.
- Você tá com vontade de beber?
- Nunca mais.
- Quero fumar. Você tem um cigarro?
- Tenho não. De onde você veio?
- ... Quero fumar
- Meu filho disse que o que eu tenho é frescura, dra., que só quero chamar atenção. Se você me disser que é preguiça, que é falta de vergonha, eu dou um jeito. Eu só quero saber.
- Que dia é hoje?
- Fica com Deus.
Cortes, cortes e mais cortes. Superficiais e profundos, nos braços inteiros, feito uma floresta de pêlos, feito listras de tigresa, uma tigresa ferida.
- Vai pra casa e não volta.
Não, não volta.
Mas ela tá mesmo legal?
- Quando ela chegou aqui, ela nem falava. Não comia. Não se levantava da cama. Fazia as necessidades deitada mesmo. Quase uma catatonia. Melhorou demais. Mas ainda tem muita luta pela frente.
- Me deixa ir embora doutor, pelo amor de Deus
- Não quero ir embora não, só quero sair quando eu estiver estável. Sabe, tem até coisas boas na esquizofrenia? Tem passe pra viajar pra onde eu quiser. Até o nome eu acho bonito às vezes.
- Você não acredita em mim, Dra., mas Deus falou comigo, ele me revela coisas, ele me diz coisas. Nem todo mundo acredita, mas é verdade. Ele me escolheu.
- Quero ser uma menina. Meninas são meigas, delicadas e todo mundo quer ficar perto delas.
- Eu tomei banho hoje.
- Não melhorei nada.
- Estão colocando remédios na minha comida. Eu conheço meu corpo.
- Posso ir pra casa amanhã, doutor?
Que loucura querer fazer isso pra sempre.
"Eu amo psiquiatria. Eu não faria outra coisa".
É,
acho que nem eu.
Como é?
Como você chegou aqui?
- Eu não me lembro.
Só sei que foi assim.
Um homem me conta que foi dormir
e acordou outro
que nunca mais dormiu.
Como o menino que nunca dormia.
"É porque eu tomava muito café",
ele me justificou.
- Deus falou comigo sobre as tribulações.
Ele me mostrou a morte e o sofrimento.
Como alguém não ficaria louco ao ver isso?
Como eu sei que você não tá falando a verdade?
- Tem um chip na minha cabeça. Um dispositivo. Da china. Só quem tem um desses pode se comunicar comigo.
Ah.
- E tem clones meus. Em todos os lugares.
- Eu quero morrer.
- Por que?
- To cansado disso tudo. De vocês, de remédios. Eu quero morrer. Se você me der alta, eu vou me matar.
- Eu quero sair daqui e ser pastor. Estudar teologia. E psicologia.
- Você tá com vontade de beber?
- Nunca mais.
- Quero fumar. Você tem um cigarro?
- Tenho não. De onde você veio?
- ... Quero fumar
- Meu filho disse que o que eu tenho é frescura, dra., que só quero chamar atenção. Se você me disser que é preguiça, que é falta de vergonha, eu dou um jeito. Eu só quero saber.
- Que dia é hoje?
- Fica com Deus.
Cortes, cortes e mais cortes. Superficiais e profundos, nos braços inteiros, feito uma floresta de pêlos, feito listras de tigresa, uma tigresa ferida.
- Vai pra casa e não volta.
Não, não volta.
Mas ela tá mesmo legal?
- Quando ela chegou aqui, ela nem falava. Não comia. Não se levantava da cama. Fazia as necessidades deitada mesmo. Quase uma catatonia. Melhorou demais. Mas ainda tem muita luta pela frente.
- Me deixa ir embora doutor, pelo amor de Deus
- Não quero ir embora não, só quero sair quando eu estiver estável. Sabe, tem até coisas boas na esquizofrenia? Tem passe pra viajar pra onde eu quiser. Até o nome eu acho bonito às vezes.
- Você não acredita em mim, Dra., mas Deus falou comigo, ele me revela coisas, ele me diz coisas. Nem todo mundo acredita, mas é verdade. Ele me escolheu.
- Quero ser uma menina. Meninas são meigas, delicadas e todo mundo quer ficar perto delas.
- Eu tomei banho hoje.
- Não melhorei nada.
- Estão colocando remédios na minha comida. Eu conheço meu corpo.
- Posso ir pra casa amanhã, doutor?
Que loucura querer fazer isso pra sempre.
"Eu amo psiquiatria. Eu não faria outra coisa".
É,
acho que nem eu.
44x02 Quero minha mãe
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Não consigo.
Tá pesando.
Todo dia uma coisa nova,
um texto,
e eu tenho que estudar,
eu tenho que fazer as compras,
eu tenho que arrumar as malas,
achar um lugar pra morar.
Eu tenho que pagar uma conta,
eu tenho que arrumar um emprego,
eu tenho que não me sentir mal por ser adulta, porque é assim que é a vida,
eu tenho que passar a roupa e arrumar as coisas, e dirigir pra todo o lado da cidade, eu não posso esquecer desse compromisso,
e de estar em casa às 19h,
de mandar essa mensagem, fazer essa reserva,
ler esses artigos,
conversar com o senhorio,
estudar neurotrauma,
tirar as roupas do varal,
comprar um guarda-chuva,
arrumar dinheiro,
ir ao hospital,
dormir e beber água,
Eu tenho que não cair de sono antes de tomar os remédios, lavar o rosto, tirar a maquiagem, escovar os dentes, passar creme nos pés, cortar as unhas
Eu tenho que tomar banho
e lavar os sapatos
sempre ter calcinhas limpas,
enquanto sei tudo sobre comunicação de más notícias
Pôster e artigos,
eu preciso nunca esquecer de prescrever todas as pacientes,
abastecer o carro,
trocar a bateria,
arrumar os relógios e encher as garrafas de água,
eu preciso não parar pra jogar ou ler ou assistir filmes e novelas,
e fazer exercícios,
e arrumar meu quarto, e manter meu quarto arrumado,
limpar a geladeira
e o banheiro,
e mandar mensagem pro meu pai,
e pros meus amigos,
e pentear os cabelos, hidratar os cabelos, matizar os cabelos,
limpar minha bolsa, mandar os boletos pro e-mail,
ir ao banco,
ir à faculdade,
comprovante de endereço,
ir à papelaria, comprar um creme e um repelente,
e não gastar dinheiro.
Tenho que lembrar de não bater o carro - de novo - e de não levar multas.
De trancar a porta, fechar as janelas, tirar as coisas da tomada,
não esquecer o carregador, blusa de frio, comida,
sapatos,
o estetoscópio.
nem os jalecos limpos.
Não posso esquecer as toalhas, de limpar as cortinas,
jogar o lixo fora.
Eu nunca posso esquecer nada,
nem fazer nada de errado,
nem parar.
Tenho que lembrar de não ficar triste,
nem chorar porque isso me faz perder tempo.
Lembrar de comer,
de dormir,
de meditar,
de respirar.
Eu só quero colo.
Que me digam que dá pra fazer, que dá pra lembrar, que dá pra esperar, que melhora.
Mas não melhora.
Só piora.
Preciso me lembrar disso também,
só piora.
Não consigo.
Tá pesando.
Todo dia uma coisa nova,
um texto,
e eu tenho que estudar,
eu tenho que fazer as compras,
eu tenho que arrumar as malas,
achar um lugar pra morar.
Eu tenho que pagar uma conta,
eu tenho que arrumar um emprego,
eu tenho que não me sentir mal por ser adulta, porque é assim que é a vida,
eu tenho que passar a roupa e arrumar as coisas, e dirigir pra todo o lado da cidade, eu não posso esquecer desse compromisso,
e de estar em casa às 19h,
de mandar essa mensagem, fazer essa reserva,
ler esses artigos,
conversar com o senhorio,
estudar neurotrauma,
tirar as roupas do varal,
comprar um guarda-chuva,
arrumar dinheiro,
ir ao hospital,
dormir e beber água,
Eu tenho que não cair de sono antes de tomar os remédios, lavar o rosto, tirar a maquiagem, escovar os dentes, passar creme nos pés, cortar as unhas
Eu tenho que tomar banho
e lavar os sapatos
sempre ter calcinhas limpas,
enquanto sei tudo sobre comunicação de más notícias
Pôster e artigos,
eu preciso nunca esquecer de prescrever todas as pacientes,
abastecer o carro,
trocar a bateria,
arrumar os relógios e encher as garrafas de água,
eu preciso não parar pra jogar ou ler ou assistir filmes e novelas,
e fazer exercícios,
e arrumar meu quarto, e manter meu quarto arrumado,
limpar a geladeira
e o banheiro,
e mandar mensagem pro meu pai,
e pros meus amigos,
e pentear os cabelos, hidratar os cabelos, matizar os cabelos,
limpar minha bolsa, mandar os boletos pro e-mail,
ir ao banco,
ir à faculdade,
comprovante de endereço,
ir à papelaria, comprar um creme e um repelente,
e não gastar dinheiro.
Tenho que lembrar de não bater o carro - de novo - e de não levar multas.
De trancar a porta, fechar as janelas, tirar as coisas da tomada,
não esquecer o carregador, blusa de frio, comida,
sapatos,
o estetoscópio.
nem os jalecos limpos.
Não posso esquecer as toalhas, de limpar as cortinas,
jogar o lixo fora.
Eu nunca posso esquecer nada,
nem fazer nada de errado,
nem parar.
Tenho que lembrar de não ficar triste,
nem chorar porque isso me faz perder tempo.
Lembrar de comer,
de dormir,
de meditar,
de respirar.
Eu só quero colo.
Que me digam que dá pra fazer, que dá pra lembrar, que dá pra esperar, que melhora.
Mas não melhora.
Só piora.
Preciso me lembrar disso também,
só piora.
44x01 Últimas palavras
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Imagem: TingTing Huang
Caro amigo,
eu tenho medo. De você, de mim, do futuro.
O que está acontecendo?
O que você está pensando?
Você não tem medo?
Das pessoas nas ruas, dos seus amigos que demoram a voltar pra casa nas noites de domingo, dos amigos que aos poucos precisam deixar de ser quem são.
Tenho medo, confesso, de estar enlouquecendo. De estar errada. De que você esteja certo. De que ele seja mesmo o melhor para o país.
Mas se eu estou errada, a imprensa internacional está errada, se tudo em que acredito é mentira, se estou sendo manipulada e você não, então eu não entendo mais nada.
eu não entendo mais de livros, de história,
do medo do povo que queria poder escolher - e que você talvez acredite que era bandido,
não entendo mais de tortura, e de como é uma coisa horrível e revoltante - que você talvez ache que foi feita só com gente que merecia, mas que ninguém merece, ninguém, por pior que seja. E me olha no olho, não grita comigo, eu não discordo de punições, eu discordo de estupro corretivo, de choques elétricos e de colocar animais vivos nos genitais das pessoas.
Meu amor, se você tá certo, eu não entendo de gente que apanha, que morre só por existir, que morre só por estar ali, por ser, por querer.
Se você tá certo, então eu tô errada em querer mais do que eu tenho, em querer ser igual, em querer ter voz.
Meu amor, você tá me dizendo que eu não entendo, então você deve entender porque você sabe tanto, eu te amo tanto, porque você talvez vá ser médico um dia, ou vai cuidar de pessoas de algum modo, vai educar filhos, você tem pai, mãe, irmãos, você me tem,
e tá me dizendo que não liga,
que a solução do Brasil é a morte de quem pensa diferente, de quem é diferente, de quem quer diferente do que você quer.
Se você tá certo, então eu tô errada em achar que tá tudo perdido, eu tô errada em ter medo de dizer em voz alta o que penso porque eu tenho medo de que a minha família pague por isso em alguns dias, alguns meses. Tô com medo de sair na rua com a camiseta errada, com o adesivo errado, com a opinião errada.
Se você tá certo, então eu tô errada por achar que muitos dos meus vão se machucar, que o sangue deles vai estar mais e mais espalhado por aí, pelas esquinas, nas próprias casas, canivetes, nas mãos de homens e mulheres comuns.
Se você tá certo, então eu tô muito errada, muito errada, sonhando com um mundo absurdo onde as pessoas podem se amar, opinar, andar nas ruas, onde eu posso ser quem eu quero ser, onde eu não preciso me preocupar com qual banheiro meu amigo vai usar, e com quem ele vai encontrar sozinho nas ruas, ou se ele vai andar de mãos dadas.
Se você tá certo,
então eu não quero estar.
Eu amo você,
e eu ainda morro se for preciso pra defender a tua opinião divergente,
morro por causa dela,
mas jamais concordar com ela.
Nunca.
Nós talvez não sejamos mais amigos - como podemos ser amigos assim? Você me fere, me machuca. Você não é estúpido, é a pessoa mais incrível do mundo. E, ainda assim, escolheu seu lado. -
Mas eu amo você,
sempre vou.
Se um dia nos encontrarmos de novo, não desejo que um de nós esteja mais certo do que o outro, não.
Eu não quero dizer: "Eu avisei"
Eu quero dizer "Olá". Eu quero estar bem. Quero que você esteja bem.
Quero que esteja tudo bem.
E que possamos caminhar juntos.
Agora não dá,
mas quem sabe um dia?
Com amor,
todo o amor,
B.
Caro amigo,
eu tenho medo. De você, de mim, do futuro.
O que está acontecendo?
O que você está pensando?
Você não tem medo?
Das pessoas nas ruas, dos seus amigos que demoram a voltar pra casa nas noites de domingo, dos amigos que aos poucos precisam deixar de ser quem são.
Tenho medo, confesso, de estar enlouquecendo. De estar errada. De que você esteja certo. De que ele seja mesmo o melhor para o país.
Mas se eu estou errada, a imprensa internacional está errada, se tudo em que acredito é mentira, se estou sendo manipulada e você não, então eu não entendo mais nada.
eu não entendo mais de livros, de história,
do medo do povo que queria poder escolher - e que você talvez acredite que era bandido,
não entendo mais de tortura, e de como é uma coisa horrível e revoltante - que você talvez ache que foi feita só com gente que merecia, mas que ninguém merece, ninguém, por pior que seja. E me olha no olho, não grita comigo, eu não discordo de punições, eu discordo de estupro corretivo, de choques elétricos e de colocar animais vivos nos genitais das pessoas.
Meu amor, se você tá certo, eu não entendo de gente que apanha, que morre só por existir, que morre só por estar ali, por ser, por querer.
Se você tá certo, então eu tô errada em querer mais do que eu tenho, em querer ser igual, em querer ter voz.
Meu amor, você tá me dizendo que eu não entendo, então você deve entender porque você sabe tanto, eu te amo tanto, porque você talvez vá ser médico um dia, ou vai cuidar de pessoas de algum modo, vai educar filhos, você tem pai, mãe, irmãos, você me tem,
e tá me dizendo que não liga,
que a solução do Brasil é a morte de quem pensa diferente, de quem é diferente, de quem quer diferente do que você quer.
Se você tá certo, então eu tô errada em achar que tá tudo perdido, eu tô errada em ter medo de dizer em voz alta o que penso porque eu tenho medo de que a minha família pague por isso em alguns dias, alguns meses. Tô com medo de sair na rua com a camiseta errada, com o adesivo errado, com a opinião errada.
Se você tá certo, então eu tô errada por achar que muitos dos meus vão se machucar, que o sangue deles vai estar mais e mais espalhado por aí, pelas esquinas, nas próprias casas, canivetes, nas mãos de homens e mulheres comuns.
Se você tá certo, então eu tô muito errada, muito errada, sonhando com um mundo absurdo onde as pessoas podem se amar, opinar, andar nas ruas, onde eu posso ser quem eu quero ser, onde eu não preciso me preocupar com qual banheiro meu amigo vai usar, e com quem ele vai encontrar sozinho nas ruas, ou se ele vai andar de mãos dadas.
Se você tá certo,
então eu não quero estar.
Eu amo você,
e eu ainda morro se for preciso pra defender a tua opinião divergente,
morro por causa dela,
mas jamais concordar com ela.
Nunca.
Nós talvez não sejamos mais amigos - como podemos ser amigos assim? Você me fere, me machuca. Você não é estúpido, é a pessoa mais incrível do mundo. E, ainda assim, escolheu seu lado. -
Mas eu amo você,
sempre vou.
Se um dia nos encontrarmos de novo, não desejo que um de nós esteja mais certo do que o outro, não.
Eu não quero dizer: "Eu avisei"
Eu quero dizer "Olá". Eu quero estar bem. Quero que você esteja bem.
Quero que esteja tudo bem.
E que possamos caminhar juntos.
Agora não dá,
mas quem sabe um dia?
Com amor,
todo o amor,
B.
43x22 To scream your name (Season finale)
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Vem.
e me dá todo o espaço do mundo
pra crescer
e amar.
Me busca no canto do universo, pra ser tua, pra ser a mãe dos teus filhos, pra ser finalmente, talvez, se der,
feliz.
Eu só quero viver bem.
Mas - eu não sou bem.
Me mostra a beleza do mundo, e tape o sol com a mão pra que ele não possa ferir meus olhos.
Cuide de mim.
E não vá embora.
Me deixa amar,
e correr.
Ralar o joelho. E chorar.
Fala.
Alto e claro, pra que eu ouça a sua voz. Pra que eu entenda. Sem subterfúgios, sem mentiras.
Penteie o meu cabelo enquanto te faço amor, eu te dou amor,
e você me deixa ser quem eu quero ser quando eu crescer.
Dança comigo, dorme comigo, caminha comigo e, em troca, eu te dou um nome,
eu grito seu nome,
quando eu souber qual é.
Vem.
e me dá todo o espaço do mundo
pra crescer
e amar.
Me busca no canto do universo, pra ser tua, pra ser a mãe dos teus filhos, pra ser finalmente, talvez, se der,
feliz.
Eu só quero viver bem.
Mas - eu não sou bem.
Me mostra a beleza do mundo, e tape o sol com a mão pra que ele não possa ferir meus olhos.
Cuide de mim.
E não vá embora.
Me deixa amar,
e correr.
Ralar o joelho. E chorar.
Fala.
Alto e claro, pra que eu ouça a sua voz. Pra que eu entenda. Sem subterfúgios, sem mentiras.
Penteie o meu cabelo enquanto te faço amor, eu te dou amor,
e você me deixa ser quem eu quero ser quando eu crescer.
Dança comigo, dorme comigo, caminha comigo e, em troca, eu te dou um nome,
eu grito seu nome,
quando eu souber qual é.
Early Cuts: Magnificent Beast
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"You are a magnificent beast"
Tô olhando pra cada pedacinho da minha parede, e cada um conta uma história, tem uma marca, uma cicatriz.
Eu não me amo.
Eu detesto acordar no meu corpo,
com meu rosto.
Detesto minhas maneiras,
a maneira como minha cabeça funciona,
eu nunca nunca nunca me sinto suficiente.
E isso cansa,
exaure.
Tanto que nem sei como consigo me levantar de manhã.
E, ainda assim,
eu ouso.
Eu ouso olhar as cicatrizes e tentar.
Eu quero, eu sonho
em ser aquela garota.
Aquela, você sabe qual.
Eu quero ser como ela.
Não sei se algum dia vou deixar de querer isso.
Mas, enquanto não acontece,
eu devo dizer
que meu namorado me acha linda. Mesmo de manhã. Mesmo quando eu choro.
E que eu amo meus cabelos de molinha e meus pés.
Minha pele tem milhões de tons diferentes, cada um com uma história pra contar, de sol, chuva, carnaval e luta.
Tenho boas orelhas. Talvez eu devesse usar menos o cotonete, brincos maiores. Mas os fones encaixam direitinho. E isso é bom. Incrível.
Bons olhos castanhos. Uma mistura dos olhos de tanta gente, mas que são só meus. Um castanho que é só meu e de mais ninguém.
Tem também essa boca que minha mãe sempre disse que era fina demais, mas que tá de bom tamanho.
Dentes de criança, mas que eu amo, que servem pra experimentar uma ou outra coisa, doer quando como doce.
E essa língua que já me levou pra tantos amores, que sente seu gosto.
Tem essas mãos meio desajeitadas e braços longos, que servem pra escrever - que eu amo -, pegar livros, mandar mensagens, pegar na tua mão,
Te abraçar à noite quando ficamos de conchinha, pegar minha irmã no colo pra levar pra cama, cozinhar arroz e milho,
e sentir. Folhas e cores, sons e pele.
Essas pernas que me fazem lembrar minha avó. Me fazem pensar que ela vive em mim, de algum jeito.
Tem meu umbigo e a história de quando minha avó colocou uma moeda nele.
Tem essas pintinhas, essas manchas, que eu não sei pra que servem, nem se vão me fazer mal, mas estão aqui.
Tem tanta coisa boa pra ver, pra mostrar.
Mas eu ainda quero ser aquela garota.
Eu só espero que, um dia, eu queira ser essa garota.
Espero que eu entenda que assim tá melhor que bom, mil vezes mais.
Mas, enquanto não acontece,
eu vou vivendo,
tentando me lembrar, tentando lembrar as pessoas de que
aquela garota nem existe.
Mas essa existe,
e é magnífica,
incrível,
maravilhosa,
sen sa cio nal.
"You are a magnificent beast"
Tô olhando pra cada pedacinho da minha parede, e cada um conta uma história, tem uma marca, uma cicatriz.
Eu não me amo.
Eu detesto acordar no meu corpo,
com meu rosto.
Detesto minhas maneiras,
a maneira como minha cabeça funciona,
eu nunca nunca nunca me sinto suficiente.
E isso cansa,
exaure.
Tanto que nem sei como consigo me levantar de manhã.
E, ainda assim,
eu ouso.
Eu ouso olhar as cicatrizes e tentar.
Eu quero, eu sonho
em ser aquela garota.
Aquela, você sabe qual.
Eu quero ser como ela.
Não sei se algum dia vou deixar de querer isso.
Mas, enquanto não acontece,
eu devo dizer
que meu namorado me acha linda. Mesmo de manhã. Mesmo quando eu choro.
E que eu amo meus cabelos de molinha e meus pés.
Minha pele tem milhões de tons diferentes, cada um com uma história pra contar, de sol, chuva, carnaval e luta.
Tenho boas orelhas. Talvez eu devesse usar menos o cotonete, brincos maiores. Mas os fones encaixam direitinho. E isso é bom. Incrível.
Bons olhos castanhos. Uma mistura dos olhos de tanta gente, mas que são só meus. Um castanho que é só meu e de mais ninguém.
Tem também essa boca que minha mãe sempre disse que era fina demais, mas que tá de bom tamanho.
Dentes de criança, mas que eu amo, que servem pra experimentar uma ou outra coisa, doer quando como doce.
E essa língua que já me levou pra tantos amores, que sente seu gosto.
Tem essas mãos meio desajeitadas e braços longos, que servem pra escrever - que eu amo -, pegar livros, mandar mensagens, pegar na tua mão,
Te abraçar à noite quando ficamos de conchinha, pegar minha irmã no colo pra levar pra cama, cozinhar arroz e milho,
e sentir. Folhas e cores, sons e pele.
Essas pernas que me fazem lembrar minha avó. Me fazem pensar que ela vive em mim, de algum jeito.
Tem meu umbigo e a história de quando minha avó colocou uma moeda nele.
Tem essas pintinhas, essas manchas, que eu não sei pra que servem, nem se vão me fazer mal, mas estão aqui.
Tem tanta coisa boa pra ver, pra mostrar.
Mas eu ainda quero ser aquela garota.
Eu só espero que, um dia, eu queira ser essa garota.
Espero que eu entenda que assim tá melhor que bom, mil vezes mais.
Mas, enquanto não acontece,
eu vou vivendo,
tentando me lembrar, tentando lembrar as pessoas de que
aquela garota nem existe.
Mas essa existe,
e é magnífica,
incrível,
maravilhosa,
sen sa cio nal.
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movies influence,
não procede mais
43x21 Dinâmica uterina
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Ela estava chorando, gritando, me implorando pra deixá-la sair correndo.
Mas não tinha mais como fugir.
- Ele vai te dar um remédio agora. Vai fazer mágica. A dor vai desaparecer como se nunca tivesse existido.
Eu disse, sem perceber, percebendo
que queria que ele fizesse o mesmo por mim.
Que minha dor era como a dela,
regular,
intensa,
dessas que não melhoram com os remédios comuns.
Que eu precisava estar no lugar dela.
- Relaxe, relaxe os ombros, abaixe a cabeça
E, de repente, as mãos de Houdini, me fazendo massagem, destruindo a tensão com os dedos,
com amor,
com otimismo,
mas sem bupivacaína.
Parecia suficiente,
mas não,
não é.
Ainda dói,
fundo,
surdo.
Dói, rasga, vai e volta,
mas nunca some, nunca melhora.
"Quanto pior a dor, mais perto do fim estamos chegando", eu prometo.
Mas quanta dor eu consigo aguentar?
Minha verdade é verdade pra tudo,
pra todas?
- Eu só quero que tirem isso de mim,
34 semanas e diabetes me diz.
E eu digo a ela pra ter paciência, esperar mais um pouco,
mas eu também só quero que tirem isso de mim.
Agora,
agora.
Eu não quero mais sentir dor.
Mas tudo o que eles sabem - eles sabem de alguma coisa? -
é fazer perguntas,
sangue ou líquido ou contrações, queixas urinárias, se ele se mexe,
e então desaparecem e não me dizem nunca quando passa a dor.
Mulheres gritam, mulheres choram,
aqui e em outros lugares,
no escuro,
em casa,
na igreja,
paradas de ônibus,
no meio do nada,
sem poder pedir ajuda.
E eu posso,
eu posso,
mas pra quem?
Tem sangue,
e líquido escuro nas minhas mãos,
ele não se move,
eu sei que tem algo errado.
Quando o mundo está em silêncio,
eu quase posso ouvir seu coração bater.
Mas caminho,
caminho,
está chegando a hora,
mas dói,
dói tanto,
que eu não sei se consigo aguentar,
que eu não sei se quero aguentar.
mas eu queria tanto.
Deus
é bom e justo
e o interior do meu corpo é quente, febril,
me diz
quantos centímetros?
Quantos centímetros de dor eu preciso aguentar até que você decida que não preciso mais aguentar?
Então a hora chega e eu grito seu nome,
eu quero segurar a sua mão,
eu não quero passar por isso sozinha,
me dizem pra prender a respiração,
fazer força,
mas eu não tenho forças sem você aqui.
Só que você não vem,
você não consegue me encontrar,
e eu tenho, mais uma vez, que fazer tudo sozinha.
Sempre sozinha,
mas agora eu tenho isso,
então eu seguro o grito entalado na garganta e faço força,
minhas últimas forças,
depois de tanta dor,
tanto medo,
tanta procura,
eu não vou mais ter que ficar sozinha.
Então,
força
força
força
não para
assim
empurra meu dedo
força de coco
prende a respiração
descansa
ele precisa nascer
mas eu não consigo
você consegue
e eu dou tudo de mim
tudo de mim pra você,
mas você não vem
você não sai,
não é seguro aqui
e você sabe
e sofre
alguém te empurra,
te obriga a sair
e você sai,
em silêncio,
se recusa a chorar,
se recusa a respirar,
se recusa a viver
se recusa a ficar
e me deixa só.
- A dor vai passar assim que ele nascer, ela disse.
Mas não passou.
Não passou.
E agora?
- Alta.
Ela estava chorando, gritando, me implorando pra deixá-la sair correndo.
Mas não tinha mais como fugir.
- Ele vai te dar um remédio agora. Vai fazer mágica. A dor vai desaparecer como se nunca tivesse existido.
Eu disse, sem perceber, percebendo
que queria que ele fizesse o mesmo por mim.
Que minha dor era como a dela,
regular,
intensa,
dessas que não melhoram com os remédios comuns.
Que eu precisava estar no lugar dela.
- Relaxe, relaxe os ombros, abaixe a cabeça
E, de repente, as mãos de Houdini, me fazendo massagem, destruindo a tensão com os dedos,
com amor,
com otimismo,
mas sem bupivacaína.
Parecia suficiente,
mas não,
não é.
Ainda dói,
fundo,
surdo.
Dói, rasga, vai e volta,
mas nunca some, nunca melhora.
"Quanto pior a dor, mais perto do fim estamos chegando", eu prometo.
Mas quanta dor eu consigo aguentar?
Minha verdade é verdade pra tudo,
pra todas?
- Eu só quero que tirem isso de mim,
34 semanas e diabetes me diz.
E eu digo a ela pra ter paciência, esperar mais um pouco,
mas eu também só quero que tirem isso de mim.
Agora,
agora.
Eu não quero mais sentir dor.
Mas tudo o que eles sabem - eles sabem de alguma coisa? -
é fazer perguntas,
sangue ou líquido ou contrações, queixas urinárias, se ele se mexe,
e então desaparecem e não me dizem nunca quando passa a dor.
Mulheres gritam, mulheres choram,
aqui e em outros lugares,
no escuro,
em casa,
na igreja,
paradas de ônibus,
no meio do nada,
sem poder pedir ajuda.
E eu posso,
eu posso,
mas pra quem?
Tem sangue,
e líquido escuro nas minhas mãos,
ele não se move,
eu sei que tem algo errado.
Quando o mundo está em silêncio,
eu quase posso ouvir seu coração bater.
Mas caminho,
caminho,
está chegando a hora,
mas dói,
dói tanto,
que eu não sei se consigo aguentar,
que eu não sei se quero aguentar.
mas eu queria tanto.
Deus
é bom e justo
e o interior do meu corpo é quente, febril,
me diz
quantos centímetros?
Quantos centímetros de dor eu preciso aguentar até que você decida que não preciso mais aguentar?
Então a hora chega e eu grito seu nome,
eu quero segurar a sua mão,
eu não quero passar por isso sozinha,
me dizem pra prender a respiração,
fazer força,
mas eu não tenho forças sem você aqui.
Só que você não vem,
você não consegue me encontrar,
e eu tenho, mais uma vez, que fazer tudo sozinha.
Sempre sozinha,
mas agora eu tenho isso,
então eu seguro o grito entalado na garganta e faço força,
minhas últimas forças,
depois de tanta dor,
tanto medo,
tanta procura,
eu não vou mais ter que ficar sozinha.
Então,
força
força
força
não para
assim
empurra meu dedo
força de coco
prende a respiração
descansa
ele precisa nascer
mas eu não consigo
você consegue
e eu dou tudo de mim
tudo de mim pra você,
mas você não vem
você não sai,
não é seguro aqui
e você sabe
e sofre
alguém te empurra,
te obriga a sair
e você sai,
em silêncio,
se recusa a chorar,
se recusa a respirar,
se recusa a viver
se recusa a ficar
e me deixa só.
- A dor vai passar assim que ele nascer, ela disse.
Mas não passou.
Não passou.
E agora?
- Alta.
43x20 There is a road
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Onde é minha casa?
Minha casa sou eu, preciso entender.
Minha casa, meu cavalo, meu cão de caça.
Onde quer que eu esteja, estarei em casa.
Ainda assim, tenho medo.
Tenho medo da responsabilidade, de ser adulta, de estar só no mundo, dos ruídos lá fora, dos olhos e mentes.
Tenho medo de querer chorar. De querer voltar.
Medo de ir.
Medo de sair de um lugar onde estou só de passagem.
Minha casa sou eu.
E eu tenho medo do mundo.
Dos estranhos nas esquinas, da noite brilhante, das luzes.
Medo do portão entreaberto,
medo de não ter pra quem ligar.
Onde é minha casa?
Minha casa sou eu.
E ela é forte. Ela aguenta furacões, tempestades e o sopro do lobo.
Calor infernal, gritos, verdades e mentiras.
Aguenta pesadelos.
Aguenta a incerteza do futuro.
Onde é minha casa?
Minha casa sou eu,
e eu sou capaz de qualquer coisa.
Vou ficar bem sozinha.
Estarei em casa, se precisar de mim.
Onde é minha casa?
Minha casa sou eu, preciso entender.
Minha casa, meu cavalo, meu cão de caça.
Onde quer que eu esteja, estarei em casa.
Ainda assim, tenho medo.
Tenho medo da responsabilidade, de ser adulta, de estar só no mundo, dos ruídos lá fora, dos olhos e mentes.
Tenho medo de querer chorar. De querer voltar.
Medo de ir.
Medo de sair de um lugar onde estou só de passagem.
Minha casa sou eu.
E eu tenho medo do mundo.
Dos estranhos nas esquinas, da noite brilhante, das luzes.
Medo do portão entreaberto,
medo de não ter pra quem ligar.
Onde é minha casa?
Minha casa sou eu.
E ela é forte. Ela aguenta furacões, tempestades e o sopro do lobo.
Calor infernal, gritos, verdades e mentiras.
Aguenta pesadelos.
Aguenta a incerteza do futuro.
Onde é minha casa?
Minha casa sou eu,
e eu sou capaz de qualquer coisa.
Vou ficar bem sozinha.
Estarei em casa, se precisar de mim.
43x19 Casas
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Vale a pena amar alguém, você me diz. Você tenta me dizer.
Mas você não entende, você não entende nada.
Tá calor, e o vento do ventilador sopra seu cabelo, o pouco que não tá grudado na sua testa.
Eu tô aqui, eu tô agora.
O que mais eu posso dar?
Amor é estar, eu te digo. Amor é estar.
Mas você insiste em falar da lua, pares e pessoas, e eu não entendo. Eu nunca vou entender, como é que alguém pode amar indo embora.
Quem vai embora não sabe o que é amor.
Mas você me segura, me pega pela mão, pescoço, pernas, e você me mostra, você me diz pra lembrar, você me diz pra não esquecer
que amar tem muitas versões, muitos arranjos diferentes.
Não, não.
Que a gente ama muita gente, de muitos jeitos, que quer dizer muito, que não quer dizer nada. Que amor pode ser terremoto, mas amor pode ser calor em dia quente, pode ser mormaço, pode ser furacão. Pode ser tudo junto. Ou nada disso.
Ele me pede pra fechar os olhos, pra me contar um segredo.
Eu não quero, mas ele precisa que eu o faça.
Então eu fecho os olhos
Por um segundo, uma hora, um ano,
até ele dizer tudo e ir embora, pra nunca mais voltar ou voltar em breve, ou
não importa.
Não importa mais.
Vale a pena amar alguém, você me diz. Você tenta me dizer.
Mas você não entende, você não entende nada.
Tá calor, e o vento do ventilador sopra seu cabelo, o pouco que não tá grudado na sua testa.
Eu tô aqui, eu tô agora.
O que mais eu posso dar?
Amor é estar, eu te digo. Amor é estar.
Mas você insiste em falar da lua, pares e pessoas, e eu não entendo. Eu nunca vou entender, como é que alguém pode amar indo embora.
Quem vai embora não sabe o que é amor.
Mas você me segura, me pega pela mão, pescoço, pernas, e você me mostra, você me diz pra lembrar, você me diz pra não esquecer
que amar tem muitas versões, muitos arranjos diferentes.
Não, não.
Que a gente ama muita gente, de muitos jeitos, que quer dizer muito, que não quer dizer nada. Que amor pode ser terremoto, mas amor pode ser calor em dia quente, pode ser mormaço, pode ser furacão. Pode ser tudo junto. Ou nada disso.
Ele me pede pra fechar os olhos, pra me contar um segredo.
Eu não quero, mas ele precisa que eu o faça.
Então eu fecho os olhos
Por um segundo, uma hora, um ano,
até ele dizer tudo e ir embora, pra nunca mais voltar ou voltar em breve, ou
não importa.
Não importa mais.
43x18 Subsolos
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Dá a mão.
Eu não sei porra nenhuma, me ensina, me mostra.
Eu caminho no meio do povo, anônima, incógnita. Não sou. Somos.
Temos medo, mas somos fortes.
A força talvez esteja nos números.
Talvez, vai saber.
Penteio meus cabelos com medo, e quebro os fios com a força dos puxões. Estou treinando.
Treinando pra um futuro horrível, inimaginável, onde eu sou ninguém.
Onde minha vida vale menos que nada, um grito, um susto, um segundo, um desejo.
Onde eu acordo pela manhã sem saber se vou voltar pra casa, sem saber se eu sou alguém ou o objeto da imaginação doentia de alguém. Sem saber se eu valho mais do que a mulher que se recusa a me deixar tocá-la.
Tô treinando pra cobrir a cabeça, obedecer e me calar. Pra um mundo onde nenhum lugar é seguro. Nenhuma roupa é a certa. Nenhum homem é culpado. Nenhum negro está a salvo. Onde minha voz é a voz de um homem.
Tô treinando pra nunca me defender. Pra deixar que levem tudo o que é meu.
Pra não ter nada.
Treinando pra deixar as pessoas que eu amo sofrerem. Pra nunca mais ver quem eu amo, pra não poder amar.
Treinando pra nunca botar ninguém no mundo, pra nunca me importar com alguém, pra morrer rápido, durante a noite, em liberdade.
Tô treinando pra aguentar,
pra ficar firme, pra mentir, pra mentir pra salvar minha vida.
Treinando pra apanhar, pra sangrar, pra sobreviver.
Treinando pro frio, e pras feridas que não saram nunca.
Treinando pra desaparecer como se nunca tivesse existido, pra sentir o cheiro de livros queimados. Treinando pra nunca esquecer, treinando pra nunca falar que me lembro.
Treinando pra me calar.
E pra admitir uma culpa que não é minha.
Não sei mais o que fazer.
Eu luto,
eu grito,
eu esperneio.
Eu te dou a mão.
Mas e se for tudo em vão?
E se não houver nada além disso?
Eu quero acreditar que há algo mais.
Que há força nos números.
Que as pessoas são melhores do que isso.
Mas eu não tenho certeza. Talvez eu nunca chegue a ter.
Aguardemos.
Oremos.
E que seja o que tiver que ser.
#elenão
Dá a mão.
Eu não sei porra nenhuma, me ensina, me mostra.
Eu caminho no meio do povo, anônima, incógnita. Não sou. Somos.
Temos medo, mas somos fortes.
A força talvez esteja nos números.
Talvez, vai saber.
Penteio meus cabelos com medo, e quebro os fios com a força dos puxões. Estou treinando.
Treinando pra um futuro horrível, inimaginável, onde eu sou ninguém.
Onde minha vida vale menos que nada, um grito, um susto, um segundo, um desejo.
Onde eu acordo pela manhã sem saber se vou voltar pra casa, sem saber se eu sou alguém ou o objeto da imaginação doentia de alguém. Sem saber se eu valho mais do que a mulher que se recusa a me deixar tocá-la.
Tô treinando pra cobrir a cabeça, obedecer e me calar. Pra um mundo onde nenhum lugar é seguro. Nenhuma roupa é a certa. Nenhum homem é culpado. Nenhum negro está a salvo. Onde minha voz é a voz de um homem.
Tô treinando pra nunca me defender. Pra deixar que levem tudo o que é meu.
Pra não ter nada.
Treinando pra deixar as pessoas que eu amo sofrerem. Pra nunca mais ver quem eu amo, pra não poder amar.
Treinando pra nunca botar ninguém no mundo, pra nunca me importar com alguém, pra morrer rápido, durante a noite, em liberdade.
Tô treinando pra aguentar,
pra ficar firme, pra mentir, pra mentir pra salvar minha vida.
Treinando pra apanhar, pra sangrar, pra sobreviver.
Treinando pro frio, e pras feridas que não saram nunca.
Treinando pra desaparecer como se nunca tivesse existido, pra sentir o cheiro de livros queimados. Treinando pra nunca esquecer, treinando pra nunca falar que me lembro.
Treinando pra me calar.
E pra admitir uma culpa que não é minha.
Não sei mais o que fazer.
Eu luto,
eu grito,
eu esperneio.
Eu te dou a mão.
Mas e se for tudo em vão?
E se não houver nada além disso?
Eu quero acreditar que há algo mais.
Que há força nos números.
Que as pessoas são melhores do que isso.
Mas eu não tenho certeza. Talvez eu nunca chegue a ter.
Aguardemos.
Oremos.
E que seja o que tiver que ser.
#elenão
43x17 Moses
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Vem, ela disse.
Vem.
E a luz me afogou, o cheiro, o frio, o ar, os sons do mundo.
As mãos dela tocando meu corpo, meu rosto, meu pescoço, o cheiro do medo.
Vem,
venha e uive.
Mas eu não uivei.
Eu estava com medo.
Eu estava com medo da luz,
com medo do amor,
da chuva,
da morte.
Com medo do sangue,
da voz de Deus.
Meus pulmões tiveram medo,
e minha boca.
Tremi e meus dedos, 5 mais 5 mais 5 mais 5.
Eu tive medo de meu pai
e do abandono,
eu tive medo das crianças que nunca choram,
e das crianças que nem sequer experimentam o medo que sinto agora.
Tive medo do verde, e das cores que veria um dia.
Tive medo da minha própria vida,
de meus irmãos, da escola,
da noite escura
e do pôr-do-sol.
Da textura da grama,
pasta de dente e do cheiro do pão recém saído do forno.
Eu tive medo,
e não uivei.
E eu a senti prender a respiração e fazer uma prece,
me dizer pra ter coragem,
que a vida talvez valesse a pena,
talvez não.
Que existem dias bons,
e dias ruins.
Pessoas boas,
e pessoas ruins.
Que a gente lembra,
que a gente esquece.
Mas existem bicicletas,
e o cheiro dos livros novos,
o movimento que fazem as cortinas,
beijo na boca e que eu não precisava temer
o pulsar do meu próprio coração.
Mas eu estava tão assustado, atônito, incrédulo,
eu só queria voltar pro escuro,
e ela também.
Mas não tem volta, ela disse, não tem volta.
Nós tínhamos que ter coragem. De uivar, de conquistar o mundo inteiro, ela disse.
Então, eu uivei.
Alto, forte, pra todas as luas de todos os planetas nessa galáxia, que ouvissem, que soubessem, eu estou aqui, EU ESTOU AQUI.
Então eu disse a ela:
- Agora é sua vez. Uive.
E ela disse:
Estou com medo.
Vem, ela disse.
Vem.
E a luz me afogou, o cheiro, o frio, o ar, os sons do mundo.
As mãos dela tocando meu corpo, meu rosto, meu pescoço, o cheiro do medo.
Vem,
venha e uive.
Mas eu não uivei.
Eu estava com medo.
Eu estava com medo da luz,
com medo do amor,
da chuva,
da morte.
Com medo do sangue,
da voz de Deus.
Meus pulmões tiveram medo,
e minha boca.
Tremi e meus dedos, 5 mais 5 mais 5 mais 5.
Eu tive medo de meu pai
e do abandono,
eu tive medo das crianças que nunca choram,
e das crianças que nem sequer experimentam o medo que sinto agora.
Tive medo do verde, e das cores que veria um dia.
Tive medo da minha própria vida,
de meus irmãos, da escola,
da noite escura
e do pôr-do-sol.
Da textura da grama,
pasta de dente e do cheiro do pão recém saído do forno.
Eu tive medo,
e não uivei.
E eu a senti prender a respiração e fazer uma prece,
me dizer pra ter coragem,
que a vida talvez valesse a pena,
talvez não.
Que existem dias bons,
e dias ruins.
Pessoas boas,
e pessoas ruins.
Que a gente lembra,
que a gente esquece.
Mas existem bicicletas,
e o cheiro dos livros novos,
o movimento que fazem as cortinas,
beijo na boca e que eu não precisava temer
o pulsar do meu próprio coração.
Mas eu estava tão assustado, atônito, incrédulo,
eu só queria voltar pro escuro,
e ela também.
Mas não tem volta, ela disse, não tem volta.
Nós tínhamos que ter coragem. De uivar, de conquistar o mundo inteiro, ela disse.
Então, eu uivei.
Alto, forte, pra todas as luas de todos os planetas nessa galáxia, que ouvissem, que soubessem, eu estou aqui, EU ESTOU AQUI.
Então eu disse a ela:
- Agora é sua vez. Uive.
E ela disse:
Estou com medo.
43x16 The things that you don't remember
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garota solteira procura,
Image: TingTing Huang
Eu nunca vou ser boa o bastante pra você, vou?
Você sabe de cor
cada uma das vezes em que eu te magoei.
Sabe datas, palavras, sensações.
Você consegue enumerar, colocou em pastas em algum compartimento secreto da mente.
Você me convenceu de que eu nunca, jamais, ser boa.
Mesmo quando sou boa.
Tão inteligente,
tão esperta.
Mas nunca boa.
Você se lembra da primeira mágoa,
da segunda,
se lembra do dia em que eu ri,
do dia em que não ouvi,
de quando eu não disse,
de quando eu não estava,
de quando eu não podia,
de quando eu não fui.
Mas
você se lembra de quando eu não ri?
Se lembra do dia em que eu ouvi tudo até o final?
De quando eu disse a coisa certa?
Você se lembra das vezes em que eu estive lá? Em que eu fiquei com você até o final, porque sabia que você precisava?
Você se lembra das vezes em que eu fui mesmo não querendo voltar nunca mais? Eu fui porque você estava lá.
Você se lembra de quando eu não podia, de quando eu não aguentava mais e aguentei mais um dia? De quando eu acordei só mais uma manhã e mais outra, e outra, e outra, e outra, mesmo não querendo mais, não quero mais. Eu não quero mais, mas eu continuo acordando.
Você se lembra de quando eu fui?
No meio do dia, da noite, quando você precisou. Quando você não precisou. Porque eu precisava cuidar de você.
Você se lembra?
Eu sinto muito. Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Mas eu não quero mais me desculpar por não conseguir chegar lá,
eu nunca vou conseguir, você entende?
Eu nunca vou conseguir.
Eu sinto muito.
Eu nunca vou ser quem você precisa.
Eu sinto muito.
Eu nunca vou ser boa o bastante pra você, vou?
Você sabe de cor
cada uma das vezes em que eu te magoei.
Sabe datas, palavras, sensações.
Você consegue enumerar, colocou em pastas em algum compartimento secreto da mente.
Você me convenceu de que eu nunca, jamais, ser boa.
Mesmo quando sou boa.
Tão inteligente,
tão esperta.
Mas nunca boa.
Você se lembra da primeira mágoa,
da segunda,
se lembra do dia em que eu ri,
do dia em que não ouvi,
de quando eu não disse,
de quando eu não estava,
de quando eu não podia,
de quando eu não fui.
Mas
você se lembra de quando eu não ri?
Se lembra do dia em que eu ouvi tudo até o final?
De quando eu disse a coisa certa?
Você se lembra das vezes em que eu estive lá? Em que eu fiquei com você até o final, porque sabia que você precisava?
Você se lembra das vezes em que eu fui mesmo não querendo voltar nunca mais? Eu fui porque você estava lá.
Você se lembra de quando eu não podia, de quando eu não aguentava mais e aguentei mais um dia? De quando eu acordei só mais uma manhã e mais outra, e outra, e outra, e outra, mesmo não querendo mais, não quero mais. Eu não quero mais, mas eu continuo acordando.
Você se lembra de quando eu fui?
No meio do dia, da noite, quando você precisou. Quando você não precisou. Porque eu precisava cuidar de você.
Você se lembra?
Eu sinto muito. Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Eu sinto muito.
Mas eu não quero mais me desculpar por não conseguir chegar lá,
eu nunca vou conseguir, você entende?
Eu nunca vou conseguir.
Eu sinto muito.
Eu nunca vou ser quem você precisa.
Eu sinto muito.
43x15 Thunderstorm
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
O céu está caindo.
Eu tentei avisar.
O céu está caindo.
Mas ninguém ouviu.
É assim que é?
Eu me deito no chão, sob o domo. Pedaços de nuvens, sol, azul, pó de estrelas mortas há trilhões de anos.
O céu está caindo.
Abro uma garrafa, outra, mais outra.
Separo grãos.
O céu está caindo, Deus, o céu está caindo, e talvez eu descubra se realmente há um Deus.
Eu tento me concentrar em estatísticas, planos, uma gueixa cheia de dentes, mas eu estou tão cansada, tão cansada de nunca ser o suficiente.
Tão cansada, que não quero me levantar, e o céu continua caindo.
E eu continuo esperando pra ver o que acontece.
Sem mover um músculo.
Eu quero ver o que acontece,
eu quero ver.
Eu estou tão cansada.
Tão,
tão cansada.
O céu está caindo.
Eu tentei avisar.
O céu está caindo.
Mas ninguém ouviu.
É assim que é?
Eu me deito no chão, sob o domo. Pedaços de nuvens, sol, azul, pó de estrelas mortas há trilhões de anos.
O céu está caindo.
Abro uma garrafa, outra, mais outra.
Separo grãos.
O céu está caindo, Deus, o céu está caindo, e talvez eu descubra se realmente há um Deus.
Eu tento me concentrar em estatísticas, planos, uma gueixa cheia de dentes, mas eu estou tão cansada, tão cansada de nunca ser o suficiente.
Tão cansada, que não quero me levantar, e o céu continua caindo.
E eu continuo esperando pra ver o que acontece.
Sem mover um músculo.
Eu quero ver o que acontece,
eu quero ver.
Eu estou tão cansada.
Tão,
tão cansada.
43x14 At last
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Tem esse sol enorme, desaparecendo rápido, as nuvens flutuando nesse céu que parece um domo. Tem esse gosto na minha boca, de chocolate e feijão, talvez um pouco demais de cominho, tem grama, mosquitos, tem o zumbido das pessoas em volta.
Tem você.
Tem essa sensação de paz, segurança e felicidade que eu não sei se já senti antes.
Estamos.
Dorme comigo.
Acorda comigo.
Mora comigo.
Casa comigo.
Sim,
estamos.
Eu caminho nas pontas dos pés pra não te acordar,
e você me deixa dormir até mais tarde.
Coloca as pontas dos dedos no meu cabelo,
acho que somos alguma coisa estranha, estranha feito esse texto.
Uma massa colorida, cheirosa e macia.
Eu te amo.
Eu fico.
Guardo seus segredos,
lavo suas roupas,
seguro sua mão.
Eu fecho meus olhos e é só você.
É sempre você.
"Fui eu quem escolhi", você diz,
e eu não me ofendo.
Você me escolheu.
Você me escolheu.
E eu escolhi você.
Eu escolhi ficar.
E vou ficando,
de manhã,
depois da aula - minha ou tua -,
na cama depois que você sai,
na festa até você vir me buscar.
Eu vou ficando,
sem planos, sem prazos.
Se o pra sempre vai chegar ou não,
a gente só vai saber sabendo.
Tem esse sol enorme, desaparecendo rápido, as nuvens flutuando nesse céu que parece um domo. Tem esse gosto na minha boca, de chocolate e feijão, talvez um pouco demais de cominho, tem grama, mosquitos, tem o zumbido das pessoas em volta.
Tem você.
Tem essa sensação de paz, segurança e felicidade que eu não sei se já senti antes.
Estamos.
Dorme comigo.
Acorda comigo.
Mora comigo.
Casa comigo.
Sim,
estamos.
Eu caminho nas pontas dos pés pra não te acordar,
e você me deixa dormir até mais tarde.
Coloca as pontas dos dedos no meu cabelo,
acho que somos alguma coisa estranha, estranha feito esse texto.
Uma massa colorida, cheirosa e macia.
Eu te amo.
Eu fico.
Guardo seus segredos,
lavo suas roupas,
seguro sua mão.
Eu fecho meus olhos e é só você.
É sempre você.
"Fui eu quem escolhi", você diz,
e eu não me ofendo.
Você me escolheu.
Você me escolheu.
E eu escolhi você.
Eu escolhi ficar.
E vou ficando,
de manhã,
depois da aula - minha ou tua -,
na cama depois que você sai,
na festa até você vir me buscar.
Eu vou ficando,
sem planos, sem prazos.
Se o pra sempre vai chegar ou não,
a gente só vai saber sabendo.
43x13 Canseira
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Tranco as portas e janelas, apago as luzes. Desligo o celular
Não tem ninguém em casa.
Não adianta bater, não adianta gritar, nem ligar.
Não mande mensagens, nem e-mails.
Não tem ninguém em casa.
Eu preciso descansar.
Dormir por horas.
Despensar em todas essas coisas.
Eu preciso sonhar.
E se você vier,
se você precisar,
se você quiser,
se você chamar.
Não tem nada que eu possa fazer,
não tem nada que eu possa oferecer.
Eu vou ficar atrás da porta, torcendo pra você ir embora,
pra que eu possa respirar,
dormir,
comer,
esquecer.
Acredite,
não tem ninguém em casa.
Tranco as portas e janelas, apago as luzes. Desligo o celular
Não tem ninguém em casa.
Não adianta bater, não adianta gritar, nem ligar.
Não mande mensagens, nem e-mails.
Não tem ninguém em casa.
Eu preciso descansar.
Dormir por horas.
Despensar em todas essas coisas.
Eu preciso sonhar.
E se você vier,
se você precisar,
se você quiser,
se você chamar.
Não tem nada que eu possa fazer,
não tem nada que eu possa oferecer.
Eu vou ficar atrás da porta, torcendo pra você ir embora,
pra que eu possa respirar,
dormir,
comer,
esquecer.
Acredite,
não tem ninguém em casa.
43x12 I wanna hold your hand
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Tenho medo da água.
Segura minha mão?
Ele segura.
E não solta.
Dia lindo, sol lá em cima, nós aqui embaixo.
É assim que é amar alguém? Reciprocidade, é assim que chama?
Eu amo.
Seu cabelo molhado, o assovio, sua mão e nossa dança na água.
Eu amo sua voz, eu amo seus passos, eu amo o jeito como você abre a porta.
Me ajuda a nadar, me ajuda a chegar à superfície, eu tenho medo.
Mas você não tem.
Príncipes encantados nem existem, eles disseram.
Não, não existem.
Você existe. E não vai embora procurar princesas com pé pequeno e delicado,
não foge no meio da noite pela janela,
nem tenta me impedir de salvar a china.
Eu te amo e tenho orgulho de quem você é,
de quem você vai ser.
Escondo a cabeça no seu cheiro e você me encontra debaixo das cobertas, só pra me contar algum segredo, baixinho, no escuro gelado que é nosso.
Hoje eu não tô com medo.
Eu sei que não vou afundar,
porque você tá aqui.
Me segurando,
me dizendo que consigo,
me ajudando,
me ninando,
me olhando.
Hoje eu não tô com medo, amor.
Obrigada.
Tenho medo da água.
Segura minha mão?
Ele segura.
E não solta.
Dia lindo, sol lá em cima, nós aqui embaixo.
É assim que é amar alguém? Reciprocidade, é assim que chama?
Eu amo.
Seu cabelo molhado, o assovio, sua mão e nossa dança na água.
Eu amo sua voz, eu amo seus passos, eu amo o jeito como você abre a porta.
Me ajuda a nadar, me ajuda a chegar à superfície, eu tenho medo.
Mas você não tem.
Príncipes encantados nem existem, eles disseram.
Não, não existem.
Você existe. E não vai embora procurar princesas com pé pequeno e delicado,
não foge no meio da noite pela janela,
nem tenta me impedir de salvar a china.
Eu te amo e tenho orgulho de quem você é,
de quem você vai ser.
Escondo a cabeça no seu cheiro e você me encontra debaixo das cobertas, só pra me contar algum segredo, baixinho, no escuro gelado que é nosso.
Hoje eu não tô com medo.
Eu sei que não vou afundar,
porque você tá aqui.
Me segurando,
me dizendo que consigo,
me ajudando,
me ninando,
me olhando.
Hoje eu não tô com medo, amor.
Obrigada.
Early Cuts: Stockholm
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Escrevo pra salvar minha vida.
Pois sim, escrevo.
Eu nunca fui a última a ser escolhida em nada importante.
No ensino fundamental, eu nunca dizia nada quando me era sugerido escolher um grupo.
Eu sempre sabia que alguém criaria um grupo e me colocaria nele.
Tinha muitos amigos, e não queria escolher entre eles.
E foi assim por toda a vida acadêmica, eu nunca fiquei por último, nunca fui realmente excluída de nada.
Cresci incapaz de escolher, de conviver,
de me posicionar.
As pessoas escolhiam por mim. As pessoas conviviam quando eu não era capaz. Se posicionavam quando eu não estava interessada.
E ficavam, mesmo quando eu não queria.
Por que?
Pergunto a Houdini,
Por que?
Mas a resposta dele não me satisfaz, nada me satisfaz.
Por que?
Quem é refém de quem?
Eu tô te perguntando, tô olhando nos seus olhos mas eu só consigo ver os meus.
Por que ficar?
Quem mais eu preciso machucar pra ficar só?
Escrevo pra salvar minha vida.
Pois sim, escrevo.
Eu nunca fui a última a ser escolhida em nada importante.
No ensino fundamental, eu nunca dizia nada quando me era sugerido escolher um grupo.
Eu sempre sabia que alguém criaria um grupo e me colocaria nele.
Tinha muitos amigos, e não queria escolher entre eles.
E foi assim por toda a vida acadêmica, eu nunca fiquei por último, nunca fui realmente excluída de nada.
Cresci incapaz de escolher, de conviver,
de me posicionar.
As pessoas escolhiam por mim. As pessoas conviviam quando eu não era capaz. Se posicionavam quando eu não estava interessada.
E ficavam, mesmo quando eu não queria.
Por que?
Pergunto a Houdini,
Por que?
Mas a resposta dele não me satisfaz, nada me satisfaz.
Por que?
Quem é refém de quem?
Eu tô te perguntando, tô olhando nos seus olhos mas eu só consigo ver os meus.
Por que ficar?
Quem mais eu preciso machucar pra ficar só?
Marcadores:
Cover,
Kygo,
Lydia Frutig
43x11 Anything she feels like
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Às vezes, o dia começa assim:
cheio.
Full-on
Eu sonho sonhos de amor e loucura, uma mulher nua, as ruas da cidade e alguma coisa de que eu nunca me lembro.
Levanto da cama querendo correr uma maratona, 20 mil léguas, submarinas ou não, porque sou invencível.
Eu sou a dona do meu próprio destino, como queijo, beijo sua boca macia, gostosa, eu sou tão bonita e feliz,
nada pode me deter.
Chego em casa, minha comida fica incrível, o gosto do mundo é uma delícia e eu só sei que vai ser um bom dia.
Brisa, brisa boa e gostosa,
eu lavo a roupa, eu vejo uma série, eu escrevo um texto, eu leio, estudo, eu sou capaz de qualquer coisa, eu acho que posso até voar se quiser.
Meu coração bate tão forte que dói, mas eu não quero que pare, eu não quero que passe,
fica,
fica, não vai embora, que essa sensação é bem melhor do que a sensação dos últimos dias,
mas eu tenho medo dela, mais medo que anseio,
porque me assusta o amanhã, a decepção de ter sido invencível e não ter nada pronto, não ter nada pra mostrar ou pra entender, ou pra gostar.
Mas hoje eu posso tudo,
toda e qualquer coisa.
Eu posso ser quem eu quiser. A pessoa que eu quero ser.
Eu posso ser boa.
É um daqueles dias.
Eu posso ser boa.
Só preciso querer.
Às vezes, o dia começa assim:
cheio.
Full-on
Eu sonho sonhos de amor e loucura, uma mulher nua, as ruas da cidade e alguma coisa de que eu nunca me lembro.
Levanto da cama querendo correr uma maratona, 20 mil léguas, submarinas ou não, porque sou invencível.
Eu sou a dona do meu próprio destino, como queijo, beijo sua boca macia, gostosa, eu sou tão bonita e feliz,
nada pode me deter.
Chego em casa, minha comida fica incrível, o gosto do mundo é uma delícia e eu só sei que vai ser um bom dia.
Brisa, brisa boa e gostosa,
eu lavo a roupa, eu vejo uma série, eu escrevo um texto, eu leio, estudo, eu sou capaz de qualquer coisa, eu acho que posso até voar se quiser.
Meu coração bate tão forte que dói, mas eu não quero que pare, eu não quero que passe,
fica,
fica, não vai embora, que essa sensação é bem melhor do que a sensação dos últimos dias,
mas eu tenho medo dela, mais medo que anseio,
porque me assusta o amanhã, a decepção de ter sido invencível e não ter nada pronto, não ter nada pra mostrar ou pra entender, ou pra gostar.
Mas hoje eu posso tudo,
toda e qualquer coisa.
Eu posso ser quem eu quiser. A pessoa que eu quero ser.
Eu posso ser boa.
É um daqueles dias.
Eu posso ser boa.
Só preciso querer.
Marcadores:
Anthem academy,
Dias e Dias,
Echotape,
feeling,
Forças da natureza,
friends,
Land of opportunity,
voices,
vontade
43x10 Pain management
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Tem a dor que dói
aguda,
aquela dor que você sente quando seu coração parte - em pedaços ou vai embora -,
quando percebe que ele não vai ligar,
nota baixa,
quando seu personagem favorito morre num filme da Marvel.
A dor de sempre,
aquela que fica ali,
quando você acorda,
enquanto escova seus dentes e bochecha com listerine,
quando você sorri,
quando você fala,
e quando oferece amor.
Tem a dor que rasga, supera os limiares, quebra recordes, prende, incha, comprime, sufoca, aparece, inesperada e fica, explode seu peito em pedacinhos de vidro que ficam presos na carne e nunca saem.
(1/4 dos pacientes não sente dor.
1/3 daqueles com dor tem apenas uma destas.
1/3 têm 2 dores.
1/3 têm 3 ou mais dores)
"A experiência da dor pode interferir com a vida social e a qualidade dos relacionamentos, mudar crenças existenciais, causar incapacidade, depressão, ansiedade"
A dor é subjetiva.
Algumas surgem num turbilhão amarelo e têm cheiro de amora, sangue e loção pós barba. Outras de terra e algumas de chocolate meio amargo.
Algumas começam de repente, algumas começam pequenas e ficam gigantes, feito um pássaro Roca.
- Em aperto, facada e também daquele jeito, sabe?, que vem assim e faz assim.
Ela não anda nunca, fica só bem aqui ó. Aqui no meio. E no canto também. Da cabeça e do quarto. Do peito, da festa, do bar. Da cidade.
De 1 a 10, eu diria que é 8, e não duvide de mim, porque dói. Dói como nunca doeu antes.
Piora quando eu acordo pela manhã e melhora quando eu sonho. Só melhora quando eu sonho.
Se tem alguma coisa que vem junto? Ai, doutora, uma vontade, uma vontade enorme. Só vontade, assim, sem rumo, grande, que parece que vai me explodir se não sair de dentro.
Eu tomo xarope, chá, um remédio aqui e outro ali, mas não passa, não passa nunca. Nem a dor, nem a vontade.
Me ajuda, me diz o que eu tenho, me diz como resolver, me diz o que tomar.
Apoio a cabeça na mão, incerta - era pra eu ter aprendido isso no internato? dá pra pesquisar no google? Acho que aprendi, em algum lugar, que não posso dizer que não sei, não posso só tocar um tango argentino, mas eu quero.
Porque não sei, moço, não sei a cura pra sua dor, pra sua vontade. Eu quero saber.
Eu quero muito saber.
Mas ainda falta muito chão, tanto chão, e eu não sei por onde caminhar pra chegar lá.
Eu não sei como caminhar.
Eu não sei porque caminhar.
Se eu não me levantar, não posso te ajudar.
Não posso ajudar ninguém.
Tem a dor que dói
aguda,
aquela dor que você sente quando seu coração parte - em pedaços ou vai embora -,
quando percebe que ele não vai ligar,
nota baixa,
quando seu personagem favorito morre num filme da Marvel.
A dor de sempre,
aquela que fica ali,
quando você acorda,
enquanto escova seus dentes e bochecha com listerine,
quando você sorri,
quando você fala,
e quando oferece amor.
Tem a dor que rasga, supera os limiares, quebra recordes, prende, incha, comprime, sufoca, aparece, inesperada e fica, explode seu peito em pedacinhos de vidro que ficam presos na carne e nunca saem.
(1/4 dos pacientes não sente dor.
1/3 daqueles com dor tem apenas uma destas.
1/3 têm 2 dores.
1/3 têm 3 ou mais dores)
"A experiência da dor pode interferir com a vida social e a qualidade dos relacionamentos, mudar crenças existenciais, causar incapacidade, depressão, ansiedade"
A dor é subjetiva.
Algumas surgem num turbilhão amarelo e têm cheiro de amora, sangue e loção pós barba. Outras de terra e algumas de chocolate meio amargo.
Algumas começam de repente, algumas começam pequenas e ficam gigantes, feito um pássaro Roca.
- Em aperto, facada e também daquele jeito, sabe?, que vem assim e faz assim.
Ela não anda nunca, fica só bem aqui ó. Aqui no meio. E no canto também. Da cabeça e do quarto. Do peito, da festa, do bar. Da cidade.
De 1 a 10, eu diria que é 8, e não duvide de mim, porque dói. Dói como nunca doeu antes.
Piora quando eu acordo pela manhã e melhora quando eu sonho. Só melhora quando eu sonho.
Se tem alguma coisa que vem junto? Ai, doutora, uma vontade, uma vontade enorme. Só vontade, assim, sem rumo, grande, que parece que vai me explodir se não sair de dentro.
Eu tomo xarope, chá, um remédio aqui e outro ali, mas não passa, não passa nunca. Nem a dor, nem a vontade.
Me ajuda, me diz o que eu tenho, me diz como resolver, me diz o que tomar.
Apoio a cabeça na mão, incerta - era pra eu ter aprendido isso no internato? dá pra pesquisar no google? Acho que aprendi, em algum lugar, que não posso dizer que não sei, não posso só tocar um tango argentino, mas eu quero.
Porque não sei, moço, não sei a cura pra sua dor, pra sua vontade. Eu quero saber.
Eu quero muito saber.
Mas ainda falta muito chão, tanto chão, e eu não sei por onde caminhar pra chegar lá.
Eu não sei como caminhar.
Eu não sei porque caminhar.
Se eu não me levantar, não posso te ajudar.
Não posso ajudar ninguém.
43x09 Oceano
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Você abre os olhos, debaixo de tanta água, tudo azul-esverdeado, água movendo seus membros e seus cabelos,
e me vê.
Sorrimos, uma pra outra, velhas conhecidas.
Você agita os braços, na direção da luz, nada, batendo os pés bonitos.
Eu estendo a mão, é um instinto, não é pessoal, agarro teu pé e puxo pra baixo. Te puxo de volta pra mim, e dançamos nosso balé milenar.
Agora eu, nado, nado, eu me sinto tão perto da superfície, eu quase posso sentir a luz do sol queimar meu rosto, mas aí sinto a pressão da tua mão me agarrando pelo tornozelo, e você me puxa pra baixo.
Dançamos, enquanto a correnteza empurra e puxa, seus cabelos se movimentam de um jeito tão lindo que eu quero chorar.
Talvez eu esteja chorando, como posso saber, depois de tanto tempo?
Puxo sua mão, puxo seu corpo, e giramos, no meio do nada, onde ninguém pode nos encontrar, ninguém sabe que estamos aqui.
Você me empurra a cabeça, me usa pra tomar impulso e subir, bem alto, se afastar de mim, mas eu não deixo, você precisa ficar, precisa ficar, e eu te agarro pelas pernas enquanto você se debate tentando subir, me chuta o nariz bem forte, mas não dói, eu não sinto dor.
Você para de lutar e afunda, afunda, afunda diante dos meus olhos, com as mãos estendidas, pedindo apoio, os cabelos subindo em desespero, as unhas das mãos tão escuras, mas eu só observo você afundar
E começo a nadar
Com toda a força que ainda tenho, pernas e braços trabalhando juntos, sem parar um segundo, e eu subo, pela primeira vez em muito tempo, eu subo, chego perto da luz, tão perto que meus dedos tocam a superfície, que eu começo a me lembrar como era respirar, respirar fundo,
Quase lá
Aí, como em um filme de terror, sinto teus dedos me puxarem pela ponta dos pés, devagarinho, sem fazer força, porque nem precisa, porque você já sabe:
Não vou lutar,
só afundar.
Você abre os olhos, debaixo de tanta água, tudo azul-esverdeado, água movendo seus membros e seus cabelos,
e me vê.
Sorrimos, uma pra outra, velhas conhecidas.
Você agita os braços, na direção da luz, nada, batendo os pés bonitos.
Eu estendo a mão, é um instinto, não é pessoal, agarro teu pé e puxo pra baixo. Te puxo de volta pra mim, e dançamos nosso balé milenar.
Agora eu, nado, nado, eu me sinto tão perto da superfície, eu quase posso sentir a luz do sol queimar meu rosto, mas aí sinto a pressão da tua mão me agarrando pelo tornozelo, e você me puxa pra baixo.
Dançamos, enquanto a correnteza empurra e puxa, seus cabelos se movimentam de um jeito tão lindo que eu quero chorar.
Talvez eu esteja chorando, como posso saber, depois de tanto tempo?
Puxo sua mão, puxo seu corpo, e giramos, no meio do nada, onde ninguém pode nos encontrar, ninguém sabe que estamos aqui.
Você me empurra a cabeça, me usa pra tomar impulso e subir, bem alto, se afastar de mim, mas eu não deixo, você precisa ficar, precisa ficar, e eu te agarro pelas pernas enquanto você se debate tentando subir, me chuta o nariz bem forte, mas não dói, eu não sinto dor.
Você para de lutar e afunda, afunda, afunda diante dos meus olhos, com as mãos estendidas, pedindo apoio, os cabelos subindo em desespero, as unhas das mãos tão escuras, mas eu só observo você afundar
E começo a nadar
Com toda a força que ainda tenho, pernas e braços trabalhando juntos, sem parar um segundo, e eu subo, pela primeira vez em muito tempo, eu subo, chego perto da luz, tão perto que meus dedos tocam a superfície, que eu começo a me lembrar como era respirar, respirar fundo,
Quase lá
Aí, como em um filme de terror, sinto teus dedos me puxarem pela ponta dos pés, devagarinho, sem fazer força, porque nem precisa, porque você já sabe:
Não vou lutar,
só afundar.
43x08 Her
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Estive seguindo a mulher que amo.
Porque eu a amo, e não tem outra forma de escrevê-lo.
Eu a amo.
Ela acorda todos os dias, e eu a ouço acordar, do apartamento ao lado.
Eu a ouço colocar música pra tocar, canções alegres ou tristes, a depender do seu humor.
Eu a ouço tomar banho e imagino seu corpo nu e molhado.
Eu a ouço destrancar e trancar a porta, e seus passos ecoam no corredor e nas escadarias até desaparecerem no vento cortante da manhã, após a batida da porta de metal que nos separa do mundo lá fora.
E então eu desço.
Já estou pronto desde cedo, desde antes das 5, insone, triste, ansioso, desesperado, sóbrio de uma forma nova e intensa.
Saio sem bater a porta, e caminho sem correr.
Eu sei pra onde ela vai.
Eu sei quantos passos ela dá até o ponto de ônibus e sei que ela vai tomar um café barato e doce antes de mais nada, pra começar bem o dia.
Eu sei que ela vai se encolher quando o vento estiver forte demais, e prender os cabelos quando estiverem sujos.
Cabelos negros, brilhantes, fortes, longos, com cheiro de xampu de maracujá que eu sinto no corredor quando o banho dela leva mais do que 5 minutos.
Ela entra no ônibus, e eu entro algumas pessoas atrás, caminho até o fundo, como se ela não existisse, como se ninguém existisse.
Sacoleja o ônibus, sacoleja meu estômago com a proximidade entre nós.
Eu estou aqui.
Ela está aqui.
Alguém se levanta e ela senta, mas não sem antes olhar para os lados, à procura de alguém que precise se sentar mais do que ela.
Seus olhos quase encontram os meus, por um milésimo de segundo, mas eu desvio o olhar para algum prédio estúpido.
Ela abre o livro,
o livro que eu deixei na caixa de correio, endereçado a ela, sem dedicatória, sem remetente, nada,
e meu coração saltiteia.
Sinto minha pele queimar quando ela passa as páginas, como se eu fosse o livro, como se o livro fosse eu.
Consigo me sentar, finalmente, e fico atento às paradas, ao céu azul e limpo, pessoas nas ruas, correndo, se apressando,
sem saber o que é amor,
sem saber o que é amar.
Uma parada antes, eu desço e me apresso, corro, aproximo os metros que nos separam.
E ela está lá.
Cabelo balançando, blusa de frio fechada até o pescoço,
e os olhos,
os olhos.
Conversa com a melhor amiga, de quem já sei absolutamente tudo, enquanto eu observo, de longe. Elas riem, em alto e bom som,
e eu só quero rir também, eu só quero fazê-la rir, eu quero abraçá-la e aquecê-la, levá-la pra casa pela mão.
Eu quero saber como foi teu dia, mas você se fecha,
desaparece,
e volta com algum cara que eu torço pra não ser o mesmo de sempre,
vocês brigam e ele vai embora, mas volta.
Eu quero cozinhar pra ela,
fazer o café,
podemos até discutir política, eu te ouço discutir, eu te ouço brigar com a televisão.
As risadas morrem aos poucos, enquanto as duas entram no prédio.
Acendo um cigarro, trêmulo,
desajeitado.
Sou um maluco,
um puto psicopata desesperado, errado, completamente louco, um merda.
merda.
Olho no relógio.
Ela sai pra almoçar às 13. Faltam 5 horas.
Fico na dúvida se volto pra casa ou se espero.
Ela está bem.
Vai ficar bem.
É o que importa, certo?
Volto pra casa,
leio,
escrevo, ansioso, perturbado,
fumo,
fumo, fumo
desesperadamente.
Estou arrependido de tê-la deixado só, de tê-la deixado voltar sozinha
Qualquer coisa pode ter acontecido.
O mundo é cheio de gente ruim,
de gente doente.
Pego o celular, pego dinheiro, eu vou atrás dela,
eu preciso ver se ela está bem,
abro a porta e
ouço a porta de ferro bater.
Passos nas escadas.
Fecho a porta e prendo a respiração;
até ouvir os passos passarem pela minha porta, pararem na dela,
chave na fechadura
e eu posso respirar, com o ouvido colado na parede.
Tô ficando louco.
completamente louco.
Acendo meu último cigarro do dia,
e me sento perto da tua parede, enchendo a sala de fumaça,
pra te ouvir caminhar, e fazer o que quer que você faça,
até você dormir,
pra eu poder dormir
e sonhar com você,
dias melhores,
tua mão na minha
abrir a porta,
te encontrar no corredor,
dizer meu nome,
perguntar o teu
sair pro mundo lá fora contigo.
Nem atrás, nem na frente:
do teu lado.
Boa noite, Berenice.
Até amanhã.
Estive seguindo a mulher que amo.
Porque eu a amo, e não tem outra forma de escrevê-lo.
Eu a amo.
Ela acorda todos os dias, e eu a ouço acordar, do apartamento ao lado.
Eu a ouço colocar música pra tocar, canções alegres ou tristes, a depender do seu humor.
Eu a ouço tomar banho e imagino seu corpo nu e molhado.
Eu a ouço destrancar e trancar a porta, e seus passos ecoam no corredor e nas escadarias até desaparecerem no vento cortante da manhã, após a batida da porta de metal que nos separa do mundo lá fora.
E então eu desço.
Já estou pronto desde cedo, desde antes das 5, insone, triste, ansioso, desesperado, sóbrio de uma forma nova e intensa.
Saio sem bater a porta, e caminho sem correr.
Eu sei pra onde ela vai.
Eu sei quantos passos ela dá até o ponto de ônibus e sei que ela vai tomar um café barato e doce antes de mais nada, pra começar bem o dia.
Eu sei que ela vai se encolher quando o vento estiver forte demais, e prender os cabelos quando estiverem sujos.
Cabelos negros, brilhantes, fortes, longos, com cheiro de xampu de maracujá que eu sinto no corredor quando o banho dela leva mais do que 5 minutos.
Ela entra no ônibus, e eu entro algumas pessoas atrás, caminho até o fundo, como se ela não existisse, como se ninguém existisse.
Sacoleja o ônibus, sacoleja meu estômago com a proximidade entre nós.
Eu estou aqui.
Ela está aqui.
Alguém se levanta e ela senta, mas não sem antes olhar para os lados, à procura de alguém que precise se sentar mais do que ela.
Seus olhos quase encontram os meus, por um milésimo de segundo, mas eu desvio o olhar para algum prédio estúpido.
Ela abre o livro,
o livro que eu deixei na caixa de correio, endereçado a ela, sem dedicatória, sem remetente, nada,
e meu coração saltiteia.
Sinto minha pele queimar quando ela passa as páginas, como se eu fosse o livro, como se o livro fosse eu.
Consigo me sentar, finalmente, e fico atento às paradas, ao céu azul e limpo, pessoas nas ruas, correndo, se apressando,
sem saber o que é amor,
sem saber o que é amar.
Uma parada antes, eu desço e me apresso, corro, aproximo os metros que nos separam.
E ela está lá.
Cabelo balançando, blusa de frio fechada até o pescoço,
e os olhos,
os olhos.
Conversa com a melhor amiga, de quem já sei absolutamente tudo, enquanto eu observo, de longe. Elas riem, em alto e bom som,
e eu só quero rir também, eu só quero fazê-la rir, eu quero abraçá-la e aquecê-la, levá-la pra casa pela mão.
Eu quero saber como foi teu dia, mas você se fecha,
desaparece,
e volta com algum cara que eu torço pra não ser o mesmo de sempre,
vocês brigam e ele vai embora, mas volta.
Eu quero cozinhar pra ela,
fazer o café,
podemos até discutir política, eu te ouço discutir, eu te ouço brigar com a televisão.
As risadas morrem aos poucos, enquanto as duas entram no prédio.
Acendo um cigarro, trêmulo,
desajeitado.
Sou um maluco,
um puto psicopata desesperado, errado, completamente louco, um merda.
merda.
Olho no relógio.
Ela sai pra almoçar às 13. Faltam 5 horas.
Fico na dúvida se volto pra casa ou se espero.
Ela está bem.
Vai ficar bem.
É o que importa, certo?
Volto pra casa,
leio,
escrevo, ansioso, perturbado,
fumo,
fumo, fumo
desesperadamente.
Estou arrependido de tê-la deixado só, de tê-la deixado voltar sozinha
Qualquer coisa pode ter acontecido.
O mundo é cheio de gente ruim,
de gente doente.
Pego o celular, pego dinheiro, eu vou atrás dela,
eu preciso ver se ela está bem,
abro a porta e
ouço a porta de ferro bater.
Passos nas escadas.
Fecho a porta e prendo a respiração;
até ouvir os passos passarem pela minha porta, pararem na dela,
chave na fechadura
e eu posso respirar, com o ouvido colado na parede.
Tô ficando louco.
completamente louco.
Acendo meu último cigarro do dia,
e me sento perto da tua parede, enchendo a sala de fumaça,
pra te ouvir caminhar, e fazer o que quer que você faça,
até você dormir,
pra eu poder dormir
e sonhar com você,
dias melhores,
tua mão na minha
abrir a porta,
te encontrar no corredor,
dizer meu nome,
perguntar o teu
sair pro mundo lá fora contigo.
Nem atrás, nem na frente:
do teu lado.
Boa noite, Berenice.
Até amanhã.
43x07 Small victories
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Olho pra câmera, arrumo o cabelo, tô nervosa.
- Diz umas coisas boas sobre você. Vai lá.
-- ON --
Mas
Aperto no peito: eu não tenho nada de bom pra dizer.
Você sabe.
Por que tá me forçando a fazer isso?
Você desliga a câmera por um segundo.
- Pensa. Tem tanta coisa boa sobre você.
Tanta.
Eu consigo enumerar de 1 a 1 trimilhão, coisas ruins sobre mim.
Mas hoje não, hoje não.
Ele me encoraja a dizer, com aquela cara de preocupado, ele só quer que eu diga em voz alta, eu só preciso dizer, preciso expressar
Eu sou boa.
Meu deus,
eu sou boa.
E amada.
Mais, mais.
Eu passei na porra da prova, e não foi acaso ou destino ou chute, como eu insisto em dizer pra me desmerecer.
E eu posso até não ter ido tão bem--- (ele desliga a câmera. "Não. Não". E eu entendo, apago, volto)
Eu passei na prova.
Eu tenho estudado.
E eu me importo. Parece que não me importo, mas eu me importo.
E eu sou boa.
Eu sou boa.
Eu estava lá.
Eu consigo fazer qualquer coisa.
Foi assim que eu cheguei aqui.
Eu ouço.
Eu sou boa.
Eu sou boa.
às vezes,
eu me sinto bonita.
Eu sou boa.
E você pode não entender porque é que eu preciso tanto repetir isso pra mim mesma todos os dias, todo segundo, feito um mantra,
eu sou boa
eu sou boa
pra poder respirar,
e entender,
pra poder aceitar
(eu sou boa)
pra acreditar,
pra não deixar as vozes me enterrarem no escuro,
(eu sou boa)
não importa.
Se você soubesse o quanto é difícil entender,
prender a respiração,
ouvir o que ela diz,
dormir,
acordar,
saberia o quanto é importante ser boa.
Eu não preciso de mais nada,
só de tudo.
Só preciso ser boa.
Eu sou boa.
Eu sou boa.
Eu sou boa.
-- OFF --
Olho pra câmera, arrumo o cabelo, tô nervosa.
- Diz umas coisas boas sobre você. Vai lá.
-- ON --
Mas
Aperto no peito: eu não tenho nada de bom pra dizer.
Você sabe.
Por que tá me forçando a fazer isso?
Você desliga a câmera por um segundo.
- Pensa. Tem tanta coisa boa sobre você.
Tanta.
Eu consigo enumerar de 1 a 1 trimilhão, coisas ruins sobre mim.
Mas hoje não, hoje não.
Ele me encoraja a dizer, com aquela cara de preocupado, ele só quer que eu diga em voz alta, eu só preciso dizer, preciso expressar
Eu sou boa.
Meu deus,
eu sou boa.
E amada.
Mais, mais.
Eu passei na porra da prova, e não foi acaso ou destino ou chute, como eu insisto em dizer pra me desmerecer.
E eu posso até não ter ido tão bem--- (ele desliga a câmera. "Não. Não". E eu entendo, apago, volto)
Eu passei na prova.
Eu tenho estudado.
E eu me importo. Parece que não me importo, mas eu me importo.
E eu sou boa.
Eu sou boa.
Eu estava lá.
Eu consigo fazer qualquer coisa.
Foi assim que eu cheguei aqui.
Eu ouço.
Eu sou boa.
Eu sou boa.
às vezes,
eu me sinto bonita.
Eu sou boa.
E você pode não entender porque é que eu preciso tanto repetir isso pra mim mesma todos os dias, todo segundo, feito um mantra,
eu sou boa
eu sou boa
pra poder respirar,
e entender,
pra poder aceitar
(eu sou boa)
pra acreditar,
pra não deixar as vozes me enterrarem no escuro,
(eu sou boa)
não importa.
Se você soubesse o quanto é difícil entender,
prender a respiração,
ouvir o que ela diz,
dormir,
acordar,
saberia o quanto é importante ser boa.
Eu não preciso de mais nada,
só de tudo.
Só preciso ser boa.
Eu sou boa.
Eu sou boa.
Eu sou boa.
-- OFF --
43x06 Cabeça cheia
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Imagem: TingTing Huang
Acordei, ansiosa.
Vontade de escrever.
Faz tempo que não acontece. Acordar assim, com essa vontade, essa sede de letras. Pegar um livro, levar pra ler, mesmo sabendo que não dá, um calor no corpo, uma taquicardia estranha.
Sou eu.
Eu tô aqui, eu acordei de algum lugar absurdo onde eu estive nos últimos anos, nos últimos 5 anos.
Minhas solas dos pés tocam o chão devagar, acordando tudo na cerâmica gelada.
Eu sonhei com Holden. Estranho, ele tocava minhas costas enquanto eu dormia e era bom, como um daqueles sonhos antigos com sensações, era bom e simples.
Sonhei com minha avó, ela vestia dourado e toda a luz do mundo parecia se concentrar nela.
Quero acreditar que isso é um bom sinal. Que quer dizer que ela está bem. De volta a casa, deusa africana, mãe de Anansi, avó de uma mulher de metal e ossos, meio Hulder, meio aranha.
A vontade foi passando no decorrer do dia, tem tanta coisa pra ver, pra fazer, pra estudar, e tudo vai sufocando aos pouquinhos a vontade de pegar a caneta, emudecendo os sussurros e as risadas dos meus amores, Otto, meu Otto, e eu sinto que desperdicei tanto tempo, tanta vida, tantas vidas.
Mas tá na hora de arrumar o guarda roupa. Botar a roupa pra lavar. Arrumar a mochila, pensar no dia de amanhã. E depois. E depois.
Tem tanta coisa pra fazer, mensagens, desculpas, leituras, mas não tem paixão, não tem eu, não tem aquela vontade imensa de varar a madrugada escrevendo sem parar, sem descansar, só uma palavra seguindo a outra.
E eu repito pra mim mesma, não se deixe ir. Não se esqueça de quem você é. Não deixe que eles te façam esquecer.
Mas eu já me sinto diferente. Já não sujo as mãos de tinta, nem uso carvão pra desenhar.
Quero filhos, não amores platônicos. Quero doar minhas roupas e arrumar um emprego. Quero dormir. Quero ignorar.
Minha cabeça tá cheia demais, tão cheia que não consigo ouvir os uivos, as cordas açoitando o ar, ou o silêncio por trás das palavras de quem se ama.
E eu quero ouvir. Eu quero ouvir,
mas não sei mais como se faz.
Não sei mais como desligar os sons da vida.
E eu quero desligar,
eu quero sair e pisar na grama,
eu quero a solidão de estar com um milhão de pessoas.
Mas hoje não dá.
Amanhã tem aula.
Acordei, ansiosa.
Vontade de escrever.
Faz tempo que não acontece. Acordar assim, com essa vontade, essa sede de letras. Pegar um livro, levar pra ler, mesmo sabendo que não dá, um calor no corpo, uma taquicardia estranha.
Sou eu.
Eu tô aqui, eu acordei de algum lugar absurdo onde eu estive nos últimos anos, nos últimos 5 anos.
Minhas solas dos pés tocam o chão devagar, acordando tudo na cerâmica gelada.
Eu sonhei com Holden. Estranho, ele tocava minhas costas enquanto eu dormia e era bom, como um daqueles sonhos antigos com sensações, era bom e simples.
Sonhei com minha avó, ela vestia dourado e toda a luz do mundo parecia se concentrar nela.
Quero acreditar que isso é um bom sinal. Que quer dizer que ela está bem. De volta a casa, deusa africana, mãe de Anansi, avó de uma mulher de metal e ossos, meio Hulder, meio aranha.
A vontade foi passando no decorrer do dia, tem tanta coisa pra ver, pra fazer, pra estudar, e tudo vai sufocando aos pouquinhos a vontade de pegar a caneta, emudecendo os sussurros e as risadas dos meus amores, Otto, meu Otto, e eu sinto que desperdicei tanto tempo, tanta vida, tantas vidas.
Mas tá na hora de arrumar o guarda roupa. Botar a roupa pra lavar. Arrumar a mochila, pensar no dia de amanhã. E depois. E depois.
Tem tanta coisa pra fazer, mensagens, desculpas, leituras, mas não tem paixão, não tem eu, não tem aquela vontade imensa de varar a madrugada escrevendo sem parar, sem descansar, só uma palavra seguindo a outra.
E eu repito pra mim mesma, não se deixe ir. Não se esqueça de quem você é. Não deixe que eles te façam esquecer.
Mas eu já me sinto diferente. Já não sujo as mãos de tinta, nem uso carvão pra desenhar.
Quero filhos, não amores platônicos. Quero doar minhas roupas e arrumar um emprego. Quero dormir. Quero ignorar.
Minha cabeça tá cheia demais, tão cheia que não consigo ouvir os uivos, as cordas açoitando o ar, ou o silêncio por trás das palavras de quem se ama.
E eu quero ouvir. Eu quero ouvir,
mas não sei mais como se faz.
Não sei mais como desligar os sons da vida.
E eu quero desligar,
eu quero sair e pisar na grama,
eu quero a solidão de estar com um milhão de pessoas.
Mas hoje não dá.
Amanhã tem aula.
43x05 A mulher mais bonita da cidade
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Era uma vez uma mulher, a mulher mais bonita da cidade.
E também a mais friorenta.
Ela tinha o sorriso mais bonito do mundo inteiro.
E tinha nascido em fevereiro.
Fazia mágica com as panelas, mágica que só ela conseguia fazer, que ninguém nunca vai conseguir copiar.
Doce de pauzinho.
Ela costumava se sentar na sua poltrona, feito uma matrona, uma rainha, e ouvir gente de todo o mundo contar problemas e discutir besteiras.
E me deixava sentar do seu lado e segurar sua mão, colocava a mão em cima da minha e me dava um sorriso de quem sabe de tudo o que há pra saber.
Ela sabia quem eu era, mesmo quando eu não sabia.
Sabia bem o que queria e o que não queria, contrariando ordens, contrariando homens e mulheres, sem distinção.
Teimosa e incrível, de um jeito que eu nunca vou ser, ela venceu a todos, venceu a raiva, o machismo e acho que até a morte, que provavelmente vinha de vez em quando pra se sentar no sofá e assistir novelas, comer peta e apreciar o jardim.
Ela distribuiu tanto amor, tanto amor, que não coube na gente, que a gente teve que sair por aí distribuindo também, tanto amor que não coube na família, que tivemos que espalhar e fomos agregando tanta gente que mal cabe nos lugares.
Ela me amava.
Ela me amava.
E eu quero, mais do que tudo, que haja algo de bom lá pra frente.
Que ela não esteja sozinha.
Que seja bem recebida, do jeito que ela merece.
Que haja um lugar pra sentar e assistir TV.
Que não seja frio.
Que ela possa cozinhar.
Que haja gente pra conversar.
E mãos pra segurar.
Quero que não seja escuro, que seja bonito.
E seguro.
Por favor, que seja seguro.
Era uma vez uma mulher incrível,
que deu origem a uma família incrível e cuidou dela por trimilhões de anos.
Ela era forte e incrível e linda, e mil coisas que eu nem sei, que eu não tive tempo de saber, que eu queria ter perguntado e agora não posso mais, porque nossos dias são contados.
Mas acho que o que importa é que eu a amava.
E ela me amava.
O resto a gente conserta um dia,
se houver um dia.
Amo você, vó.
Espero que a gente se encontre de novo, em um lugar especial e lindo,
do jeito que a senhora merece.
Era uma vez uma mulher, a mulher mais bonita da cidade.
E também a mais friorenta.
Ela tinha o sorriso mais bonito do mundo inteiro.
E tinha nascido em fevereiro.
Fazia mágica com as panelas, mágica que só ela conseguia fazer, que ninguém nunca vai conseguir copiar.
Doce de pauzinho.
Ela costumava se sentar na sua poltrona, feito uma matrona, uma rainha, e ouvir gente de todo o mundo contar problemas e discutir besteiras.
E me deixava sentar do seu lado e segurar sua mão, colocava a mão em cima da minha e me dava um sorriso de quem sabe de tudo o que há pra saber.
Ela sabia quem eu era, mesmo quando eu não sabia.
Sabia bem o que queria e o que não queria, contrariando ordens, contrariando homens e mulheres, sem distinção.
Teimosa e incrível, de um jeito que eu nunca vou ser, ela venceu a todos, venceu a raiva, o machismo e acho que até a morte, que provavelmente vinha de vez em quando pra se sentar no sofá e assistir novelas, comer peta e apreciar o jardim.
Ela distribuiu tanto amor, tanto amor, que não coube na gente, que a gente teve que sair por aí distribuindo também, tanto amor que não coube na família, que tivemos que espalhar e fomos agregando tanta gente que mal cabe nos lugares.
Ela me amava.
Ela me amava.
E eu quero, mais do que tudo, que haja algo de bom lá pra frente.
Que ela não esteja sozinha.
Que seja bem recebida, do jeito que ela merece.
Que haja um lugar pra sentar e assistir TV.
Que não seja frio.
Que ela possa cozinhar.
Que haja gente pra conversar.
E mãos pra segurar.
Quero que não seja escuro, que seja bonito.
E seguro.
Por favor, que seja seguro.
Era uma vez uma mulher incrível,
que deu origem a uma família incrível e cuidou dela por trimilhões de anos.
Ela era forte e incrível e linda, e mil coisas que eu nem sei, que eu não tive tempo de saber, que eu queria ter perguntado e agora não posso mais, porque nossos dias são contados.
Mas acho que o que importa é que eu a amava.
E ela me amava.
O resto a gente conserta um dia,
se houver um dia.
Amo você, vó.
Espero que a gente se encontre de novo, em um lugar especial e lindo,
do jeito que a senhora merece.
43x04 Nothingness
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Mas você está triste?
Não.
Eu não sinto nada.
Absolutamente nada.
De manhã, eu rio. Faço piadas, faço meu trabalho, faço fofocas, eu me importo.
Eu como. 5 vezes ao dia.
Eu beijo. Eu amo, com todo o meu coração.
Eu cuido. Eu sou boa em cuidar.
Cuido toda hora.
E eu rio.
Eu estudo, eu entendo, eu leio, eu assisto.
Mas não sinto nada.
Nem ansiedade,
nem tristeza,
nem alegria.
Acordo cedo, o celular transbordando de mensagens sobre uma boa notícia. ótima notícia.
Viro pro lado e durmo.
Durmo sem dormir, os sonhos coloridos, intensos, morte, medo, raiva, sensações que eu não sinto ao acordar.
Como uma banana.
Dirijo no escuro.
Consolo um amigo.
Mas não sinto nada.
Nem medo, nem raiva, nem dor.
"mas você tem que sentir alguma coisa", ele diz, ela diz.
Mas eu não quero.
Vocês não entendem,
eu não quero.
Eu quero viver no limbo, no nada,
no escuro,
uma linha reta cortando o monitor.
Eu quero ficar estável.
Quero poder voltar pra casa depois de um dia difícil e conversar com minha irmã, a pessoa mais incrível e esperta do universo, de forma tranquila.
Eu quero ouvir.
Eu quero beijar meu namorado sem chorar, prefiro nunca mais dormir uma noite inteira do que chorar pela dor de alguém que mal conheço.
Eu quero poder cumprir um dia de trabalho sem trazer tudo pra casa.
Quero poder conversar.
Quero poder dizer o que penso, sem remoer depois.
Eu quero poder me olhar no espelho pela manhã.
Eu quero não sentir nada,
pra poder aproveitar tudo.
As sensações intensas me sufocam,
me afogam no escuro de quem eu sou.
Então me deixe não sentir.
Pra que eu possa ficar bem.
Finalmente.
- Mas você está triste?
Não.
Eu não sinto nada.
Absolutamente nada.
De manhã, eu rio. Faço piadas, faço meu trabalho, faço fofocas, eu me importo.
Eu como. 5 vezes ao dia.
Eu beijo. Eu amo, com todo o meu coração.
Eu cuido. Eu sou boa em cuidar.
Cuido toda hora.
E eu rio.
Eu estudo, eu entendo, eu leio, eu assisto.
Mas não sinto nada.
Nem ansiedade,
nem tristeza,
nem alegria.
Acordo cedo, o celular transbordando de mensagens sobre uma boa notícia. ótima notícia.
Viro pro lado e durmo.
Durmo sem dormir, os sonhos coloridos, intensos, morte, medo, raiva, sensações que eu não sinto ao acordar.
Como uma banana.
Dirijo no escuro.
Consolo um amigo.
Mas não sinto nada.
Nem medo, nem raiva, nem dor.
"mas você tem que sentir alguma coisa", ele diz, ela diz.
Mas eu não quero.
Vocês não entendem,
eu não quero.
Eu quero viver no limbo, no nada,
no escuro,
uma linha reta cortando o monitor.
Eu quero ficar estável.
Quero poder voltar pra casa depois de um dia difícil e conversar com minha irmã, a pessoa mais incrível e esperta do universo, de forma tranquila.
Eu quero ouvir.
Eu quero beijar meu namorado sem chorar, prefiro nunca mais dormir uma noite inteira do que chorar pela dor de alguém que mal conheço.
Eu quero poder cumprir um dia de trabalho sem trazer tudo pra casa.
Quero poder conversar.
Quero poder dizer o que penso, sem remoer depois.
Eu quero poder me olhar no espelho pela manhã.
Eu quero não sentir nada,
pra poder aproveitar tudo.
As sensações intensas me sufocam,
me afogam no escuro de quem eu sou.
Então me deixe não sentir.
Pra que eu possa ficar bem.
Finalmente.
43x03 Everybody dies
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Imagem: TingTing Huang
Todo mundo morre.
Deuses morrem, e os Perpétuos.
Por que não eu?
Eu corro e tudo o que ouço é o som dos meus pés batendo no cascalho.
Eu corro pra você.
Não morra, não morra, tenho tanto pra dizer.
Mas não consigo reunir as palavras, eu não consigo te dizer o quanto eu te amo, eu não consigo te contar histórias ou te abraçar.
Todo mundo morre.
Então eu corro na sua direção, sem saber como dizer o que tá no meu coração.
O fato de que todos vamos morrer não me torna mais corajosa, me torna mais medrosa, arredia.
Mas eu corro.
Preciso de você, preciso te olhar nos olhos pra saber que vai ficar tudo bem.
Mas como posso ficar bem se eu sei, se eu sei que todo mundo morre? Que a hora chega, que ninguém pode me dizer com certeza o que vem depois?
Eu corro, corro, mas eu sempre me atraso, meu amor.
Chego a tempo de te olhar nos olhos uma última vez, mas eu queria tanto te tocar. Sentir seu cheiro de creme de frutas.
Eu não sei usar as palavras,
mas eu só quero dizer,
todo mundo morre, mas, por favor, não morra.
Volte pra mim.
Volte pra mim.
Volte pra mim, eu grito com os olhos.
E você sorri.
Meu coração para, por um segundo.
Você não tem medo, nunca teve.
Eu sempre tive.
Volte pra mim,
pra me ensinar a não ter medo, você não pode ir porque eu ainda não sei como.
Mas você vai,
e eu fico.
Adeus.
Eu sempre fico.
Todo mundo morre.
Deuses morrem, e os Perpétuos.
Por que não eu?
Eu corro e tudo o que ouço é o som dos meus pés batendo no cascalho.
Eu corro pra você.
Não morra, não morra, tenho tanto pra dizer.
Mas não consigo reunir as palavras, eu não consigo te dizer o quanto eu te amo, eu não consigo te contar histórias ou te abraçar.
Todo mundo morre.
Então eu corro na sua direção, sem saber como dizer o que tá no meu coração.
O fato de que todos vamos morrer não me torna mais corajosa, me torna mais medrosa, arredia.
Mas eu corro.
Preciso de você, preciso te olhar nos olhos pra saber que vai ficar tudo bem.
Mas como posso ficar bem se eu sei, se eu sei que todo mundo morre? Que a hora chega, que ninguém pode me dizer com certeza o que vem depois?
Eu corro, corro, mas eu sempre me atraso, meu amor.
Chego a tempo de te olhar nos olhos uma última vez, mas eu queria tanto te tocar. Sentir seu cheiro de creme de frutas.
Eu não sei usar as palavras,
mas eu só quero dizer,
todo mundo morre, mas, por favor, não morra.
Volte pra mim.
Volte pra mim.
Volte pra mim, eu grito com os olhos.
E você sorri.
Meu coração para, por um segundo.
Você não tem medo, nunca teve.
Eu sempre tive.
Volte pra mim,
pra me ensinar a não ter medo, você não pode ir porque eu ainda não sei como.
Mas você vai,
e eu fico.
Adeus.
Eu sempre fico.
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Imagem: TingTing Huang
Sinto muito.
Eu vou consertar, vou consertar.
Arranco meus cabelos com as mãos, até ouvir o couro cabeludo rasgar.
Rasgo meu rosto com as unhas.
Bato a cabeça na parede.
Pronto?
Tá tudo bem agora?
Vai ficar tudo bem se eu disser que acho que nunca vou ser feliz?
Se eu te disser que todas as conversas são vazias.
E que eu me sinto incapaz de amar e ser amada.
Se eu te disser que tem sempre algo ruim à espreita.
E que tem um vazio dentro de mim que não vai embora, nunca vai embora.
Tudo bem se eu disser que nunca me sinto parte de nada?
Se eu prometer que não consigo dizer a ninguém o que sinto,
e que tudo o que eu faço perde o significado?
Que eu sinto vontade de arrancar fora os meus olhos,
e me cortar bem fundo, abrir um buraco pra que eu possa respirar.
Me diz que vai ficar tudo bem se eu ficar sozinha,
se eu ficar mal,
se eu for mal, cada vez pior.
Me diz o que é preciso
e eu faço.
Só me diz.
Pode ficar com tudo, com todo o mundo,
todas as coisas boas
e belas.
Eu só quero me arrastar pra um canto escuro e ficar.
Pode ficar com tudo.
Você merece mais do que eu.
Sinto muito.
Eu vou consertar, vou consertar.
Arranco meus cabelos com as mãos, até ouvir o couro cabeludo rasgar.
Rasgo meu rosto com as unhas.
Bato a cabeça na parede.
Pronto?
Tá tudo bem agora?
Vai ficar tudo bem se eu disser que acho que nunca vou ser feliz?
Se eu te disser que todas as conversas são vazias.
E que eu me sinto incapaz de amar e ser amada.
Se eu te disser que tem sempre algo ruim à espreita.
E que tem um vazio dentro de mim que não vai embora, nunca vai embora.
Tudo bem se eu disser que nunca me sinto parte de nada?
Se eu prometer que não consigo dizer a ninguém o que sinto,
e que tudo o que eu faço perde o significado?
Que eu sinto vontade de arrancar fora os meus olhos,
e me cortar bem fundo, abrir um buraco pra que eu possa respirar.
Me diz que vai ficar tudo bem se eu ficar sozinha,
se eu ficar mal,
se eu for mal, cada vez pior.
Me diz o que é preciso
e eu faço.
Só me diz.
Pode ficar com tudo, com todo o mundo,
todas as coisas boas
e belas.
Eu só quero me arrastar pra um canto escuro e ficar.
Pode ficar com tudo.
Você merece mais do que eu.
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43x01 Sósia
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Imagem: TingTing Huang
Tive esse sonho: nos beijávamos.
Estranho.
Acordei com um gosto ruim na boca.
Dia longo, cinza.
Dirigi sem prestar atenção à estrada.
E ri.
Trabalhei.
Ouvindo seus problemas, resolvendo, fazendo aquilo que eu faço de melhor.
E eu sou boa.
Uma mulher me abraça,
então duas,
três,
uma mãe me diz que quer voltar pra me ver "quero me consultar com você, pode ser daqui a 6 meses".
6 meses.
Ela vai esperar 6 meses por mim.
E eu nem sou nada.
Uau.
Eu deveria estar orgulhosa,
exultante.
Mas eu não sinto nada.
Eu sou boa.
Desenho no papel. Corações e flores, uma dieta especial para bebês.
Asseguro uma avó assustada de que tá tudo bem.
Ela me aperta a mão e sacode, sacode, obrigada obrigada.
Mas eu não fiz nada.
Sorrio.
E não é mentira, eu não minto.
Ou minto?
Eu sou uma ou duas?
A pessoa que passa a manhã rindo, fazendo piadas, preocupando-se em resolver problemas, corre daqui e de lá, solicita mamografia, "mas não é nenhum incômodo, eu tô aqui pra ajudar a senhora", "estou aqui pra fazer o que for preciso, pode voltar quando quiser".
Eu sou boa.
Foda-se o escroto que me disse que me faltava empatia,
eu sou boa.
Mas isso me sufoca.
Cada acerto, cada receita, cada manhã.
O ruído da minha respiração.
RCR2T BNF sem sopros.
Tudo me sufoca, chego em casa e tiro tudo, todas as peças de roupa, abro as janelas do quarto, a porta.
Mas não consigo respirar.
E, ainda assim, amanhã cedo o celular desperta, 05:40 e 06:00, eu me levanto, escolho uma roupa impecável, prendo os cabelos, lápis e rímel, protetor solar no lugar, calço meus tênis e vou.
Sorrir,
resolver problemas,
me distrair do que quer que seja essa sensação de vazio intensa, sufocante
que é estar viva.
Tudo some,
até eu sumo
dentro das aspas da queixa principal.
Tive esse sonho: nos beijávamos.
Estranho.
Acordei com um gosto ruim na boca.
Dia longo, cinza.
Dirigi sem prestar atenção à estrada.
E ri.
Trabalhei.
Ouvindo seus problemas, resolvendo, fazendo aquilo que eu faço de melhor.
E eu sou boa.
Uma mulher me abraça,
então duas,
três,
uma mãe me diz que quer voltar pra me ver "quero me consultar com você, pode ser daqui a 6 meses".
6 meses.
Ela vai esperar 6 meses por mim.
E eu nem sou nada.
Uau.
Eu deveria estar orgulhosa,
exultante.
Mas eu não sinto nada.
Eu sou boa.
Desenho no papel. Corações e flores, uma dieta especial para bebês.
Asseguro uma avó assustada de que tá tudo bem.
Ela me aperta a mão e sacode, sacode, obrigada obrigada.
Mas eu não fiz nada.
Sorrio.
E não é mentira, eu não minto.
Ou minto?
Eu sou uma ou duas?
A pessoa que passa a manhã rindo, fazendo piadas, preocupando-se em resolver problemas, corre daqui e de lá, solicita mamografia, "mas não é nenhum incômodo, eu tô aqui pra ajudar a senhora", "estou aqui pra fazer o que for preciso, pode voltar quando quiser".
Eu sou boa.
Foda-se o escroto que me disse que me faltava empatia,
eu sou boa.
Mas isso me sufoca.
Cada acerto, cada receita, cada manhã.
O ruído da minha respiração.
RCR2T BNF sem sopros.
Tudo me sufoca, chego em casa e tiro tudo, todas as peças de roupa, abro as janelas do quarto, a porta.
Mas não consigo respirar.
E, ainda assim, amanhã cedo o celular desperta, 05:40 e 06:00, eu me levanto, escolho uma roupa impecável, prendo os cabelos, lápis e rímel, protetor solar no lugar, calço meus tênis e vou.
Sorrir,
resolver problemas,
me distrair do que quer que seja essa sensação de vazio intensa, sufocante
que é estar viva.
Tudo some,
até eu sumo
dentro das aspas da queixa principal.
42x20 Hello (Season finale)
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
.
.
.
.
.
...
Eu não consigo, não dá.
Vamos começar de novo.
Vamos começar do zero, tá bem?
Me diz como foi seu dia.
Eu peço um café.
E você batatas fritas, meu Deus já passa do meio-dia.
Bagunço o seu cabelo, como tá grande, maior do que o meu.
E você desenrola uma das minhas molinhas, pra ver se é verdade.
Senti sua falta e nem sabia que sentia tanta saudade.
Eu tô com medo - você talvez diga.
Não ouvi direito, estava checando minhas mensagens.
Medo de quê?
Fala mais alto, eu não consigo ouvir a sua voz.
E eu só quero ouvir a sua voz.
Mas você fala cada vez mais baixo, em códigos que eu não consigo desvendar,
e o mundo escurece,
você vai embora
e nem olha pra trás.
De novo,
e de novo,
e de novo.
Enquanto eu fico.
Por que você está sempre um passo a frente?
Eu posso me levantar e correr atrás de você,
firme, resoluta,
eu posso segurar seu braço,
de que é que você tem medo?
Me fala,
me grita,
me escuta.
Eu posso me levantar e correr até você,
essa é a hora,
mais uma chance,
(e se for a última?),
minhas pernas inquietas,
meus cabelos revoltos,
meu deus, e se for a última,
mas
(Como pode? Como cabe tanta coisa dentro de uma palavrinha tão pequena, tanto tempo, tantos anos, tantas palavras, tantas pessoas, tantas sensações, tanta covardia?)
E aí acaba,
como sempre acabou.
Você vai embora,
e eu fico.
Eu sempre fico.
Esperando,
esperando,
sem saber pelo quê.
.
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.
...
Eu não consigo, não dá.
Vamos começar de novo.
Vamos começar do zero, tá bem?
Me diz como foi seu dia.
Eu peço um café.
E você batatas fritas, meu Deus já passa do meio-dia.
Bagunço o seu cabelo, como tá grande, maior do que o meu.
E você desenrola uma das minhas molinhas, pra ver se é verdade.
Senti sua falta e nem sabia que sentia tanta saudade.
Eu tô com medo - você talvez diga.
Não ouvi direito, estava checando minhas mensagens.
Medo de quê?
Fala mais alto, eu não consigo ouvir a sua voz.
E eu só quero ouvir a sua voz.
Mas você fala cada vez mais baixo, em códigos que eu não consigo desvendar,
e o mundo escurece,
você vai embora
e nem olha pra trás.
De novo,
e de novo,
e de novo.
Enquanto eu fico.
Por que você está sempre um passo a frente?
Eu posso me levantar e correr atrás de você,
firme, resoluta,
eu posso segurar seu braço,
de que é que você tem medo?
Me fala,
me grita,
me escuta.
Eu posso me levantar e correr até você,
essa é a hora,
mais uma chance,
(e se for a última?),
minhas pernas inquietas,
meus cabelos revoltos,
meu deus, e se for a última,
mas
(Como pode? Como cabe tanta coisa dentro de uma palavrinha tão pequena, tanto tempo, tantos anos, tantas palavras, tantas pessoas, tantas sensações, tanta covardia?)
E aí acaba,
como sempre acabou.
Você vai embora,
e eu fico.
Eu sempre fico.
Esperando,
esperando,
sem saber pelo quê.
Early Cuts: The end of it all
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Sobre um homem:
Não me deixe morrer.
Só não me deixe morrer sozinho.
Não me deixe morrer no escuro, ao dormir.
Não deixe que me toquem sem saber quem fui, sem que respeitem minha história.
Eu fui o rei de Sabá, o pai dos dragões, eu falo a voz da chuva e, quando eu morrer, o céu vai chorar.
Eu sou o deus das formigas e eu vivo por meio das histórias dos meus filhos.
Eu sou o homem mais poderoso do mundo
e tenho medo de morrer só.
Não me deixe morrer só.
Leia histórias de ninar para que eu ouça a sua voz no caminho para o além.
Não solte a minha mão.
Sua boca já me botou em chamas, então não me deixe nunca mais seguir só no escuro.
E eu não vou te deixar.
Eu vou esperar, iluminando o caminho, cantando, pra que você não se perca.
Eu estarei lá, então não me deixe morrer sozinho.
Não tenho medo da morte, mas não suporto a ideia da solidão.
Minha hora chega e o céu já começa a escurecer. A morfina me leva devagar, me aconchega, mas não solte a minha mão.
Só mais um pouco.
Só mais um pouco.
Obrigado.
Sobre um homem:
Só não me deixe morrer sozinho.
Não me deixe morrer no escuro, ao dormir.
Não deixe que me toquem sem saber quem fui, sem que respeitem minha história.
Eu fui o rei de Sabá, o pai dos dragões, eu falo a voz da chuva e, quando eu morrer, o céu vai chorar.
Eu sou o deus das formigas e eu vivo por meio das histórias dos meus filhos.
Eu sou o homem mais poderoso do mundo
e tenho medo de morrer só.
Não me deixe morrer só.
Leia histórias de ninar para que eu ouça a sua voz no caminho para o além.
Não solte a minha mão.
Sua boca já me botou em chamas, então não me deixe nunca mais seguir só no escuro.
E eu não vou te deixar.
Eu vou esperar, iluminando o caminho, cantando, pra que você não se perca.
Eu estarei lá, então não me deixe morrer sozinho.
Não tenho medo da morte, mas não suporto a ideia da solidão.
Minha hora chega e o céu já começa a escurecer. A morfina me leva devagar, me aconchega, mas não solte a minha mão.
Só mais um pouco.
Só mais um pouco.
Obrigado.
42x19 Anything bad
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Imagem: TingTing Huang
Pego a sua mão gelada no escuro, estamos de volta, estamos de volta, full creepy horror,
e você não se lembra como aconteceu.
- Tem algo errado com seu cérebro, você me diz. Talvez seja o sangue que me sai das orelhas, talvez o fato de que tudo dói, e eu não sei como dizer.
Tudo dói.
Mas você não vai embora, porque não se sai daqui, não se vai embora.
Você limpa o sangue com os dedos brancos e cheirosos, e me recita uma poesia antiga.
Coisas ruins não acontecem com você.
Mas lá fora, tudo é ruim.
Você tá preocupado, me diz que isso não deveria acontecer, que isso tá acontecendo porque eu preciso de equilíbrio. Mas eu sou Atlas, eu preciso segurar, eu preciso aguentar, por mim e por todo mundo.
E você me diz que vai resolver.
Você vai resolver.
Lambe meus cabelos sujos de sangue, minhas orelhas, meus olhos, nariz e boca, sôfrego.
Segura meus dedos de unhas compridas e morde, mastiga, ossos, tendões e carne, um por um,você mastiga e se alimenta da minha carne, ossos, sangue, pêlos.
Eu não sinto dor, só essa sensação boa, um sono bom, como se tudo fosse embora. as vozes, as necessidades, as batidas fortes do meu coração duro. Uma sensação bizarra de que tudo está certo.
Você arranca pedaços grandes de pele e músculo, rasga meu rosto sem hesitar, e mastiga cada osso, faminto, tão faminto que eu me sinto útil.
Eu me sinto viva.
Eu sinto como se fosse a única coisa certa que fiz em muito tempo.
Come minhas vísceras, estômago e intestinos, sem parar pra respirar, e não deixa nada.
Não tem mais nada,
e é tão leve.
Você arrota, satisfeito, com a sensação de trabalho cumprido, e deita na minha cama, dorme o sonho dos justos, sem sonho,
sem culpa,
como deve ser.
Pego a sua mão gelada no escuro, estamos de volta, estamos de volta, full creepy horror,
e você não se lembra como aconteceu.
- Tem algo errado com seu cérebro, você me diz. Talvez seja o sangue que me sai das orelhas, talvez o fato de que tudo dói, e eu não sei como dizer.
Tudo dói.
Mas você não vai embora, porque não se sai daqui, não se vai embora.
Você limpa o sangue com os dedos brancos e cheirosos, e me recita uma poesia antiga.
Coisas ruins não acontecem com você.
Mas lá fora, tudo é ruim.
Você tá preocupado, me diz que isso não deveria acontecer, que isso tá acontecendo porque eu preciso de equilíbrio. Mas eu sou Atlas, eu preciso segurar, eu preciso aguentar, por mim e por todo mundo.
E você me diz que vai resolver.
Você vai resolver.
Lambe meus cabelos sujos de sangue, minhas orelhas, meus olhos, nariz e boca, sôfrego.
Segura meus dedos de unhas compridas e morde, mastiga, ossos, tendões e carne, um por um,você mastiga e se alimenta da minha carne, ossos, sangue, pêlos.
Eu não sinto dor, só essa sensação boa, um sono bom, como se tudo fosse embora. as vozes, as necessidades, as batidas fortes do meu coração duro. Uma sensação bizarra de que tudo está certo.
Você arranca pedaços grandes de pele e músculo, rasga meu rosto sem hesitar, e mastiga cada osso, faminto, tão faminto que eu me sinto útil.
Eu me sinto viva.
Eu sinto como se fosse a única coisa certa que fiz em muito tempo.
Come minhas vísceras, estômago e intestinos, sem parar pra respirar, e não deixa nada.
Não tem mais nada,
e é tão leve.
Você arrota, satisfeito, com a sensação de trabalho cumprido, e deita na minha cama, dorme o sonho dos justos, sem sonho,
sem culpa,
como deve ser.
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42x18 Teu
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Imagem: TingTing Huang
Para uma mulher que não conheci.
E silêncio, corta.
Há silêncio no mundo, no lugar onde você estava. Acho que estou gritando, mas sem abrir a boca.
Eu me lembro dos seus cabelos bagunçados pela manhã, uma textura agradável, macia, rude e forte, suas cores.
Passos firmes, fortes, diretos.
Calor.
E amor.
Agora, silêncio.
Alguém me segura, controla meus impulsos de correr até você, e eu só assisto, eu só posso assistir. Eu vim ao mundo observar.
E eu observo o tempo de um lugar que seus olhos não podem ver,
observo enquanto você se enxerga no espelho pela primeira vez.
Eu estou lá no seu primeiro beijo,
e durante a primeira vez em que você faz sexo.
Moça,
moça bonita do laço de fita
Você abre a porta,
você fecha a porta.
Dias e dias, uma vida toda pela frente.
Tem tanta luta ainda, tem tanto chão pra caminhar, e o seu irmão te abraça, desajeitado.
Não chore.
É dia, é noite,
é quando.
Eu quero poder falar, eu quero poder te salvar,
do mundo
da vida,
dos meninos malvados nas ruas.
Mas eu não sei falar, eu só sei olhar enquanto te machucam.
E eles machucam.
Tanto, tanto.
Que, mesmo sabendo que você vai se levantar, eu temo que você não se levante.
Mas você se levanta.
Linda.
Eu caminho atrás do seu rosto, debaixo as luzes neon dessa cidade misteriosa, eu quero te tocar, eu quero que você pare.
Pare.
E você para, em plena rua escura, eu e você, finalmente, nos encontrando, nos conhecendo, e eu só preciso que você volte, volte comigo, entenda o que quero dizer.
Mas você só consegue olhar nos meus olhos e ver
tudo
todas as respostas que ninguém nunca soube,
e elas machucam algo tão profundo que você só consegue fugir.
Rasga suas roupas,
você está pronto para o que há de vir.
Há luz,
e a mãe,
e seu corpo urge e pede por sua volta pra casa,
pede seu retorno ao que você realmente é.
E você foge de mim,
você corre rápido, nu,
você brilha, e o mundo responde suas perguntas com as vozes do concreto e do ar,
seus pulmões gritam,
e você simplesmente sabe.
Desculpe.
Você simplesmente sabe que todos precisam saber, mas você não sabe como ordenar as palavras, porque não são mais palavras, são sons, sons vivos, que se espalham pelo ar em forma de amor.
Eu tento te explicar,
eu tento te segurar,
mas você tem tanto a dizer.
Você entendeu tudo.
Você preencheu o vazio.
E eu quero tocar o seu rosto,
e dizer que te amei sem te conhecer,
e que eu também tive fome de você,
mas não estamos mais sozinhos.
As luzes se acendem,
e eles chegam.
Eles chegam pra te buscar.
Porque eles não podem entender, mas você pode.
E eles sentem medo.
Eu te estendo a mão,
e você me grita o segredo mais profundo do universo,
sem saber que ninguém pode te compreender.
E eu sei o que vão fazer,
porque eles já fizeram antes.
E eu já não posso mais assistir.
Eu não posso assistir seu silêncio, mulher.
Então eu caminho até um dia feliz,
você, tão bonita, e tinha tanto pra ver,
tanto pra dizer.
Eu caminho por cada um dos seus sorrisos.
E me apaixono por cada um deles.
Há silêncio no mundo, no lugar onde você esteve.
Há uma ausência profunda,
medo e dor.
Mas é o seu espaço.
É você, mulher, um grito silencioso ecoando na noite, bravura sob a luz do sol.
E nada vai fazer com que eu me esqueça.
Caminho até um dia de sol,
pra te olhar mais um vez,
só mais uma, morta de medo de esquecer seu rosto.
Mas aí percebo que não importa se eu esquecer seu rosto,
eu não posso esquecer sua luta.
Você vive em mim.
Em milhares de nós.
E, desde então, o silêncio no mundo, no lugar onde você esteve se transformou em um milhão de gritos.
Seja livre.
Seja feliz.
Adeus.
Para uma mulher que não conheci.
E silêncio, corta.
Há silêncio no mundo, no lugar onde você estava. Acho que estou gritando, mas sem abrir a boca.
Eu me lembro dos seus cabelos bagunçados pela manhã, uma textura agradável, macia, rude e forte, suas cores.
Passos firmes, fortes, diretos.
Calor.
E amor.
Agora, silêncio.
Alguém me segura, controla meus impulsos de correr até você, e eu só assisto, eu só posso assistir. Eu vim ao mundo observar.
E eu observo o tempo de um lugar que seus olhos não podem ver,
observo enquanto você se enxerga no espelho pela primeira vez.
Eu estou lá no seu primeiro beijo,
e durante a primeira vez em que você faz sexo.
Moça,
moça bonita do laço de fita
Você abre a porta,
você fecha a porta.
Dias e dias, uma vida toda pela frente.
Tem tanta luta ainda, tem tanto chão pra caminhar, e o seu irmão te abraça, desajeitado.
Não chore.
É dia, é noite,
é quando.
Eu quero poder falar, eu quero poder te salvar,
do mundo
da vida,
dos meninos malvados nas ruas.
Mas eu não sei falar, eu só sei olhar enquanto te machucam.
E eles machucam.
Tanto, tanto.
Que, mesmo sabendo que você vai se levantar, eu temo que você não se levante.
Mas você se levanta.
Linda.
Eu caminho atrás do seu rosto, debaixo as luzes neon dessa cidade misteriosa, eu quero te tocar, eu quero que você pare.
Pare.
E você para, em plena rua escura, eu e você, finalmente, nos encontrando, nos conhecendo, e eu só preciso que você volte, volte comigo, entenda o que quero dizer.
Mas você só consegue olhar nos meus olhos e ver
tudo
todas as respostas que ninguém nunca soube,
e elas machucam algo tão profundo que você só consegue fugir.
Rasga suas roupas,
você está pronto para o que há de vir.
Há luz,
e a mãe,
e seu corpo urge e pede por sua volta pra casa,
pede seu retorno ao que você realmente é.
E você foge de mim,
você corre rápido, nu,
você brilha, e o mundo responde suas perguntas com as vozes do concreto e do ar,
seus pulmões gritam,
e você simplesmente sabe.
Desculpe.
Você simplesmente sabe que todos precisam saber, mas você não sabe como ordenar as palavras, porque não são mais palavras, são sons, sons vivos, que se espalham pelo ar em forma de amor.
Eu tento te explicar,
eu tento te segurar,
mas você tem tanto a dizer.
Você entendeu tudo.
Você preencheu o vazio.
E eu quero tocar o seu rosto,
e dizer que te amei sem te conhecer,
e que eu também tive fome de você,
mas não estamos mais sozinhos.
As luzes se acendem,
e eles chegam.
Eles chegam pra te buscar.
Porque eles não podem entender, mas você pode.
E eles sentem medo.
Eu te estendo a mão,
e você me grita o segredo mais profundo do universo,
sem saber que ninguém pode te compreender.
E eu sei o que vão fazer,
porque eles já fizeram antes.
E eu já não posso mais assistir.
Eu não posso assistir seu silêncio, mulher.
Então eu caminho até um dia feliz,
você, tão bonita, e tinha tanto pra ver,
tanto pra dizer.
Eu caminho por cada um dos seus sorrisos.
E me apaixono por cada um deles.
Há silêncio no mundo, no lugar onde você esteve.
Há uma ausência profunda,
medo e dor.
Mas é o seu espaço.
É você, mulher, um grito silencioso ecoando na noite, bravura sob a luz do sol.
E nada vai fazer com que eu me esqueça.
Caminho até um dia de sol,
pra te olhar mais um vez,
só mais uma, morta de medo de esquecer seu rosto.
Mas aí percebo que não importa se eu esquecer seu rosto,
eu não posso esquecer sua luta.
Você vive em mim.
Em milhares de nós.
E, desde então, o silêncio no mundo, no lugar onde você esteve se transformou em um milhão de gritos.
Seja livre.
Seja feliz.
Adeus.
42x17 Jump, Violet, jump
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Imagem: TingTing Huang
Tô com tanto medo que não consigo dormir.
Não sinto muita fome,
nem vontade.
Tô com medo.
De algo que eu conseguiria fazer.
Ou não.
De algo que eu não quero nem tentar.
Eu tô com muito medo, apavorada, quase catatônica.
Não consigo respirar.
Tenho pesadelos.
Acordo e durmo com a mesma ideia fixa na cabeça.
Tô com medo, e não sei mais o que fazer, eu não sei como fazer, eu não sei como pensar.
Digo pra mim mesma
"Você consegue"
Mas a mulher no espelho sente medo.
E eu nem posso resolver porque não sei do que tenho medo.
Saio de casa pra me distrair,
durmo fora,
volto,
e o computador me encara, amuado.
Estudo, fingindo que não existe um contador enorme no quarto, me dizendo que tenho 3 dias pra me decidir.
Leio meu horóscopo e ele não me diz nada, ninguém pode se decidir por mim.
Mas eu não quero decidir.
Eu só não quero decidir.
Eu só quero cobrir a cabeça e desistir, mas e se eu estiver desistindo da melhor oportunidade da minha vida?
E se eu estiver deixando de lado a minha grande oportunidade?
Eu acho que tenho tanto medo de não conseguir, que não quero nem tentar.
Mas saber não me ajuda,
porque o medo continua aqui.
3 dias.
Tô com tanto medo que não consigo dormir.
Não sinto muita fome,
nem vontade.
Tô com medo.
De algo que eu conseguiria fazer.
Ou não.
De algo que eu não quero nem tentar.
Eu tô com muito medo, apavorada, quase catatônica.
Não consigo respirar.
Tenho pesadelos.
Acordo e durmo com a mesma ideia fixa na cabeça.
Tô com medo, e não sei mais o que fazer, eu não sei como fazer, eu não sei como pensar.
Digo pra mim mesma
"Você consegue"
Mas a mulher no espelho sente medo.
E eu nem posso resolver porque não sei do que tenho medo.
Saio de casa pra me distrair,
durmo fora,
volto,
e o computador me encara, amuado.
Estudo, fingindo que não existe um contador enorme no quarto, me dizendo que tenho 3 dias pra me decidir.
Leio meu horóscopo e ele não me diz nada, ninguém pode se decidir por mim.
Mas eu não quero decidir.
Eu só não quero decidir.
Eu só quero cobrir a cabeça e desistir, mas e se eu estiver desistindo da melhor oportunidade da minha vida?
E se eu estiver deixando de lado a minha grande oportunidade?
Eu acho que tenho tanto medo de não conseguir, que não quero nem tentar.
Mas saber não me ajuda,
porque o medo continua aqui.
3 dias.
42x16 Enquanto isso, aqui dentro
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Bom dia.
É tão bom acordar em um mundo onde você me ama.
Verdade, eu te digo que te amo todos os dias, e eu ouço todos os dias, mas eu não me canso, eu nunca vou me cansar.
É tão bom, incrível e belo, dormir sabendo que vai ficar tudo bem.
É tão bom me sentir inundar de sentimentos bons quando vejo uma cena de amor.
Eu amo você.
Que simplório, que comum, que clichê.
Eu amo você.
Daquele jeito como pessoas adultas que não são adultas se amam.
Sem desespero, sem dor.
Eu te amo porque te amo.
E tenho medo quando você demora a chegar em casa.
Eu te amo daquele jeito de quem pensa em comprar um guarda-roupas maior em alguns anos, de quem compra uma coisa a mais no supermercado e possui um lado da cama pra deitar.
Eu te amo de um jeito especial, bastante específico,
sem música,
sem arroubos de ódio, sem ressentimento,
eu te amo como se você fosse uma visita há muito esperada, que raramente aparece,
como se você fosse uma manhã amena, daquelas que te fazem querer ficar olhando pela janela.
Eu amo quando seguro sua mão, assim, no meio de um desespero súbito e inexplicado, e você segura de volta, de uma forma gentil que diz "olá, eu estou aqui".
Amo a forma como você olha pra mim, por favor, nunca pare de me olhar assim, nunca.
Eu me sinto como se eu fosse o ser humano mais especial do mundo.
Amo seus passos nas escadas, e o seu sono no meio da tarde,
te observar dormindo na penumbra, desejando que o tempo não passe.
Amo a familiaridade dos nossos pés descalços, e como conhecemos as distâncias no escuro.
Eu te amo tanto, que tive que escrever algo porque, mesmo nesse redemoinho de insanidade, preocupação e desrealização, eu preciso que você saiba, eu preciso que fique registrado:
eu amo você.
E isso é bom.
Entende o que eu quero dizer?
É bom.
Bom demais da conta.
Bom dia.
É tão bom acordar em um mundo onde você me ama.
Verdade, eu te digo que te amo todos os dias, e eu ouço todos os dias, mas eu não me canso, eu nunca vou me cansar.
É tão bom, incrível e belo, dormir sabendo que vai ficar tudo bem.
É tão bom me sentir inundar de sentimentos bons quando vejo uma cena de amor.
Eu amo você.
Que simplório, que comum, que clichê.
Eu amo você.
Daquele jeito como pessoas adultas que não são adultas se amam.
Sem desespero, sem dor.
Eu te amo porque te amo.
E tenho medo quando você demora a chegar em casa.
Eu te amo daquele jeito de quem pensa em comprar um guarda-roupas maior em alguns anos, de quem compra uma coisa a mais no supermercado e possui um lado da cama pra deitar.
Eu te amo de um jeito especial, bastante específico,
sem música,
sem arroubos de ódio, sem ressentimento,
eu te amo como se você fosse uma visita há muito esperada, que raramente aparece,
como se você fosse uma manhã amena, daquelas que te fazem querer ficar olhando pela janela.
Eu amo quando seguro sua mão, assim, no meio de um desespero súbito e inexplicado, e você segura de volta, de uma forma gentil que diz "olá, eu estou aqui".
Amo a forma como você olha pra mim, por favor, nunca pare de me olhar assim, nunca.
Eu me sinto como se eu fosse o ser humano mais especial do mundo.
Amo seus passos nas escadas, e o seu sono no meio da tarde,
te observar dormindo na penumbra, desejando que o tempo não passe.
Amo a familiaridade dos nossos pés descalços, e como conhecemos as distâncias no escuro.
Eu te amo tanto, que tive que escrever algo porque, mesmo nesse redemoinho de insanidade, preocupação e desrealização, eu preciso que você saiba, eu preciso que fique registrado:
eu amo você.
E isso é bom.
Entende o que eu quero dizer?
É bom.
Bom demais da conta.
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me dá aqui um beijo dá?,
this guy I love
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Imagem: TingTing Huang
Vazio.
A mãe dela bate em seu rosto com a mão tão fria que parece a chuva forte cortando a noite.
Ela acorda, no silêncio.
É noite.
É sempre noite.
Quando acorda, quando sai, quando volta.
- Eu estou triste, - ela diz, para o espelho - Eu estou feliz.
Ela está.
Trança os cabelos bem devagar enquanto a lua muda de fases, e ela abre a porta no meio da noite sem saber que dia é.
O telefone toca,
ela sai,
e come,
e beija,
e ama,
tudo tão normal, então ela dorme e acorda no meio da noite.
E a morte chama, mas ela não ouve, ela não pode conversar porque ela está.
Abre um rombo no próprio peito e quase morre sufocada, mas não dói.
E tudo bem,
porque não dói.
- Você ri do que é engraçado?
- O que é engraçado? O que é bom?
Ela morde os lábios, amarra a boca, arranha os dentes uns nos outros, tem algo. Tem algo lá dentro, crescendo, crescendo e morrendo, em desespero,
mas ela respira fundo,
busca uma distração,
mais uma,
e outra,
e outra,
e outra.
Até a sensação passar.
Então, ela dorme, no escuro, sem medo.
E acorda, no escuro,
segura.
Ela está.
Por que não pode ser o suficiente?
Vazio.
A mãe dela bate em seu rosto com a mão tão fria que parece a chuva forte cortando a noite.
Ela acorda, no silêncio.
É noite.
É sempre noite.
Quando acorda, quando sai, quando volta.
- Eu estou triste, - ela diz, para o espelho - Eu estou feliz.
Ela está.
Trança os cabelos bem devagar enquanto a lua muda de fases, e ela abre a porta no meio da noite sem saber que dia é.
O telefone toca,
ela sai,
e come,
e beija,
e ama,
tudo tão normal, então ela dorme e acorda no meio da noite.
E a morte chama, mas ela não ouve, ela não pode conversar porque ela está.
Abre um rombo no próprio peito e quase morre sufocada, mas não dói.
E tudo bem,
porque não dói.
- Você ri do que é engraçado?
- O que é engraçado? O que é bom?
Ela morde os lábios, amarra a boca, arranha os dentes uns nos outros, tem algo. Tem algo lá dentro, crescendo, crescendo e morrendo, em desespero,
mas ela respira fundo,
busca uma distração,
mais uma,
e outra,
e outra,
e outra.
Até a sensação passar.
Então, ela dorme, no escuro, sem medo.
E acorda, no escuro,
segura.
Ela está.
Por que não pode ser o suficiente?
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Acordo.
E é isso.
Abro e fecho os olhos.
Conto carneirinhos.
Mil coisas passando pela cabeça;
Náusea intensa e a cabeça girando, redemoinhos e trovões, eu no centro de tudo, do muno inteiro, sozinha, com frio; com tudo dolorido e cinza, implorando por sono, só um pouco, com medo de olhar no relógio e saber que é a hora, hora de quê?
Nem isso eu sei, meu peito rasgando com aforça das palpitações e eu sem saber o que fazer, como dormir, como voltar ao que eu era antes.
Estou velha e cinzenta, e meu corpo simplesmente não consegue comportar, meu corpo não consegue aguentar e ele me pede pra parar e dormir.
Mas eu não consigo.
Eu não consigo.
Fecho os olhos com toda a força do mundo, mas o mundo não apaga as luzes,
então eu espero as luzes da manhã chegarem, de novo e de novo,
sem saber o porquê.
às vezes, sinto medo de que meu coração exploda no meio da noite, com esse bater incessante,
sinto medo de que alguém possa ouví-lo espernear,
sinto medo
de nunca deixar de sentir medo.
Acordo.
E é isso.
Abro e fecho os olhos.
Conto carneirinhos.
Mil coisas passando pela cabeça;
Náusea intensa e a cabeça girando, redemoinhos e trovões, eu no centro de tudo, do muno inteiro, sozinha, com frio; com tudo dolorido e cinza, implorando por sono, só um pouco, com medo de olhar no relógio e saber que é a hora, hora de quê?
Nem isso eu sei, meu peito rasgando com aforça das palpitações e eu sem saber o que fazer, como dormir, como voltar ao que eu era antes.
Estou velha e cinzenta, e meu corpo simplesmente não consegue comportar, meu corpo não consegue aguentar e ele me pede pra parar e dormir.
Mas eu não consigo.
Eu não consigo.
Fecho os olhos com toda a força do mundo, mas o mundo não apaga as luzes,
então eu espero as luzes da manhã chegarem, de novo e de novo,
sem saber o porquê.
às vezes, sinto medo de que meu coração exploda no meio da noite, com esse bater incessante,
sinto medo de que alguém possa ouví-lo espernear,
sinto medo
de nunca deixar de sentir medo.
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